
Caríssimos: que Jesus guarde as minhas filhas e os meus filhos!
 
 Ao começar o mês de junho, sempre vem à nossa mente, com particular 
força, a recordação de São Josemaría, cuja memória litúrgica – 
solenidade na Prelazia – recai no dia 26. Ao meditarmos no seu exemplo 
de vida, ao relermos os seus escritos, percebemos cada vez mais as 
grandes maravilhas que Deus realiza nas almas plenamente fiéis aos seus 
desígnios. Vem-me à boca aquela exclamação da Sagrada Escritura: 
Mirábilis Deus in sanctis suis [1], como De
 
 A identificação plena com Cristo – nisto consiste a santidade – é 
atribuída de modo especial ao Espírito Santo. Agradeçamos-lhe pela ação 
com que constantemente santifica as almas. Nos dias anteriores, ao 
celebrarmos a solenidade de Pentecostes e a seguir a Santíssima 
Trindade, muitas vezes elevamos o nosso coração a esse Deus cuja vontade
 é – como escreve São Paulo – 
que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade [2].
 
 E ao mergulharmos novamente no Tempo Comum, a liturgia recorda-nos que 
nos encontramos na etapa da história intermédia entre a vinda do 
Paráclito no Pentecostes e o advento glorioso de Jesus Cristo no fim dos
 tempos. Esta é uma das verdades contidas no Credo, com a qual se 
encerra o ciclo dos mistérios referentes a Nosso Senhor. Todos os 
domingos, na Santa Missa, confessamos que o Senhor, agora sentado à 
direita do Pai, 
de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim [3].
 
 «A partir da Ascensão – explica o 
Catecismo da Igreja Católica
 –, o advento de Cristo é iminente» [4], no sentido de que pode ocorrer 
em qualquer momento. Só Deus conhece quando terá lugar este 
acontecimento que marcará o fim da história e a renovação definitiva do 
mundo. Por isso, sem alarmismos nem temores, mas com sentido de 
responsabilidade, temos de caminhar bem preparados para esse encontro 
definitivo com Jesus, que, por outro lado, se realiza para cada um de 
nós no momento da morte. De Deus viemos e para Deus vamos: no fundo, 
esta realidade é a síntese da sabedoria cristã. No entanto, como o Papa 
lamentava recentemente, 
estes 
dois polos da história são frequentemente esquecidos; e sobretudo a fé 
no retorno de Cristo e no juízo final às vezes não é tão clara e firme 
no coração dos cristãos [5].
 
 Consideremos que esse encontro definitivo do Senhor com cada um de nós é
 precedido pela sua atuação constante em cada momento da nossa vida 
cotidiana. Ainda me recordo da vivacidade com que São Josemaria lhe 
pedia para este caminhar diário: 
Mane nobíscum!
 [6], fica conosco. Dizemos-lhe isto conscientes de que temos de deixar 
que Ele atue em toda a nossa vida? Também nos estimulava a estar prontos
 para prestarmos contas a Deus em qualquer momento. Escreveu em 
Caminho: 
“Há
 de vir julgar os vivos e os mortos”, rezamos no Credo. – Oxalá não 
percas de vista esse julgamento e essa justiça e… esse Juiz [7].
 Sou testemunha de que, todos os dias, considerava pessoalmente esta 
eventualidade e se enchia de alegria; da mesma maneira deveríamos 
alegrar-nos todos os que sabemos que somos filhos de Deus. Por isso 
acrescentava: 
Será que não brilha na tua alma o desejo de que teu Pai-Deus fique contente quando tiver que julgar-te? [8].
 
 O tempo presente, a etapa da história que cabe a cada um de nós 
percorrer, «é um tempo de expectativa e de vigília» [9], em que temos de
 trabalhar com a vontade e o entusiasmo dos bons filhos para irmos 
estabelecendo na terra, com a ajuda da graça, o reino de Deus que Jesus 
Cristo levará à sua perfeição no último dia. Assim o explica o Senhor na
 parábola dos talentos, que o nosso Padre comentou em tantas ocasiões 
[10]. O Romano Pontífice recordou-o em uma das suas catequeses por 
ocasião do Ano da fé. 
A espera 
pelo retorno do Senhor é o tempo da ação (…), o tempo de fazermos render
 os dons não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os 
outros; o tempo em que devemos sempre procurar fazer que o bem cresça no
 mundo. E hoje, em particular, neste período de crise, é importante não 
nos fecharmos em nós mesmos, enterrando o nosso talento, as nossas 
riquezas espirituais, intelectuais, materiais, tudo aquilo que o Senhor 
nos deu; mas abrirmo-nos, sermos solidários, estarmos atentos ao outro [11].
 
 Minhas filhas e meus filhos, não deixemos estas recomendações caírem no
 esquecimento; esforcemo-nos para que outras pessoas – muitas! – não 
apenas as escutem, mas se esforcem para pô-las em prática. Em última 
instância, tudo se resume em permanecermos atentos, por amor a Deus, às 
necessidades dos demais, começando pelos mais próximos – pelos que se 
encontram ao nosso lado por motivos familiares, profissionais ou sociais
 –, tendo muito presente que – como escreveu São João da Cruz e o 
Catecismo
 cita – «no ocaso da nossa vida, seremos julgados quanto ao amor» [12]. O
 próprio Cristo assim o manifesta na impressionante cena do juízo final 
descrita por São Mateus [13]. Como é que servimos? Pomos alegria 
sobrenatural e humana nesses detalhes, que devem ser cotidianos?
 
 A reflexão sobre estas realidades últimas não há de ser, repito, uma 
causa de temores que paralisem a alma, mas ocasião para irmos 
retificando a nossa senda terrena, conformando-nos com o que Deus espera
 de cada um de nós. Tem de impelir-nos a 
viver
 melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e 
paciência, para que aprendamos a reconhecê-lO todos os dias nos pobres e
 nos pequenos; para que nos dediquemos ao bem e estejamos vigilantes na 
oração e no amor [14].
 
 Somos sustentados e impelidos pelo Espírito Santo, que Jesus enviou ao 
mundo após a sua ascensão gloriosa ao Céu. Consideramo-lo com alegria na
 recente solenidade de Pentecostes e confessamos a sua existência e a 
sua ação na Igreja todas as vezes em que rezamos o Credo: 
Creio
 no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho, e
 com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos 
profetas [15].
 
 Trata-se de uma verdade inacessível à razão humana, revelada por Cristo
 aos Apóstolos, que nos mostra a grandeza e a perfeição de Deus. «O Pai 
não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do 
Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi 
feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho» [16]. O 
Catecismo da Igreja Católica sintetiza esta doutrina em breves palavras: «A Unidade divina é Trina» [17].
 
 O Espírito Santo é o Amor das duas primeiras Pessoas: Amor nãocriado e 
infinito, Amor consubstancial, Amor eterno que procede da entrega mútua 
do Pai e do Filho: um mistério absolutamente sobrenatural que conhecemos
 por revelação do próprio Jesus Cristo e que nos ajuda a entender a 
grandeza do dom de amar. Fundamentados nas suas palavras, os Padres da 
Igreja e outros grandes teólogos guiados pelo Magistério esforçaram-se 
por ilustrar de algum modo – sempre no claro-escuro da fé – a divindade 
do Paráclito.
 
 Baseados no modo de conhecer e de querer próprio das criaturas humanas,
 criadas à imagem e semelhança de Deus, e nos nomes e missões atribuídos
 ao Espírito Santo na Sagrada Escritura, esses autores explicaram a sua 
processão do Pai e do Filho como Amor subsistente. Assim como Deus Pai, 
ao conhecer a sua própria Essência, gera o Filho, assim o Pai e o Filho 
se amam em um único ato de amor, eterno e infinito, que é o Espírito 
Santo.
 
 Que alegria e que paz nos deve dar a fé de nos sabermos assistidos a 
todo o momento pelo divino Paráclito! Não só acompanhados por Ele de 
fora, como um amigo afetuoso, mas como um hóspede que mora, com o Pai e 
com o Filho, na intimidade da nossa alma em graça. Ele é 
descanso no trabalho, refrigério no meio do calor, consolo no pranto [18], como reza a Igreja na sequência de Pentecostes. É a 
lux beatíssima,
 a luz bem-aventurada que penetra até o fundo da alma: ilumina-nos para 
que conheçamos Cristo melhor, fortalece-nos para segui-lO de perto 
quando os obstáculos e as contradições parecem assediar-nos, impele-nos a
 sair de nós mesmos para nos preocuparmos com os outros e levá-los a 
Deus.
 
 
A força e o poder de Deus iluminam a face da terra. O Espírito 
Santo continua assistindo a Igreja de Cristo, para que seja – sempre e 
em tudo – o sinal erguido diante das nações para anunciar à humanidade a
 benevolência e o amor de Deus (cf. Is 11, 12). Por maiores que sejam as
 nossas limitações, nós, os homens, podemos olhar com confiança para os 
céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus nos ama e nos livra dos nossos
 pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e
 a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus 
nos proporciona [19].
 
 Entre as metáforas que a Escritura utiliza para falar do Paráclito, uma
 das mais frequentes é a da água, um elemento absolutamente necessário 
para a vida natural: onde falta ou escasseia, tudo se converte em 
deserto, e os seres vivos adoecem ou morrem; manifesta uma das grandes 
riquezas que o Criador confiou aos homens para que a administrem bem, a 
serviço de todos. Na ordem sobrenatural, essa fonte de vida é o 
Paráclito. No seu colóquio com a mulher samaritana e depois na festa dos
 Tabernáculos, Jesus Cristo prometeu que daria 
água viva àqueles que acolhessem a sua palavra com fé, que poria, em todos aqueles que O buscassem, uma 
fonte de água viva que brotaria incessantemente do seu interior. São João anota que 
se referiu com isto ao Espírito que haviam de receber os que cressem nEle [20]. 
 
 O Espírito Santo chega aos cristãos como manancial inesgotável dos 
tesouros divinos. Recebemo-lO no Batismo e na Confirmação; é-nos 
conferido no sacramento da Penitência, aplicando novamente às almas os 
méritos infinitos de Cristo; é enviado às nossas almas e aos nossos 
corpos todas as vezes que recebemos a Eucaristia e os outros 
sacramentos; age na nossa consciência por meio das virtudes infusas e 
dos dons… Em uma palavra, a sua missão consiste em fazer-nos verdadeiros
 filhos de Deus e em que nos comportemos de acordo com essa dignidade. 
Ensina-nos
 a olhar com os olhos de Cristo, a viver a vida como Cristo a viveu, a 
compreender a vida como Cristo a compreendeu. Eis por que a água viva 
que é o Espírito sacia a sede da nossa vida [21].
 
 O Paráclito, Senhor e Dador de vida, que falou pelos profetas e ungiu 
Cristo para que nos comunicasse as palavras de Deus, agora continua a 
fazer que a sua voz seja ouvida na Igreja e na intimidade das almas. Por
 isso, 
viver segundo o Espírito Santo é viver de fé, de esperança,
 de caridade: é deixar que Deus tome posse de nós e mude pela raiz os 
nossos corações, para os moldar à sua medida [22]. 
Agradeçamos-lhe os cuidados que nos dispensa como um pai e uma mãe bons,
 porque isso e muito mais é o que Ele faz por cada um de nós. 
Invocamo-lO frequentemente? Renovamos, todos os dias, a decisão de 
manter a alma atenta às suas inspirações? Esforçamo-nos por segui-las 
sem opor resistência?
 
 Para tornar realidade estas aspirações, recomendo-vos que façais vossas
 umas palavras que São Josemaria escreveu nos primeiros anos da Obra: 
Vem,
 ó Espírito Santo! Ilumina o meu entendimento para conhecer os teus 
preceitos; fortalece o meu coração contra as insídias do inimigo; 
inflama a minha vontade… Ouvi a tua voz e não quero endurecer-me e 
resistir, dizendo: depois…, amanhã. Nunc cœpi! Agora!, que não seja que o amanhã me falte.
 
 Ó
 Espírito de verdade e sabedoria, Espírito de entendimento e conselho, 
Espírito de alegria e paz! Quero o que quiseres, quero porque o queres, 
quero como o quiseres, quero quando o quiseres… [23].
 
 Peçamos-lhe com toda a confiança pela Igreja e pelo Papa, pelos bispos e
 sacerdotes, por todo o povo cristão. De modo especial, roguemos-lhe por
 esta pequena parte da Igreja que é o Opus Dei, pelos seus fiéis e 
cooperadores, por todas as pessoas que se aproximam do nosso apostolado 
movidas pelo nobre desejo de servir a Deus e os outros mais e melhor. E 
que grande consolo nos é oferecido com a solenidade do Coração de Jesus e
 com a memória do Coração Imaculado de Maria! Recorramos a estes 
refúgios de paz, de amor, de alegria, de segurança.
 
 Há dois dias regressei de uma viagem à África do Sul, onde o trabalho 
da Obra vai ganhando corpo. Sabeis que me faria feliz estar em todos os 
lugares onde vivem e trabalham as minhas filhas e os meus filhos. Vou a 
cada um deles com a oração, com o sacrifício feito com gosto, com o 
oferecimento do trabalho. Uni-vos às minhas intenções e rezai por mim, 
especialmente por ocasião do meu aniversário, no próximo dia 14, para 
que, sempre e em tudo, me deixe conduzir pelo afã exclusivo de servir a 
Deus, a Igreja, as almas e todos vós com a totalidade e a alegria com 
que o nosso Padre procedeu, com a fidelidade do queridíssimo D. Álvaro e
 de todos os que nos precederam na Casa do Céu.
 
 Com todo o afeto, abençoa-vos
 
                                                                                      o vosso Padre
 
                                                                                      + Javier
 
 
 
 Roma, 1º de junho de 2013.
us é admirável nos seus santos!