quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Igrejas orientais: a Igreja de tradição antioquena

A segunda grande tradição oriental é conhecida como antioquena ou siro-ocidental, compartilhada também pelas Igrejas Católica e Ortodoxa. Dentro da Igreja Católica, são três as agrupações pertencentes a este rito: a Igreja siro-católica, a Igreja maronita e a Igreja siro-malancar.


Esta tradição venerável procede da Antioquia, cidade que tem um lugar muito importante na história do cristianismo, como narram os Atos dos Apóstolos. Foi fundada, segundo a tradição, pelo próprio São Pedro. Lá, os seguidores de Cristo receberam pela primeira vez o nome de "cristãos".

Antioquia, chamada "Rainha do Oriente", foi uma das sedes dos quatro patriarcados originais, junto com Jerusalém, Alexandria e Roma. Foi também um grande centro teológico, monástico, cultural e litúrgico na Igreja antiga.

A Igreja síria se separou da com o resto da Igreja, rejeitando o Concílio de Calcedônia (451) e adotando o monofisismo, heresia que afirma que em Cristo existe apenas uma natureza, a divina.

Posteriormente, no século VI, um bispo monofisita, Jacob Baradai, enviado secretamente pela imperatriz Teoodora, organizou e estruturou a Igreja síria ortodoxa, que desde então é conhecida também como Igreja jacobita ou siro-ocidental.

Os cristãos sírios que não abraçaram o monofisismo são os melquitas, de quem falaremos no capítulo sobre a Igreja bizantina, já que abandonaram o rito siríaco. Outros cristãos que conservaram o rito siríaco, mas permaneceram católicos, são os maronitas, de quem trataremos mais adiante.

Segundo explica o especialista Juan Nadal Cañellas, o monofisismo da Igreja síria foi mais uma questão política, para atender os persas frente ao império bizantino. No entanto, nunca desembocou em proclamações heterodoxas, senão que nunca houve um cisma real no conteúdo da fé.

De fato, afirma, não foi difícil chegar a uma declaração comum, em 1984, entre o patriarca ortodoxo sírio, Ignace Zakka Ivas, e João Paulo II, na qual ambos afirmam que os "mal-entendidos e os cismas que vieram depois do Concílio de Niceia (...) não tocam o conteúdo da fé".

Ao longo dos séculos, a Igreja síria sofreu muitas perseguições, nas mãos dos bizantinos, dos árabes, dos mongóis e, finalmente, do império otomano. Este - além da emigração - é o motivo pelo qual o número de fiéis sírios é muito pequeno.

A liturgia antioquena é muito antiga, ainda que tenha muita influência bizantina. Entre outras características, são proclamadas 6 leituras (3 do Antigo e 3 do Novo Testamento); o ósculo da paz é colocado antes da consagração; a liturgia eucarística está repleta de gestos simbólicos; o Batismo é por imersão.

Igreja Católica síria

Durante a época das cruzadas, os cristãos jacobitas mantiveram boas relações com os católicos romanos e, inclusive no Concílio de Florença (1442), apresentou-se uma volta à comunhão com Roma, mas sem êxito.

Em 1656, conseguiu-se criar a primeira hierarquia reconhecida por Roma, ao ser eleito como patriarca o jacobita convertido ao catolicismo, Abdul Ahijan. No entanto, a linha hierárquica unida a Roma se interrompeu em várias ocasiões.

Em 1782, o Santo Sínodo Ortodoxo Sírio elegeu o metropolitano Miguel Jarweh como patriarca, quem se declarou católico e teve de refugiar-se no Líbano, fugindo dos ortodoxos, que elegeram outro patriarca. Com Jarweh, explica o especialista do sínodo, Pier Giorgio Gianazza, restabeleceu-se até hoje a hierarquia siro-ocidental católica.

O patriarca de Antioquia dos Sírios atualmente é Ignace Youssef III Younan, e os fiéis são cerca de 120 mil. A sede está em Beirute e sua liturgia é praticamente igual, exceto pequenos detalhes, à dos sírios ortodoxos.

Igreja maronita

Em meio às disputas cristológicas da Calcedônia, no século V, houve um monge sírio com fama de santidade, Maron, que permaneceu unido a Roma. Seus seguidores, devido às perseguições dos monofisitas, tiveram de retirar-se às montanhas do Líbano.

Esta Igreja permaneceu oculta até a chegada dos cruzados no século XII, segundo explica Nadal Cañellas. A Igreja de Roma a reconheceu sem problemas e seus representantes já participaram do Concílio Lateranense IV.

Trata-se, portanto, da única Igreja oriental que permaneceu desde sempre fiel a Roma. Devido a isso, lamenta Nadal, seu rito está muito latinizado.

Conta com cerca de 3,5 milhões de fiéis, segundo os dados da última edição do Anuário Pontifício da Igreja.

Sua cabeça atual é Pedro Sfeir de Reyfoun, com o nome de patriarca de Antioquia dos maronitas, e tem sua sede de Bkerke (Líbano). Devido à emigração, têm importantes comunidades nos Estados Unidos, México, Brasil, Canadá, Austrália e Argentina.

Igreja siro-malancar católica

Como vimos anteriormente na Igreja caldeia, os siro-orientais evangelizaram, durante os séculos VII a XIII, grande parte da Ásia Central. Daquela evangelização surgiu a Igreja siro-malabar, que, séculos mais tarde, com a chegada dos portugueses, passou a depender de Roma.

No entanto, segundo explica Nadal, em 1665, aproveitando certo vazio de poder deixado pelos portugueses, e com o desejo de preservar seu próprio rito, o arquidiácono Tomás Parambil e muitos seguidores romperam com Roma e passaram a obedecer o patriarca ortodoxo siro-ocidental.

Criou-se assim a Igreja malancar ortodoxa. No entanto, em 1930, uma parte da Igreja siro-malancar ortodoxa voltou novamente a obedecer Roma.

Esta Igreja malancar católica é presidida pelo arquieparca maior de Trivandrum, chamado de maneira informal de Catolicós, Baselios Cleemis Thottunkal. A sede está em Trivandrum (ou Thiruvananthapuram), no estado indiano de Kerala. São cerca de 340 mil fiéis.

De: Zenit

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