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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Carta do Prelado do Opus Dei para o mês de Maio

Caríssimos: que Jesus guarde as minhas filhas e os meus filhos!

Mês de maio: um tempo rico em festas litúrgicas e em aniversários da Obra. Desejamos percorrê-lo conduzidos pela mão da Virgem, nossa Mãe, que nos leva sempre ao seu Filho e, com Ele e por Ele, ao Espírito Santo e a Deus Pai. Desde agora, pedimos a Nossa Senhora que nos acompanhe muito de perto, que nos obtenha sempre graças abundantes para sermos dóceis ao Paráclito – como Ela o foi – e assim nos parecermos mais e mais com o seu Filho Jesus.

Nas semanas decorridas desde a eleição do Papa Francisco, pudemos contemplar os afãs de renovação interior que se produziram em tanta gente, porque são muitas as pessoas que manifestaram publicamente a necessidade de se aproximarem de novo ou com mais frequência do sacramento da Penitência. Agradeçamos ao Senhor estes dons cuidando, em primeiro lugar, de aproveitá-los a fundo pessoalmente, ao mesmo tempo que nos esforçamos por ajudar os nossos parentes, amigos, colegas de trabalho ou de estudo, a decidir-se a empreender diariamente – como nós mesmos temos que fazer – uma vida plenamente coerente com a fé que professamos.

Continuando com a exposição dos artigos do Credo, aprofundemos no mistério da Ascensão do Senhor. Cremos, com efeito, que Jesus Cristo, depois de ressuscitado, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai [1]. Esta solenidade, que celebraremos neste mês – na quinta-feira dia 9 ou, nos países em que foi transferida para o domingo seguinte, no dia 12 –, deve constituir para todos uma ocasião de recordar o ditoso fim a que fomos chamados. Esta verdade lembra-nos um fato histórico e, ao mesmo tempo, um acontecimento de salvação. Como fato histórico, a Ascensão “marca a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celestial de Deus, de onde há de voltar, mas que, entrementes, o oculta aos olhos dos homens” [2]. Agora está presente na Eucaristia, de modo sacramental; mas, no seu ser natural, está somente no Céu, de onde virá no fim dos tempos, cheio de glória e majestade, para julgar todos os homens.

O evangelista que relata com mais pormenor este acontecimento é São Lucas. No começo dos Atos do Apóstolos, escreve que o Senhor, depois da sua Paixão, apresentou-se vivo diante deles [diante dos Apóstolos e de outros discípulos], com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes das coisas do reino de Deus [3]. Também narra que, em uma das aparições aos Apóstolos, o Senhor lhes abriu o entendimento para que compreendessem as Escrituras. E disse-lhes: “Assim está escrito: que era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dentre os mortos ao terceiro dia, e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isto” [4].

São Josemaria considerou muitas vezes estas cenas, nas reuniões familiares que costumava ter com numerosas pessoas. Numa ocasião, por exemplo, convidava os que o escutavam a pensar no Senhor depois da Ressurreição, quando falava de muitas coisas, de tudo o que os seus discípulos lhes perguntavam. Aqui imitamo-lo agora um pouquinho, porque vós e eu somos discípulos do Senhor e queremos trocar impressões [5]. E em outro momento, acrescentava: Falava-lhes como nós falamos agora aqui: a mesma coisa! Isso é a contemplação: trato com Deus. E a contemplação e o trato com Deus levam-nos ao zelo pelas almas, à fome de trazer Cristo aos que se afastaram [6].

Mas voltemos ao momento da Ascensão, quando Jesus os levou até perto de Betânia e, levantando as mãos, os abençoou. E, enquanto os abençoava, separou-se deles e começou a elevar-se ao céu [7]. Numa das últimas audiências, refletindo sobre este mistério, o Papa Francisco perguntava-se: Qual é o significado deste acontecimento? Quais são as suas consequências para a nossa vida? Que significa contemplar Jesus sentado à direita do Pai? [8].

O Senhor subiu ao Céu como Cabeça da Igreja: deixou-nos para preparar-nos um lugar, como tinha prometido [9]. “Precede-nos no Reino glorioso do Pai para que nós, membros do seu corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele” [10]. No entanto, para entrarmos com Cristo na glória, é necessário que sigamos os seus passos. O Papa faz notar que, enquanto sobe a Jerusalém para a sua última Páscoa – em que ia consumar o sacrifício redentor –, Jesus vê já a sua meta, o Céu, mas sabe com certeza que o caminho que o devolve à glória do Pai passa pela Cruz, pela obediência ao desígnio divino de amor à humanidade (...). Também nós devemos ter bem presente na nossa vida cristã que entrar na glória de Deus exige a fidelidade diária à sua vontade, mesmo quando esta requer sacrifício; quando, em certas ocasiões, requer que mudemos os nossos planos [11]. Não esqueçamos, filhas e filhos meus, que não há cristianismo sem Cruz, não há verdadeiro amor sem sacrifício, e procuremos conformar a nossa vida diária com esta realidade gozosa. Porque significa darmos os mesmos passos que o Mestre seguiu, Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida [12].

Por isso, a grande festa da Ascensão convida-nos a examinar como deve concretizar-se a nossa adesão à vontade divina: sem rêmoras, sem laços que nos atem ao nosso eu, com a determinação plena, renovada em cada dia, de procurar, aceitar e amar com todas as nossas forças essa vontade. O Senhor não nos oculta que a obediência rendida à vontade de Deus exige renúncia e entrega, porque o amor não reclama direitos: quer servir. Ele percorreu primeiro o caminho. Jesus: como foi que obedeceste? Usque ad mortem, mortem autem crucis (Fil 21, 8), até à morte, e morte de Cruz. Temos que sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas [13].

A Sagrada Escritura conta que, depois da Ascensão, os Apóstolos regressaram a Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo bendizendo a Deus [14]. Uns dias antes, quando Jesus lhes anunciara que perderiam a sua presença sensível, tinham-se enchido de tristeza [15]; agora, porém, mostram-se cheios de alegria. Como se explica esta mudança? É que, com os olhos da fé, mesmo antes da chegada visível do Espírito Santo, compreendem que Jesus, embora se subtraia à sua vista, permanece sempre com eles, não os abandona e, na glória do Pai, os sustém, os guia e intercede por eles [16].

Sabemos pela fé que também agora Jesus Cristo continua junto de nós e em nós, mediante a graça, com o Pai e o Espírito Santo, e na Sagrada Eucaristia. Ele é o nosso apoio e a nossa fortaleza, o irmão mais velho, o amigo mais íntimo, que nunca nos abandona, especialmente nos momentos de tribulação ou de luta. Segundo afirma São João na sua primeira Carta, Ele é o nosso advogado: como é bonito ouvir isto! Quando uma pessoa é citada pelo juiz ou entra num pleito, a primeira coisa que faz é procurar um advogado para que o defenda. Nós temos um que nos defende sempre, que nos defende das ciladas do demônio, nos defende de nós mesmos, dos nossos pecados! (...). Não temamos ir a Ele para pedir-lhe perdão, pedir-lhe benção, pedir-lhe misericórdia! [17] Esforçamo-nos por agir na presença de Deus, aconteça o que acontecer? Sabemos acolher as suas disposições? Com que intensidade o invocamos?

A certeza de que o Mestre nos acompanha constitui outra consequência do fato da Ascensão, que nos cumula de paz e alegria. Uma alegria e uma paz que necessariamente temos de comunicar aos outros, a todas as pessoas que passam por nós e especialmente aos que – talvez sem se aperceberem muito disso – sofrem por causa do seu afastamento de Deus. Como recalcava São Josemaria ao escrever sobre esta festa, temos uma grande tarefa à nossa frente. Não é possível permanecermos passivos, porque o Senhor nos declarou expressamente: Negociai até que eu volte (Lc 19, 13). Enquanto esperamos o regresso do Senhor, que voltará para tomar posse plena do seu Reino, não podemos ficar de braços cruzados. A propagação do Reino de Deus não é apenas tarefa oficial dos membros da Igreja que representam Cristo por terem recebido dEle os poderes sagrados. Vos autem estis corpus Christi (1 Cor 12, 27): vós também sois corpo de Cristo – frisa o Apóstolo –, com o mandato específico de negociar até o fim [18].

Este mês, dedicado em muitos países a Maria, tem sido sempre na Obra um tempo especialmente apostólico. O nosso Padre ensinou-nos a ir em romaria a uma ermida ou igreja dedicada à Virgem, se possível em companhia de algum dos nossos amigos ou colegas. Todos temos a experiência de que, ao regressarmos depois à vida normal – ao trabalho, à família –, notamos uma força interior nova, que a nossa Mãe nos consegue para nos encaminharmos ou reencaminharmos rumo ao seu Filho Jesus. Vem-me à memória a primeira romaria do nosso Padre a um santuário mariano – a Sonsoles, em Ávila: amanhã será um novo aniversário – e a inesquecível novena a Nossa Senhora de Guadalupe do ano de 1970, em que rezou com tanta fé pela Igreja, pelo Papa e pelo Opus Dei. Sugiro-vos que façamos a Romaria de maio deste ano muito unidos a essas intenções que o nosso Fundador continua a ter no Céu.

Na segunda quinzena deste mês, no dia 19, a liturgia apresenta-nos a solenidade de Pentecostes, e, no domingo seguinte, a festa da Santíssima Trindade. O Paráclito – agora como na época apostólica e sempre na vida da Igreja – é quem fortalece os cristãos e lhes comunica valentia para anunciar Jesus por toda a parte. Meditai no que aconteceu após a morte de Estevão, o primeiro mártir. Naquele dia – dizem concisamente os Atos dos Apóstolos – irrompeu uma grande perseguição contra a igreja de Jerusalém, e todos, exceto os Apóstolos, se dispersaram pelas regiões da Judeia e da Samaria [19]. Aquela perseguição, em vez de coibir o crescimento da Igreja, trouxe como consequência a sua expansão para além dos confins de Jerusalém; arraigou em novos lugares, em novas gentes, mesmo em pessoas que não pertenciam ao povo de Israel, como eram os samaritanos. Coisa idêntica aconteceu com São Paulo durante as suas viagens apostólicas.

Ao considerarmos estes fatos, recordados nas leituras do tempo pascal, deveríamos em boa lógica perguntar-nos: Dou testemunho da minha fé em Cristo? Peço a Deus que me aumente esta virtude teologal, juntamente com a esperança e a caridade, especialmente neste Ano da fé? Ajuda-me a ser audaz a consideração de que Jesus ressuscitado caminha junto de mim por todas as sendas da minha vida corrente? Vou com frequência ao Sacrário para pedir ao Senhor uma maior piedade no meu trato com Ele e com a sua Santíssima Mãe? Escutemos as perguntas que nos faz o Papa Francisco: Tu e eu, adoramos o Senhor? Vamos a Deus somente para pedir, para agradecer, ou dirigimo-nos a Ele também para adorá-lo? (...). Adorar o Senhor quer dizer dar-lhe o lugar que lhe corresponde; adorar o Senhor quer dizer afirmar, crer – mas não apenas com palavras – que só Ele guia verdadeiramente a nossa vida [20].

No mês passado, fui ao Líbano numa viagem rápida. Como sempre, contei com a vossa ajuda para impulsionar o trabalho apostólico dos fiéis da Prelazia nesse querido país, encruzilhada do Oriente Médio. Acompanhado por todas e por todos, rezei diante de Nossa Senhora do Líbano, no santuário de Harissa, pedindo especialmente pela paz em toda aquela região e no resto do mundo. Não desistamos de recorrer a Santa Maria em todas as necessidades da Igreja e da sociedade. É a atitude que a nossa Mãe nos ensina na festa da Visitação, no último dia do mês: fomentar em todos os momentos a disposição de servir os outros nas diversas circunstâncias que se apresentem, com Maria serviu a sua prima Isabel.

Apresentai a Nossa Senhora as minhas intenções: não há nada de egoísmo neste pedido, porque – entre muitas outras – inclui-se nessas intenções o pedido pela vossa fidelidade quotidiana, traçada com alegria, com perseverança, com fome de santidade pessoal e de zelo apostólico. Suplicai à Mãe da Igreja que obtenha da Trindade Santíssima, para a Igreja inteira e para esta partezinha da Igreja que é a Prelazia, muitos sacerdotes, plenamente entregues ao seu ministério. Rezai de modos especial pelos novos presbíteros da Obra, que receberão a ordenação sacerdotal no próximo dia 4, para que sejam – como o nosso Padre desejava – santos, doutos, alegres e esportistas no terreno sobrenatural.

Com todo o afeto, abençoa-vos

                                                               o vosso Padre

                                                               +Javier

Roma, 1 de maio de 2013

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