Foto de Marko Vombergar/ALETEIA
Nos anos de 2007 a 2013, mais precisamente até fevereiro de 2013, quando se vivia o pontificado de Bento XVI, uma gama de presbíteros, seminaristas e leigos sob o impulso exemplar do papa da época eram motivados a empreender esforços para transformar a liturgia moderna - forma ordinária do rito romano na denominação do próprio Bento XVI - cada vez mais parecida/conectada com a liturgia antiga, isto é a então denominada forma extraordinária do rito romano.
Respirava-se naqueles anos uma expectativa de quando e como o papa celebraria algum ato litúrgico conforme as rubricas antigas (o que por si só seria algo extraordinário!), mas os anos se passavam e o seu mestre de cerimônias Guido Marini era enfático em afirmar que não havia sido requerido nada do tipo, não tendo data prevista para tal.
Muitos eram também os sacerdotes, que no afã do momento, repristinavam paramentos esquecidos, confeccionavam outros, escreviam textos na internet conclamando para o respeito ao texto conciliar e o seu correto modo de interpretação (a chamada hermenêutica da continuidade), celebravam em igrejas cada vez mais lotadas de jovens a missa antiga e pregavam pelo apelo à obediência ao papa, ao respeito à liturgia antiga e moderna, e ao estudo sério do catecismo.
Em março de 2013 com a eleição do papa Francisco, estes mesmos sacerdotes, seminaristas e leigos, acabaram por acordar de um sonho, diga-se, porque o papa já não usava rendas, nem belos paramentos, trajava somente a batina branca com cruz da cor de prata e não "rubricava" como era de se esperar de um jesuíta. Muitos destes mudaram o discurso, as vestes, os textos e alguns até mudaram a fé, aliás, deixaram a fé.
Não pretendo nestas linhas criticar o papa Francisco, mas sim apontar o que eu vi e ouvi nestes anos de internet. A bem da verdade, durante este intervalo de 2016 até hoje, eu mesmo passei por algumas mudanças. Estive a investigar os dois lados de um paralelo, como o padre Paulo Ricardo chamou, a batalha dos missais.
O que aqui busco expor brevemente é como tivemos uma guinada, de 2013 para cá, naquilo que há pouco tempo era considerado um "sopro do Espírito" ou também, como diz-se no Concílio Vaticano II, os "sinais dos tempos", de que o pontificado de Bento XVI era o início de uma reestruturação da reforma litúrgica do pós-concílio, isto é, nas palavras do mesmo papa, uma reforma da reforma.
Esta mesma reforma tinha alguns pontos visíveis, como a centralidade do crucifixo sobre o altar (a fim de minimizar a nova orientação litúrgica do sacerdote, que agora celebra versus populum), o uso do incenso, maior espaço para o canto gregoriano e para a polifonia sacra, e a primazia da beleza nas vestes, nos objetos e nos gestos litúrgicos como um todo. Talvez o erro tenha sido que esta reforma da reforma só tenha tido o apoio do papa e dos sacerdotes, mas não dos bispos, que após o final do pontificado do papa alemão puseram-se mais à vontade em muitos temas e agora são "Traditionis Custodes".
Por fim, para não alongar o que deveria ser breve, entendo que cada missal, o de 1962 e o de 1970 possui uma cultura circundante, que molda caráter e ações. Para um lado e para outro vemos conversões, vida de oração, bons testemunhos e catolicidade. Em um e em outro, há sim contradições quanto a gestos, frases e momentos, mas em ambos encontramos a fé da Igreja. É verdade, tenho que ser honesto, no missal anterior temos mais facilmente acesso ao depósito da fé, mas ainda há barreiras eclesiais para todos afirmarem isso.
Creio que voltarei a escrever sobre este assunto, principalmente comentando o efeito Traditionis Custodes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário