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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Santa Cecília, Virgem e Mártir, rogai por nós!

Segundo uma antiga tradição, a Santa pertencia a uma das principais famílias de Roma, que acostumava vestir uma túnica de um tecido muito áspero e que tinha consagrado a Deus sua virgindade. Seus pais a comprometeram em matrimônio com um jovem chamado Valeriano, mas Cecília disse a este que ela tinha feito voto de virgindade e que se ele queria ver o anjo de Deus devia fazer-se cristão. Valeriano foi ensinado pelo Papa Urbano e foi batizado. As histórias antigas dizem que Cecília via seu anjo da guarda.


O prefeito de Roma, Almaquio, tinha proibido sepultar os cadáveres dos cristãos. Mas Valeriano e Tiburcio se dedicaram a sepultar todos os cadáveres de cristãos que encontravam. Por isso foram presos. Levados ante o prefeito, este lhes pediu que declarassem que adoravam Júpiter. Eles defenderam sua fé e morreram mártires. Em seguida a polícia prendeu Cecília e lhe exigiu que renunciasse à religião de Cristo. Ela declarou que preferia a morte que renegar a verdadeira religião. Então foi levada junto a um forno quente para sufocar com os terríveis gases que saíam dali, mas em vez de asfixiar-se ela cantava gozosa (possivelmente por isso a nomearam padroeira dos músicos). Visto que com este martírio não podiam acabar com ela, o cruel Almaquio mandou que lhe cortasse a cabeça. Em 1599 permitiram ao escultor Maderna ver o corpo incorrupto da Santa e ele fabricou uma estátua em mármore dela, que se conserva na igreja da Santa Cecília em Roma.

domingo, 21 de novembro de 2010

Homilia de Bento XVI na Missa de entrega do anel cardinalício

Senhores Cardeais,

Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!

Na Solenidade de Cristo Rei do Universo, temos a alegria de reunir-nos em torno do Altar do Senhor juntamente com os 24 novos cardeais que, ontem, eu agreguei ao Colégio Cardinalício. A esses, antes de tudo, destino a minha cordial saudação, que estendo aos outros Purpurados e a todos os Prelados presentes; da mesma forma às distintas Autoridades, aos Senhores Embaixadores, aos sacerdotes, aos religiosos e a todos os fiéis, vindos de várias partes do mundo para essa feliz circunstância, que se reveste de um forte caráter de universalidade.

Muitos de vós deveis ter notado que também o precedente Consistório Público para a criação dos Cardeais, ocorrido em novembro de 2007, foi celebrado na vigília da solenidade de Cristo Rei. Passaram-se três anos e, então, segundo o ciclo litúrgico dominical, a Palavra de Deus vem-nos ao encontro através das mesmas Leituras bíblicas, próprias desta importante festividade. Essa se coloca no último domingo do ano litúrgico e apresenta-nos, ao final do itinerário da fé, o rosto real de Cristo, como o Pantocrator na abside de uma antiga basílica. Essa coincidência convida-nos a meditar profundamente sobre o mistério do Bispo de Roma e sobre aquele, a esse ligado, dos Cardeais, à luz da singular Realeza de Jesus, nosso Senhor.

O primeiro serviço do Sucessor de Pedro é aquele da fé. No Novo testamento, Pedro torna-se "pedra" da Igreja enquanto portador do Credo: o "nós" da Igreja Inicia com o nome daquele que professou por primeiro a fé em Cristo, inicia com a sua fé; uma fé inicialmente amarga e ainda "demasiado humana", mas então, depois da Páscoa, madura e capaz de seguir a Cristo até o dom de si; madura no crer que Jesus é verdadeiramente o Rei; que o é exatamente porque permaneceu sobre a Cruz e, daquele modo, deu vida para os pecadores. No Evangelho, vê-se que todos pedem que Jesus desça da cruz. Zombavam dele, mas também é um modo de se desculpar, como quem diz: não é culpa nossa se tu estás aí sobre a cruz; é somente culpa tua, porque, se tu fosses verdadeiramente Filho de Deus, o Rei dos Judeus, tu não estarias aí, mas te salvarias descendo daquele patíbulo infame. Portanto, se permaneces ali, isso significa que tu estás errado e nós temos razão.

O drama que se desenrola sob a cruz de Jesus é um drama universal; diz respeito a todos os homens frente a Deus, que se revela por aquilo que é, isto é, Amor. Em Jesus Crucificado, a divindade é desfigurada, despojada de toda a glória visível, mas está presente e real. Somente a fé sabe reconhecê-la: a fé de Maria, que une no seu coração também essa última peça do mosaico da vida de seu Filho; Ela não vê ainda tudo, mas continua a confiar em Deus, repetindo mais uma vez com o próprio abandono "Eis a serva do Senhor" (Lc 1,38). E aí está a fé do bom ladrão: uma fé muito rudimentar, mas suficiente para assegurar-lhe a salvação: "Hoje estarás comigo no paraíso". Decisivo é aquele "comigo". Sim, é isso que o salva. Certo, o bom ladrão está sobre a cruz como Jesus, mas, sobretudo, está sobre a cruz com Jesus. E, ao contrário do outro malfeitor, e de todos os outros que o escarnecem, não pede a Jesus que desça da cruz, nem que o faça descer. Diz, ao contrário: "Lembra-te de mim quando entrares no teu reino". Vê-o na cruz, desfigurado, irreconhecível, mas, no entanto, confia-se a Ele como a um rei, antes, como ao Rei. O bom ladrão crê naquilo que está escrito na tábua sobre a testa de Jesus: "O rei dos Judeus": crê, e se entrega. Por isto está já, subitamente, no "hoje" de Deus, no paraíso, porque paraíso é isto: estar com Jesus, estar com Deus.

Aqui então, queridos Irmãos, emerge claramente a primeira e fundamental mensagem que a Palavra de Deus hoje diz a nós: a mim, Sucessor de Pedro, e a vós, Cardeais. Chama-nos a estar com Jesus, como Maria, e a não lhe pedir que desça da cruz, mas estar ali com Ele. E isso, por ocasião do nosso ministério, devemos fazê-lo não somente por nós mesmos, mas por toda a Igreja, por todo o povo de Deus. Sabemos dos Evangelhos que a cruz foi um ponto crítico da fé de Simão Pedro e dos outros Apóstolos. É claro e não podia ser diferente: eram homens e pensavam "segundo os homens"; não podiam tolerar a ideia de um Messias Crucificado. A "conversão" de Pedro realiza-se plenamente quando renuncia ao desejar "salvar" Jesus e aceita ser salvo por Ele. Renuncia ao desejar salvar Jesus da cruz e aceita ser salvo pela sua cruz. "Eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos" (Lc 22,32), diz o Senhor. O ministério de Pedro consiste todo na sua fé, uma fé que Jesus reconhece prontamente, desde o início, como genuína, como dom do Pai celeste; mas uma fé que deve passar através do escândalo da cruz, para tornar-se autêntica, verdadeiramente "cristã", para tornar-se "pedra" sobre a qual Jesus possa constituir a sua Igreja. A participação no Senhorio de Cristo verifica-se concretamente somente na partilha com a sua base, com a Cruz. Também o meu ministério, queridos irmãos, e por consequência também o vosso, consiste todo na fé. Jesus pode construir sobre nós a sua Igreja tanto quanto encontra em nós aquela fé verdadeira, pascal, aquela fé que não deseja fazer Jesus descer da Cruz, mas confia-se a Ele sobre a Cruz. Nesse sentido, o lugar autêntico do Vigário de Cristo é a Cruz, persistir na obediência da Cruz.

É difícil esse ministério, porque não se alinha com o modo de pensar dos homens – àquela lógica natural que permanece sempre ativa também em nós mesmos. Mas isso é e permanece sempre o nosso primeiro serviço, o serviço da fé, que transforma toda a vida: crer que Jesus é Deus, que é Rei exatamente porque chegou até aquele ponto, porque amou-nos até o extremo. E essa realeza paradoxal, devemos testemunhá-la e anunciá-la como fez Ele, o Rei, isto é, seguindo a sua mesma estrada e esforçando-nos por adotar a sua mesma lógica, a lógica da humildade e do serviço, do grão de trigo que morrer para produzir fruto. O Papa e os Cardeais são chamados a serem profundamente unidos antes de tudo nisso: todos juntos, sob a guia do Sucessor de Pedro, devem permanecer no senhorio de Cristo, pensando e operando segundo a lógica da Cruz – e isso não é nunca fácil nem óbvio. Nisso devemos ser compactos, e isso porque o que nos une não é uma ideia, uma estratégia, mas nos une o amor de Cristo e o seu Santo Espírito. A eficácia do nosso serviço à Igreja, a Esposa de Cristo, depende essencialmente disso, da nossa fidelidade à realeza divina do Amor crucificado. Por isso, sobre o anel que vos entreguei, selo do vosso pacto nupcial com a Igreja, está representada a imagem da Crucificação. E, pelo mesmo motivo, a cor do vosso hábito alude ao sangue, símbolo da vida e do amor. O Sangue de Cristo que, segundo uma antiga iconografia, Maria recolhe do lado transpassado do Filho morto sobre a cruz; e que o apóstolo João contempla enquanto flui junto com a água, segundo as Escrituras proféticas.

Queridos Irmãos, daqui deriva a nossa sabedoria: sapientia Crucis. Sobre isso refletiu a fundo São Paulo, o primeiro a traçar um orgânico pensamento cristão, centrado exatamente sobre o paradoxo da Cruz (cf. 1Cor 1,18-25; 2,1-8). Na Carta aos Colossenses – da qual a Liturgia hodierna propõe o hino cristológico – a reflexão paulina, fecundada pela graça do Espírito, chega a um nível impressionante de síntese ao expressar uma autêntica concepção cristã de Deus e do mundo, da salvação pessoal e universal; e tudo está centrado em Cristo, Senhor dos corações, da história e do cosmo. "Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus" (Col 1,19-20). Isso, queridos Irmãos, somos sempre chamados a anunciar ao mundo: Cristo "imagem do Deus invisível", Cristo "primogênito de toda a criação" e "daqueles que ressurgiram dos mortos", porque – como escreve o Apóstolo – "ele tem o primeiro lugar em todas as coisas" (Col 1,15.18). O primado de Pedro e dos seus Sucessores está totalmente ao serviço desse primado de Jesus Cristo, único Senhor; ao serviço do seu Reino, isto é, do seu Senhorio de amor, a fim de que venha e se difunda, renove os homens e as coisas, transforma a terra e faça germinar nessa a paz e a justiça.

No interior desse projeto, que transcende a história e, ao mesmo tempo, revela-se e realiza-se nessa, encontra lugar a Igreja, "corpo" do qual Cristo é a "cabeça" (cf. Col 1,18). Na Carta aos Efésios, São Paulo fala explicitamente do senhorio de Cristo e o coloca em relação com a Igreja. Ele formula uma oração de louvor à "grandiosidade do poder de Deus", que ressuscitou Cristo e constituiu-o Senhor universal, e conclui: "E sujeitou a seus pés todas as coisas, e o constituiu chefe supremo da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche todas as coisas sob todos os aspectos" (Ef 1,22-23). A mesma palavra "plenitude", que diz respeito a Cristo, Paulo atribuiu aqui à Igreja, por participação: o corpo, de fato, participa da plenitude da Cabeça. Eis, venerados Irmãos Cardeais – e me dirijo também a todos vós, que com nós compartilhais a graça de sermos cristãos –, eis qual é a nossa alegria: aquela de participar, na Igreja, na plenitude de Cristo através da obediência da Cruz, de "participar da herança dos santos na luz", de sermos "introduzidos" no reino do Filho de Deus (cf. Col 1,12-13). Por isso nós vivemos em perene ação de graças, e também em meio às provações não diminui a alegria e a paz que Deus nos deixou, como garantia de seu Reino, que está já em meio a nós, que esperamos com fé e esperança, e antecipamos na caridade. Amém.

Dom Raymond Leo Cardeal Burke




sábado, 20 de novembro de 2010

Dom Raymundo Cardeal Damasceno




Homilia de Bento XVI no Consistório Ordinário Público

Veja a homilia do Santo Padre Bento XVI no Consistório Público Ordinário para a criação de novos Cardeais, pronunciado, na Basílica Vaticana, neste sábado, 20.


Senhores Cardeais,
veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
caros irmãos e irmãs!

O senhor me doa a alegria de cumprir, agora mais uma vez, este solene ato, mediante o qual o Colégio Cardinalício se enriquece de novos Membros, escolhidos das diversas partes do mundo: tratam-se de Pastores que governam com zelo importantes comunidades diocesanas, dos departamentos da Cúria Romana, ou que serviram com exemplar fidelidade à Igreja e à Santa Sé.

De agora em diante, eles se tornam parte do coetus peculiaris, que presta ao Sucessor de Pedro uma colaboração mais imediata e assídua, sustentando-o no serviço de seu ministério universal.

Para eles, em primeiro lugar, dirijo a minha afetuosa saudação, renovando a expressão da minha estima e do minha viva apreciação pelo testemunho que rendem à Igreja e ao mundo. Em particular, saúdo o Arcebispo Angelo Amato e o agradeço pelas gentis expressões que me direcionou.

Ofereço, então, as minhas calorosas boas-vindas para as delegações oficiais de vários países, e a todos que estão aqui reunidos para participar neste evento, no qual esses veneráveis e caros Irmãos recebem o sinal da dignidade cardinalícia, com a imposição do barrete e atribuição do título de uma igreja em Roma.

O vínculo de especial comunhão e afeto, que liga esses novos Cardeais ao Papa, os tornam únicos e preciosos colaboradores do alto mandato confiada por Cristo a Pedro, de pastorar o seu rebanho (Cf. Jo 21,15-17), para reunir os povos com a solicitude da caridade de Cristo. É próprio deste amor que nasceu a Igreja, chamada a viver e caminhar segundo o mandamento do Senhor, no qual se reassume toda a Lei e as profecias. Estar unidos a Cristo na fé e em comunhão com Ele, significa estar “arraigados e alicerçados em amor” (Ef 3:17), o tecido que une todos os membros do Corpo de Cristo.

A palavra de Deus há pouco proclamada ajuda-nos a meditar sobre este aspecto tão crucial. No Evangelho (Mc 10,32-45) coloca diante de nossos olhos o ícone de Jesus como o Messias, profetizado por Isaías (cf. Isaías 53), que não veio para ser servido, mas para servir: o seu estilo de vida se torna a base dos novos relacionamentos ao interno da comunidade cristã e de um modo de exercer a autoridade.

Jesus está no caminho para Jerusalém e anuncia pelo terceira vez, indicando aos discípulos a rota pela qual se pretende implementar o trabalho dado pelo Pai: é o caminho da humildade, dom de si para o sacrifício da vida, caminho da Paixão, caminho da Cruz.

No entanto, mesmo após este anúncio, assim como foi anunciado por seus antecessores, os discípulos revelam toda a sua fadiga em compreender, em operar o necessário “exôdo” de uma mentalidade humana à uma mentalidade de Deus.

Neste caso estão os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, que pedem a Jesus de sentar nos primeiros lugares ao lado dele em sua “glória”, manifestando expectativas e projetos de grandeza, de autoridade, de honras segundo o mundo. Jesus, que conhece o coração do homem, não fica perturbado com esse pedido, mas logo coloca em luz o fluxo de profundidade: “vocês não sabem o que pedem”; depois guia os dois irmãos a compreender o que comporta segui-lo.

Qual é então o caminho que deve percorrer quem quer ser discípulo? É o caminho do Mestre, é o caminho da total obediência a Deus. Por isso, Jesus pede a Tiago e João: estão dispostos a partilhar a minha escolha para fazer a vontade plena do Pai? Estão dispostos a percorrer esta estrada que passa pelo humilhação, sofrimento e morte por amor? Os dois discípulos, com suas respostas seguras, “podemos”, mostrando, mais uma vez, não terem entendido o sentido real daquilo que promete seu Mestre.

E de novo, Jesus, com paciência, os faz dar um passo além: nem mesmo podem tomar do cálice do sofrimento e do batismo da morte dá o direito aos primeiros lugares, porque este é “para aquele que está preparado”, está nas mãos do Pai Celeste; o homem não deve calcular, deve simplesmente abandonar-se em Deus, sem pretender, conformar-se a sua vontade.

A indignação dos outros discípulos se torna ocasião para estender o ensinamento a toda comunidade. Antes de tudo, Jesus “chamou a si mesmo”: é o gesto da vocação original, no qual se convida a voltar. É muito significativo este referir-se ao momento constitutivo da vocação dos Dez em “estar com Jesus", para serem enviados, porque recorda com clareza que cada ministério eclesial é sempre resposta a um chamado de Deu. Não é jamais fruto de um projeto próprio ou de uma ambição própria, mas é conformar a própria vontade àquela do Pai que está no Céu, como Cristo em Getsêmani (Cfr Lc 22,42).

Na Igreja nenhum é patrão, mas todos são chamados, todos são convidados, todos são alcançados e guiados pela graça divina. E esta é também a nossa segurança! Basta ouvir novamente a palavra de Jesus que pede “vem e segue-me”, somente recordando a vocação original é possível entender a própria presença e a própria missão na Igreja, como autênticos discípulos.

O pedido de Tiago e João e a indicação dos outros dez Apóstolos levantam uma questão central na qual querem que Jesus responda: quem é grande, quem é o primeiro para Deus?

Primeiro, olhe para o comportamento que pode ser tomado por "aqueles que são considerados os líderes das nações": "dominar e oprimir". Jesus indica aos discípulos um modo completamente diferente: “Entre vós, não é asssim”. A sua comunidade segue uma outra regra, uma outra lógica, um outro modelo: “Quem quiser ser grande entre vós será o vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós será escravo de todos”.


O critério da grandeza e primazia, segundo Deus, não é o domínio, mas o serviço. O diaconato é a lei fundamental do discípulo e da comunidade cristã, e permite-nos intuir algo da “soberania de Deus”. E Jesus indica também o ponto de referência: O Filho do homem, que veio para servir, sintetizando assim a sua missão sobre a categoria do serviço, compreendida não no sentido genérico, mas naquele concreto da Cruz, na doação total da vida como “resgaste”, como redenção para muitos, e o indica como condição para o seguir.


É a mensagem que vale aos Apóstolos, vale para toda a Igreja, vale, sobretudo, para aqueles que têm a tarefa de guiar o povo de Deus. Não é a lógica do domínio, de poder segundo os critérios humanos, mas a lógica de inclinar-se para lavar os pés, a lógica do serviço, a lógica da Cruz que é a base de cada serviço de autoridade. Em cada tempo, a Igreja se compromete a cumprir esta lógica e testemunhá-la a fim de refletir a “verdadeira soberania de Deus”, aquela do amor.

Venerados Irmãos eleitos à dignidade cardinalícia, a missão, a qual Deus vos chama hoje e que vos permite um serviço eclesial agora mais carregado de responsabilidade, requer uma vontade sempre maior de assumir o modelo do Filho de Deus, que veio em meio a nós como aquele que servir (C0fr Lc 22:25-27).

Se trata de segui-lo na sua doação de amor humilde e total à Igreja, sua esposa, sua Cruz: é sobre essa madeira que o grão de trigo, deixado cair do Pai sob o campo do mundo, morre para se tornar fruto maduro.

Por isso, requer um enraizamento ainda mais profundo e firme em Cristo. O relacionamento íntimo com Ele, que transforma sempre mais a vida de modo a poder dizer como São Paulo “não sou eu quem vive, mas Cristo em mim” (Gl 2,20); constitui a exigência primária para que o nosso serviço seja sereno e feliz e possa dar o fruto que espera Deus de nós.

Queridos irmãos e irmãs, rezem pelos novos Cardeais! Amanhã, nesta Basílica, durante a concelebração na solenidade de Cristo Rei do Universo, lhes consentirei seus anéis. Será uma nova ocasião para “louvar o Senhor , que permanece fiel para sempre” (Sl 145), como respondemos no Salmo Responsorial.

O seu Espírito sustenta os novos portadores no empenho do serviço à Igreja, segundo o Cristo da Cruz também, se necessário usque ad effusionem sanguinis, prontos sempre – como nos dizia São Pedro na leitura proclamada – a responder a qualquer um que nos pergunte a razão da esperança que está em nós (cf 1 Pd 3:15). À Maria, Mãe da Igreja, confio os novos Cardeais e seus serviços eclesiais, afim que, com ardor apostólico, possam proclamar a todos os povos o amor misericordioso de Deus. Amém.

Vestimentas dos religiosos durante a incardinação vão além do aspecto indumentário

Publicado originalmente em: Gaudium Press

Pode-se dizer que, com a Jornada de Reflexão e Oração desta sexta-feira, na qual Bento XVI se encontrou reservadamente com todos os cardeais do colégio, o Consistório Ordinário Público para a incardinação de 24 novos cardeais já teve início. Mas é mesmo somente amanhã que a cerimônia presidida pelo Papa, com a imposição do barrete e a entrega dos aneis, criará os novos purpurados para a Igreja.


Os cardeais se caracterizam por suas vestes de cor vermelho púrpura, da qual deriva a expressão com a qual são chamados, "purpurados".

Os cardeais se caracterizam por suas vestes de
cor vermelho púrpura,
da qual deriva a expressão
com a qual são chamados, "purpurados".
E para esta importante ocasião para a Igreja e os candidatos, cada um precisa estar devidamente aparamentado, seguindo os ditames e os simbolismos da "moda" cardinalícia. Mas quais são os detalhes desta "moda" - moda em um sentido litúrgico, não estético - ? Gaudium Press esteve com um dos alfaiates eclesiásticos de Roma, durante a prova da roupa do arcebispo brasileiro Dom Raymundo Damasceno Assis, um dos 24 novos cardeais.

A informação da nomeação pontifícia é dada poucos dias antes do anúncio público que acontece um mês antes da cerimônia do Consistório. Os "preconizados" são informados pela Secretaria de Estado se se encontram em Roma; caso contrário, são informados pela Nunciatura Apostólica dos próprios países. Assim, os novos nomeados têm um mês para preparar as novas roupas.

Os cardeais se caracterizam por suas vestes de cor vermelho púrpura, da qual deriva a expressão com a qual são chamados, "purpurados". A maior parte deles vai a alfaiatarias romanas, especialistas há séculos em roupas eclesiásticas. O que devem preparar? Mudam as cores das vestes corais e das batinas. Por este motivo devem mandar fazer uma nova veste coral e uma nova batina toda em vermelho, com botões forrados de seda púrpura. As roupas são 100% de lã.

O Consistório Ordinário Público, de fato, é um evento de dois dias com diversas cerimônias. No primeiro dia acontece a cerimônia de entrega dos títulos e das diaconias aos novos cardeais. É o momento no qual o Papa impõe o barrete aos novos cardeais que antes professaram a fé "diante do povo de Deus" e juraram "fidelidade e obediência ao Santo Padre e a seus sucessores". Nesse momento, os purpurados devem estar vestidos com a batina coral vermelha, com um roquete de linho com ou sem punho vermelho, murça vermelha de lã e uma cruz peitoral, presa a um cordão dourado.

No segundo dia, que geralmente é um domingo, os novos cardeais, junto a todos os membros do Colégio Cardinalício, celebram a Santa Missa presidida pelo Santo Padre com o ritual de entrega do anel cardinalício. Também nessa cerimônia os purpurados devem estar vestidos com a batina coral vermelha.

O vermelho simboliza o martírio - os cardeais são chamados ao maior serviço à Igreja dedicando a própria vida. Fazem parte da indumentária do cardeal ainda o solidéu vermelho e a faixa, também vermelha, sobre a cintura.

Aparamentados nos melhores alfaiates eclesiásticos ou não, o Brasil, a partir de amanhã, contará com 9 purpurados, entre os quais 5 eleitores.

Consistório Ordinário Público para a criação de 24 novos Cardeais.

Títulos e Diaconias dos Novos Cardeais

CONCESSÃO

DOS TÍTULOS E DAS DIACONIAS

AOS NOVOS CARDEAIS


1. Card. ANGELO AMATO, S.D.B. Diaconia de Santa Maria in Aquiro

2. S.B. ANTONIOS NAGUIB

3. Card. ROBERT SARAH   Diaconia de São João Bosco in via Tuscolana

4. Card. FRANCESCO MONTERISI   Diaconia de São Paulo alla Regola

5. Card. FORTUNATO BALDELLI   Diaconia de Santo Anselmo all’Aventino

6. Card. RAYMOND LEO BURKE   Diaconia de Santa Ágata de’ Goti

7. Card. KURT KOCH   Diaconia de Nossa Senhora do Sagrado Coração

8. Card. PAOLO SARDI  Diaconia de Santa Maria Auxiliadora in via Tuscolana

9. Card. MAURO PIACENZA   Diaconia de São Paulo nas Três Fontes

10. Card. VELASIO DE PAOLIS, C.S.  Diaconia de Jesus Bom Pastor alla Montagnola

11. Card. GIANFRANCO RAVASI   Diaconia de São Jorge in Velabro

12. Card. MEDARDO JOSEPH MAZOMBWE   Título de Santa Emerenziana a Tor Fiorenza

13. Card. RAÚL EDUARDO VELA CHIRIBOGA  Título de Santa Maria in Via

14. Card. LAURENT MONSENGWO PASINYA   Título de Santa Maria “Rainha da Paz” in Ostia Mare

15. Card. PAOLO ROMEO Título de Santa Maria Odigitria dei Siciliani

16. Card. DONALD WILLIAM WUERL Título de São Pedro in Vincoli

17. Card. RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS Título da Imaculada no Tiburtino

18. Card. KAZIMIERZ NYCZ Título dos Santos Silvestre e Martinho ai Monti

19. Card. ALBERT MALCOLM RANJITH PATABENDIGE DON Título de São Lourenço in Lucina

20. Card. REINHARD MARX Título de São Corbiniano

21. Card. JOSÉ MANUEL ESTEPA LLAURENS Título de São Gabriel Arcanjo all’Acqua Traversa

22. Card. ELIO SGRECCIA Diaconia de Santo Angelo in Pescheria

23. Card. WALTER BRANDMÜLLER Diaconia de São Juliano dei Fiamminghi

24. Card. DOMENICO BARTOLUCCI Diaconia dos Santíssimos Nomes de Jesus e Maria in via Lata

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Conheça o rito de criação dos novos cardeais na Igreja Católica

Origem: Aci digital


Ao celebrar-se neste sábado 20 de novembro o Consistório para a criação de 24 novos cardeais por parte do Papa Bento XVI, o Vatican Information Service dá ao conhecimento público o rito que seguirá o Santo Padre nesta ocasião. Com estes novos membros o Colégio Cardinalício terá 203 membros, dos quais 121 são eleitores, quer dizer, têm menos de 80 anos e portanto estão aptos para participar de um eventual conclave para escolher o seguinte Papa.


O rito começa com uma saudação litúrgica, depois da qual Bento XVI lê a fórmula de criação e proclama solenemente os nomes dos 24 novos cardeais. O primeiro deles se dirige então ao Santo Padre em nome de todos. Seguem a Liturgia da Palavra, a homilia do Papa, a profissão de fé e o juramento por parte dos novos cardeais.

Posteriormente, cada novo cardeal se aproxima do Pontífice e se ajoelha ante ele para receber o barrete cardinalício e a atribuição de um Título ou Diaconia.

O Papa coloca o barrete sobre a cabeça do novo cardeal e diz: "É vermelho como sinal da dignidade do ofício de cardeal, e significa que está preparado para atuar com fortaleza, até o ponto de derramar seu sangue pelo crescimento da fé cristã, pela paz e harmonia entre o povo de Deus, pela liberdade e a extensão da Santa Igreja Católica Romana".

O Santo Padre entrega a Bula de criação de cardeal, atribui o Título ou Diaconia de uma Igreja de Roma e intercambia o abraço da paz com os novos membros do Colégio Cardinalício. Os cardeais também intercambiam o mesmo sinal entre eles.

O rito conclui com a oração dos fiéis, a reza do Pai-Nosso e a bênção final.

No domingo, 21 de novembro, solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, o Santo Padre presidirá uma Missa concelebrada, às 9:30 a.m. na Basílica de São Pedro, com os novos cardeais durante a qual será entregue o anel cardinalício a cada um deles, "sinal da nova dignidade, de solicitude pastoral e de união mais sólida com a Sé do Apóstolo São Pedro".

Com estes 24 novos cardeais, haverá 111 cardeais europeus, 21 da América do Norte, 31 da América Latina, 17 da África, 19 da Ásia e 4 da Oceania.

Papa: Reflexão e oração com os membros do Colégio Cardinalício

Publicado em: Rádio Vaticano

O Santo Padre Bento XVI encontrou-se na manhã desta sexta-feira, na Sala do Sínodo, no Vaticano, com os membros do Colégio Cardinalício, incluindo os 24 futuros cardeais, para um momento de oração e reflexão.


O encontro teve início com a celebração da Hora Média e durante o mesmo foram abordados temas sobre "A situação da liberdade religiosa no mundo e novos desafios" e "A Liturgia na vida da Igreja hoje", apresentados pelo Secretário de Estado, Cardeal Tarcisio Bertone, e pelo Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Antonio Cañizares Llovera.

Na tarde de hoje, se realizará a celebração das vésperas que dará início aos trabalhos do Consistório.

O Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, Dom Angelo Amato, fará uma reflexão sobre os "Dez anos da Declaração Dominus Iesus", e o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal William Joseph Levada, falará sobre o tema "Resposta da Igreja aos casos de abusos sexuais" e sobre a Constituição "Anglicanorum Coetibus". (MJ)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Bento XVI: "Saúde reprodutiva" fere o ser humano

Publicado originalmente em: Aci digital

O Papa Bento XVI assinala que a chamada "saúde reprodutiva" –termo usado usualmente para incluir a anticoncepção e o aborto– a fecundação in vitro e a legalização da eutanásia, entre outras práticas, ferem o ser humano e a justiça na área da saúde que deve ser uma das prioridades dos governos e instituições internacionais.

O Papa fez esta afirmação em uma mensagem enviada ao Arcebispo Zygmunt Zimowski, presidente do Pontifício Conselho para a Pastoral da Saúde, e aos participantes da 25ª Conferência Internacional do dicastério celebrada em Roma nestes dias que teve por lema "Para um cuidado da saúde igualitária e humana, à luz da "Caritas in veritate".

O Santo Padre indica no texto que "infelizmente junto aos resultados positivos e alentadores, há opiniões e formas de pensamento" que ferem a justiça na área da saúde e o homem: "me refiro a questões como as relacionadas com a chamada ‘saúde reprodutiva’, com o recurso a técnicas artificiais de procriação que implicam a destruição de embriões, ou com a legalização da eutanásia".

Perante este cenário, afirma o Pontífice se torna necessário "o amor à justiça, a proteção da vida desde sua concepção até a morte natural, o respeito da dignidade de todo ser humano" que "devem ser sustentados e testemunhados, inclusive contra a corrente: os valores éticos fundamentais são patrimônio comum da moralidade universal e base da convivência democrática".

Bento XVI explica logo que "é necessário obrar com maior empenho em todos os níveis para que o direito à saúde seja efetivo, favorecendo o acesso às cuidados na área da saúde básica”.

"Em nossa época se assiste, por uma parte, a uma atenção à saúde que corre o risco de transformar-se em consumismo farmacológico, médico e cirúrgico, chegando a ser quase um culto do corpo, e por outra parte, à dificuldade de milhões de pessoas para ter acesso a condições de subsistência mínimas e a fármacos indispensáveis para sua cura".

Depois de ressaltar que "é importante instaurar uma verdadeira justiça distributiva que garanta a todos, sobre a base das necessidades objetivas, curas adequadas", o Papa afirma que "o mundo da saúde não pode reduzir-se às regras morais que devem governá-lo para que não se converta em desumano".

"Promove-se a justiça quando se aceita a vida do outro e se assume a responsabilidade por ele, respondendo às suas expectativas, já que nele se percebe o próprio rosto do Filho de Deus, que se fez homem por nós. A imagem divina impressa em nosso irmão funda a eminente dignidade de cada pessoa e suscita em cada um a exigência do respeito, do cuidado e do serviço".

O Papa assinala ademais que "somente se o mundo for olhado através dos olhos do Criador, que é um olhar de amor, a humanidade aprenderá a viver na terra em paz e justiça, destinando com justiça a terra e seus recursos para o bem de cada homem e cada mulher".

Finalmente, o Papa Bento XVI expressa sua esperança de que "se adote um modelo de desenvolvimento apoiado no papel central do ser humano, na promoção e participação no bem comum, na responsabilidade, na tomada de consciência sobre a necessidade de mudar o estilo de vida e na prudência, virtude que indica o que se deve fazer hoje, em previsão do que pode ocorrer amanhã".

Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo


Segundo a tradição, o martírio de São Pedro teve lugar nos jardins de Nerón no Vaticano, onde se construiu o Circo de Calígula e se afirma que foi sepultado perto daí. Alguns autores sustentam que, no ano 258, transladaram temporalmente as relíquias de São Pedro e São Pablo a uma catacumba pouco conhecida chamada São Sebastião a fim de evitar uma profanação, mas anos depois, as relíquias foram transladadas ao lugar em que se achavam antes.

No ano 323, Constantino começou a construir a basílica de São Pedro sobre o sepulcro do Apóstolo. Permaneceu idêntica por dois séculos, e pouco a pouco os Papas foram estabelecendo junto a ela, ao pé da colina Vaticano, sua residência, depois do desterro de Aviñón. Em 1506, o Papa Julho II inaugurou a nova Basílica projetada por Bramante. A construção durou 120 anos. A nova basílica de São Pedro, tal como se vê hoje, foi consagrada por Urbano VIII em 18 de novembro de 1626, e o altar maior foi construído sobre o sepulcro de Pedro.

O martírio de São Paulo aconteceu a 11 quilômetros do de São Pedro, em Aquae Salviae (atualmente Tre Fontane), na Via Ostiense. O cadáver foi sepultado a três quilômetros daí, na propriedade de uma dama chamada Lucina.

A grande Igreja de São Paulo Extramuros foi construída principalmente pelo imperador Teodosio I e o Papa São Leão Magno. Em 1823 foi consumida por um incêndio. Reconstruiu-se, fazendo uma imitação da anterior e foi consagrada pelo Papa Pio IX em 10 de dezembro de 1854, mas a data de sua comemoração se celebra neste dia, como o faz notar o Martirologio.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Santa Gertrudes, a Grande, rogai por nós!

Apresento-vos no dia da festa litúrgica de Santa Gertrudes, a catequese do Papa Bento XVI, proferida sobre a mesma.

Queridos irmãos e irmãs:


Santa Gertrudes a Grande, sobre quem eu gostaria de vos falar hoje, leva-nos também ao mosteiro de Helfta esta semana; lá nasceram algumas das obras-primas da literatura religiosa feminina latino-germânica. A esse mundo pertence Gertrudes, uma das místicas mais famosas, única mulher da Alemanha que tem o apelativo de "a Grande", por sua estatura cultural e evangélica: com a sua vida e seu pensamento, ela incidiu de forma singular na espiritualidade cristã. É uma mulher excepcional, dotada de talentos naturais particulares e de extraordinários dons da graça, de profundíssima humildade e ardente zelo pela salvação do próximo, de íntima comunhão com Deus na contemplação e disponibilidade para socorrer os necessitados.

Em Helfta se compara, por assim dizer, sistematicamente com sua mestra, Matilde de Hackeborn, de quem falei na audiência da última quarta-feira; entra em relação com Matilde de Magdeburgo, outra mística medieval; e cresce sob o cuidado maternal, doce e exigente da abadessa Gertrudes. Destas três irmãs suas, adquire tesouros de experiência e sabedoria; e os elabora em uma síntese própria, percorrendo seu itinerário religioso com confiança ilimitada no Senhor. Expressa a riqueza da espiritualidade não somente em seu mundo monástico, mas também - e sobretudo - no mundo bíblico, litúrgico, patrístico e beneditino, com um selo personalíssimo e com grande eficácia comunicativa.

Ela nasceu em 6 de janeiro de 1256, festa da Epifania, mas não se sabe nada sobre seus pais nem sobre o lugar de nascimento. Gertrudes escreve que o próprio Senhor lhe revela o sentido desse primeiro desapego seu; afirma que o Senhor teria dito: "Eu a escolhi como minha morada e me alegro porque tudo que há de belo nela é obra minha (...). Precisamente por esta razão, afastei-a de todos os seus parentes, para que ninguém a amasse por motivo de consanguinidade e eu fosse a única razão do afeto que a move" (As revelações, I, 16, Sena, 1994, p. 76-77).

Aos 5 anos, em 1261, entrou no mosteiro, como era costume naquela época, para a formação e o estudo. Lá transcorreu toda a sua existência, da qual ela mesma indica as etapas mais significativas. Em suas memórias, recorda que o Senhor a preservou com paciência generosa e infinita misericórdia, esquecendo dos anos de sua infância, adolescência e juventude, transcorridos - escreve - "em tal cegueira de mente, que eu teria sido capaz (...) de pensar, dizer ou fazer, sem nenhum remorso, o que me desse vontade, aonde quer que fosse, se Tu não tivesses me preservado, seja com um horror inerente pelo mal e uma natural inclinação ao bem, seja com a vigilância externa dos demais. Eu teria me comportado como uma pagã (...) e isso mesmo Tu querendo que, desde a infância, desde o meu quinto ano de idade, eu habitasse no santuário abençoado da religião, para ser educada entre os teus amigos mais devotos" (Ibid., II, 23 140s).

Gertrudes foi uma estudante extraordinária, aprendeu tudo o que podia aprender das ciências do Trívio e do Quadrívio; era fascinada pelo saber e se dedicou ao estudo profano com ardor e tenacidade, conseguindo êxitos escolares muito além de toda expectativa. Se não sabemos nada sobre suas origens, ela contou muito sobre suas paixões juvenis: a literatura, a música, o canto e a arte da miniatura a cativaram. Tinha um caráter forte, decidido, imediato, impulsivo; frequentemente afirmava que era negligente; reconheceu seus defeitos, pediu humildemente perdão por eles. Com humildade, pediu conselhos e orações por sua conversão. Há características do seu temperamento e defeitos que a acompanharão até o final, até o ponto de assustar algumas pessoas, que se perguntam como é possível que o Senhor a prefira tanto.

De estudante, passou a consagrar-se totalmente a Deus na vida monástica e, durante 20 anos, não aconteceu nada de extraordinário: o estudo e a oração foram sua principal atividade. Devido aos seus dons, ela se sobressaía entre suas irmãs; era tenaz em consolidar sua cultura em campos diversos. Mas, durante o Advento de 1280, começou a sentir desgosto por tudo aquilo, percebeu sua vaidade e, em 27 de janeiro de 1281, poucos dias antes da festa da Purificação de Maria, na hora das Completas, o Senhor iluminou suas densas trevas. Com suavidade e doçura, acalmou a turbação que a angustiava, turbação que Gertrudes via como um dom de Deus "para abater essa torre de vaidade e de curiosidade que - ai de mim - ainda carregando o nome e o hábito de religiosa, fui elevando com a minha soberba, e pelo menos assim, encontrar o caminho para mostrar-me tua salvação" (Ibid., II,1, p. 87).

Ela teve a visão de um jovem que a guiava para superar o emaranhado de espinhos que oprimia sua alma, estendendo-lhe a mão. Nessa mão, Gertrudes reconheceu "a preciosa marca dessas chagas que ab-rogaram todas as atas de acusação dos nossos inimigos" (Ibid., II,1, p. 89); reconheceu Aquele que sobre a cruz nos salvou com seu sangue, Jesus.

Desde aquele momento, sua vida de comunhão com o Senhor se intensificou, sobretudo nos tempos litúrgicos mais significativos - Advento, Natal, Quaresma, Páscoa, festas de Nossa Senhora - ainda quando, doente, não podia se dirigir ao coro. É o mesmo húmus litúrgico de Matilde, sua mestra, que Gertrudes, no entanto, descreve com imagens, símbolos e termos mais simples e lineares, mais realistas, com referências mais diretas à Bíblia, aos Padres, ao mundo beneditino.

Sua biógrafa indica duas direções do que poderíamos chamar de particular "conversão" sua: nos estudos, com a passagem radical dos estudos humanistas profanos aos teológicos, e na observância monástica, com a passagem da vida que ela define como negligente à vida de oração intensa, mística, com um excepcional ardor missionário. O Senhor, que a havia escolhido desde o seio materno e que desde pequena lhe fizera participar do banquete da vida monástica, volta a chamá-la, com sua graça, "das coisas externas à vida interior; e das ocupações terrenas ao amor pelas coisas espirituais". Gertrudes compreende que esteve longe d'Ele, na região da dissimilitude, como diz Santo Agostinho: de ter-se dedicado com muita avidez aos estudos liberais, à sabedoria humana, descuidando a ciência espiritual, privando-se do gosto pela verdadeira sabedoria, agora é conduzida ao monte da contemplação, onde deixa o homem velho para revestir-se do novo. "De gramática, converte-se em teóloga, com a leitura incansável dos livros sagrados que podia ter ou obter e enchia seu coração com as mais úteis e doces sentenças da Sagrada Escritura. Tinha, por isso, sempre pronta uma palavra inspirada e de edificação para satisfazer os que iam consultá-la e, ao mesmo tempo, os textos escriturísticos mais adequados para rebater qualquer opinião errônea e fazer calar seus oponentes" (Ibid., I,1, p. 25).

Gertrudes transforma tudo isso em apostolado: dedica-se a escrever e divulgar as verdades da fé com clareza e simplicidade, graça e persuasão, servindo com amor e fidelidade a Igreja, até o ponto de ser útil e bem-vinda para os teólogos e pessoas piedosas. Desta intensa atividade sua, resta-nos pouco, também devido às circunstâncias que levaram à destruição do mosteiro de Helfta. Além do "Arauto do amor divino" e "As revelações", temos os "Exercícios Espirituais", uma joia rara da literatura mística espiritual.

Na observância religiosa, nossa santa é "uma coluna firme (...), firmíssima propugnadora da justiça e da verdade", diz sua biógrafa (Ibid., I, 1, p. 26). Com as palavras e o exemplo, suscitava nos demais grande fervor. Às orações e às penitências da regra monástica, acrescentava outras com tal devoção e abandono confiado em Deus, que provocava, em quem a encontrava, a consciência de estar na presença do Senhor. E, de fato, o próprio Deus lhe dá a entender que a chamou para ser instrumento da sua graça. Deste imenso tesouro divino, Gertrudes se sentia indigna, confessou não tê-lo protegido e valorizado. Exclamou: "Ai de mim! Se Tu tivesses me dado para lembrança tua, indigna como sou, inclusive um só fio de estopa, ele deveria ser guardado com maior respeito e reverência do que eu tive por estes teus dons!" (Ibid., II,5, p. 100). Mas, reconhecendo sua pobreza e indignidade, ela adere à vontade de Deus, "porque - afirma - aproveitei tão pouco suas graças, que não posso decidir acreditar que foram concedidas somente para mim, não podendo tua eterna sabedoria ser frustrada por alguém. Faze, portanto, ó Dador de todo bem, Tu que me concedeste gratuitamente dons tão imerecidos, que, lendo este escrito, o coração de pelo menos um dos teus amigos se comova pelo pensamento de que o zelo pelas almas te levou a deixar durante tanto tempo uma joia de valor tão inestimável em meio ao lodo abominável do meu coração" (Ibid., II,5, p. 100s).

Em particular, dois favores lhe foram mais queridos que qualquer outro, como escreveu a própria Gertrudes: "Os estigmas das tuas chagas, que imprimiste em mim como joias preciosas no coração, e a profunda e saudável ferida de amor com que o marcaste. Tu me inundaste com estes dons teus de tanta alegria que, ainda que eu tivesse de viver mil anos sem nenhum consolo, nem interior nem exterior, sua lembrança bastaria para reconfortar-me, iluminar-me, encher-me de gratidão. Quiseste também introduzir-me na inestimável intimidade da tua amizade, abrindo-me de muitas formas esse sacrário nobilíssimo da tua divindade, que é o teu Coração divino (...). A esse cúmulo de benefícios, acrescentaste o de dar-me por advogada a Santíssima Virgem Maria, tua Mãe, e de ter me recomendado frequentemente seu afeto como o mais fiel dos esposos poderia recomendar à sua própria mãe sua esposa querida" (Ibid., II, 23, p. 145).

Dirigida à comunhão sem fim, concluiu sua vida terrena no dia 17 de novembro de 1301 ou 1302, aos quase 46 anos. No sétimo Exercício, o da preparação para a morte, Santa Gertrudes escreveu: "Ó Jesus, Tu que me és imensamente querido, fica sempre comigo, para que o meu coração permaneça contigo e teu amor persevere comigo sem possibilidade de divisão, e meu trânsito seja abençoado por Ti, de maneira que meu espírito, livre dos laços da carne, possa imediatamente encontrar repouso em Ti. Amém." (Esercizi, Milão, 2006, p. 148).

Parece-me óbvio que estas não são somente coisas do passado, históricas, mas que a existência de Santa Gertrudes continua sendo uma escola de vida cristã, de reto caminho, que nos mostra que o centro de uma vida feliz, de uma vida verdadeira, é a amizade com Jesus, o Senhor. E essa amizade se aprende no amor pela Sagrada Escritura, no amor pela liturgia, na fé profunda, no amor a Maria, de forma que se conheça cada vez mais realmente o próprio Deus e, assim, a verdadeira felicidade, a meta da nossa vida.

Obrigado.

Pró-vidas animam brasileiros a votarem contra o aborto dos anencéfalos na enquete da Agência Senado

Publicado em: ACI Digital

A Agência Senado informou que durante o mês de novembro, “o internauta pode opinar sobre o projeto (PLS 227/04) que permite o aborto no caso de fetos anencéfalos. A enquete sobre o tema é organizada pela Agência Senado em parceria com a Secretaria de Pesquisa e Opinião (Sepop) e pode ser acessada no lado direito da página principal do Portal de Notícias do Senado”. Por sua parte pró-vidas brasileiros pediram votar contra este projeto na enquete afirmando que o projeto “é mais uma porta que querem abrir à matança dos inocentes”.


A notícia da agência Senado explica que “o PLS 227/04, de autoria do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), altera o artigo 128 do Código Penal (Decreto-Lei 2.848/1940), que lista os casos em que "não se pune o aborto praticado por médico". O Código já prevê entre essas exceções as situações em que não há outro meio de salvar a vida da gestante e aquelas em que a gravidez resulta de estupro” e se for aprovado deixaria de ser punido no caso da criança receber um diagnóstico de anencefalia.

Segundo a agência de notícias “o projeto de lei apresentado por Mozarildo Cavalcanti exclui a punição também no caso de anencefalia, quando se identifica no feto a ausência de partes substanciais do cérebro. A falta dos hemisférios é a principal característica da anomalia. Atualmente, o PLS 227/04 tramita na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde aguarda parecer do relator, senador Edison Lobão (PMDB-MA)”.

Diante disto católicos pró-vida estão animando os brasileiros a votarem contra este projeto de legalização do assassinato dos anencéfalos no ventre materno.

“Façamos diferença votando CONTRA o Projeto”, animam os pró-vidas da Comunidade Shalom.

Para votar contra este projeto de lei acesse a página da Agência Senado em:
http://www.senado.gov.br/noticias/principal.aspx
Abaixo, no lado direito da tela (depois da coluna das últimas notícias) você poderá encontrar a enquete.

Membros do MDV (Movimento em Defesa da Vida) assinalam sobre o projeto: “Tememos que a estratégia abortista, uma vez encontrando resistências no Congresso Nacional, tente pavimentar um novo caminho para a legalização do aborto pela via do Poder Judiciário, além do que, evidentemente, não se pode eliminar uma vida só porque ela não é perfeita do ponto de vista orgânico. O nascimento do bebê Marcela de Jesus que viveu 1 ano e 8 meses é exemplo de que não se pode, a priori, determinar a morte de uma criança só porque ela é concebida com uma grave deformação. Daqui a pouco serão as crianças com “síndrome de down” ou com qualquer outra deformação física a fazer parte da lista dos seres humanos a serem eliminados ainda no ventre materno. Esperamos que os Ministros do Supremo Tribunal Federal decidam a favor da vida dos bebês anencéfalos, qualquer que seja o tempo que eles viverão depois de nascerem”.
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