terça-feira, 31 de maio de 2011

Ritus Romanus et Ritus Modernus: Existiu alguma reforma litúrgica antes de Paulo VI?


No artigo “Quatrocentos anos de Missa Tridentina”, publicado em diversas revistas religiosas, o professor Rennings se aplicou a apresentar o novo missal, ou seja, o Ritus Modernus, como derivação natural e legítima da liturgia romana. Segundo o dito professor, não teria existido uma Missa de São Pio V se não unicamente por cento e trinta e quatro anos, ou seja, de 1570 a 1704, ano no qual apareceu sob as modificações desejadas pelo Romano Pontífice de então. Continuando com tal modo de proceder, Paulo VI, segundo Rennings, teria por sua vez reformado o Missale romanum para permitir aos fiéis entrever algo mais da inconcebível grandeza do dom que o Senhor fez à sua Igreja na Eucaristia.

Em seu artigo, Rennings habilmente se aferrou a um ponto fraco dos tradicionalistas: a expressão Missa Tridentina ou Missa de São Pio V. Propriamente falando uma Missa Tridentina ou de São Pio V nunca existiu, já que, seguindo as instâncias do Concílio de Trento, não foi formado um Novus Ordo Missae, dado que o Missale sancti Pii V não é mais que o Missal da Cúria Romana, que foi se formando em Roma muitos séculos antes, e difundido especialmente pelos franciscanos em numerosas regiões do Ocidente. As modificações efetuadas em sua época por São Pio V são tão pequenas, que são perceptíveis tão somente pelos olhos dos especialistas.

Agora, um dos expedientes a que recorre Rennings, consiste em confundir o Ordo Missae com o Proprium das missas dos diferentes dias e das diferentes festas. Os Papas, até Paulo VI, não modificaram o Ordo Missae, mesmo introduzindo novos próprios para novas festas, o que não destrói a chamada Missa Tridentina mais do que os acréscimos ao Código Civil destroem o mesmo. Portanto, deixando de lado a expressão imprópria de Missa Tridentina, falamos melhor de um Ritus Romanus.

O rito romano remonta em suas partes mais importantes pelo menos ao século V, e mais precisamente ao Papa São Dâmaso (366-384). O Canon Missae, com exceção de alguns retoques efetuados por São Gregório I (590-604), alcançou com São Gelásio I (492-496) a forma que conservou até há pouco. A única coisa sobre a qual os Romanos Pontífices não cessaram de insistir do século V em diante, foi a importância para todos de adotar o Canon Missae Romanae, dado que dito cânon remonta nada menos que ao próprio Apóstolo Pedro.

Respeitaram o uso das Igrejas locais mais para o que diz respeito às outras partes do Ordo, como para o Proprium das várias Missas. Até São Gregório Magno (590-604) não existiu um missal oficial com o Proprium das várias Missas do ano. O Liber Sacramentorum foi redigido por encargo de São Gregório no princípio de seu pontificado, para serviço e uso das Stationes que tinham lugar em Roma, ou seja, para a liturgia pontifical. São Gregório não teve nenhuma intenção de impor o Proprium do dito missal a todas as Igrejas do Ocidente. Se posteriormente o dito missal se converteu no próprio esboço do Missale Romanum de São Pio V, deve-se a uma série de fatores dos quais não podemos tratar agora.

É interessante notar que, quando se interrogou a São Bonifácio (672-754), que se encontrava em Roma, a respeito de algum detalhe litúrgico, como o uso dos sinais da cruz a serem feitos durante o cânon, este não se referiu ao sacramentário de São Gregório, mas àquele que estava em uso entre os Anglo-saxões, cujo cânon estava totalmente de acordo com aquele da Igreja de Roma…

Na Idade Média, as dioceses e as igrejas que não tinham adotado espontaneamente o Missal em uso em Roma, usavam um próprio e por isto nenhum Papa manifestou surpresa ou desgosto… Mas quando a defesa contra o protestantismo tornou necessário um Concílio, o Concílio de Trento encarregou o Papa de publicar um missal corrigido e uniforme para todos. Agora, pois, com a melhor vontade do mundo, eu não chego a encontrar em tal deliberação do Concílio o ecumenismo que Rennings vê. O que fez São Pio V? Como já dissemos, tomou o missal em uso em Roma e em tantos outros lugares, deu-lhe retoques, especialmente reduzindo o número das festas dos Santos que continha. Ele o tornou obrigatório para toda a Igreja? De modo algum! Respeitou até as tradições locais que pudessem se gloriar de ter, pelo menos, duzentos anos de idade. Assim, propriamente: era suficiente que o missal estivesse em uso, pelo menos, há duzentos anos, para que pudesse permanecer em uso ao lado e no lugar daquele publicado por São Pio V. O fato de que o Missale Romanum tenha se difundido tão rapidamente e

tenha sido espontaneamente adotado também em dioceses que tinham o próprio mais que bicentenário, deve-se a outras causas; não, por certo, a pressão exercida sobre elas por Roma. Roma não exerceu sobre elas nenhuma pressão, e isto numa época em que, bem diferente do que acontece hoje, não se falava de pluralismo, nem de tolerância.

O primeiro Papa que ousou inovar o Missal tradicional foi Pio XII, quando modificou a liturgia da Semana Santa. Seja-nos permitido observar, a respeito, que nada impedia de restabelecer a Missa do Sábado Santo no curso da noite de Páscoa, ainda que sem modificar o rito. João XXIII o seguiu por este caminho, retocando as rubricas. Mas nem um nem o outro, ousaram inovar sobre o Ordo Missae, que continuou invariável. Porém a porta tinha sido aberta, e por ela cruzaram aqueles que queriam uma substituição radical da liturgia tradicional e que a obtiveram. Nós, que tínhamos assistido com espanto a esta resolução, contemplamos agora aos nossos pés as ruínas, não da Missa Tridentina, mas da antiga e tradicional Missa Romana, que foi se aperfeiçoando através do curso dos séculos até alcançar sua maturidade. Não era perfeita a ponto de não ser ulteriormente mais aperfeiçoada, mas para adaptá-la ao homem de hoje não havia necessidade de substituí-la: bastavam alguns pequeníssimos retoques, deixando a salvo e imutável todo o resto.

Mas ao contrário, quiseram suprimi-la e substituí-la com uma liturgia nova, preparada com precipitação e, diremos, artificialmente: com o Ritus Modernus. Ó, como se vê aparecer de modo sempre mais claro e alarmante o oculto fundo teológico desta reforma! Sim, era fácil obter uma mais ativa participação dos fiéis nos santos mistérios, segundo as disposições conciliares, sem necessidade de transformar o rito tradicional.

Porém a meta dos reformadores não era obter a mencionada maior participação ativa dos fiéis, mas fabricar um rito que interpretasse sua nova teologia, aquela mesma que está na base dos novos catecismos escolares. Já se vêem agora as conseqüências desastrosas que não se revelarão plenamente até que passem uns cinqüenta anos.

Para chegar aos seus objetivos, os progressistas souberam explorar mui habilmente a obediência às prescrições romanas dos sacerdotes e dos féis mais dóceis… A fidelidade e o respeito devido ao Pai da Cristandade não chegam ao ponto de exigir uma aceitação despojada do devido sentido crítico de todas as novidades introduzidas em nome do Papa.

A fidelidade à Fé, antes de tudo! Agora, a Fé, parece-me que se encontra em perigo com a nova liturgia, ainda que não me atreva a declarar inválida a Missa celebrada segundo o Ritus Modernus.

É possível que vejamos a Cúria Romana e certos bispos – aqueles mesmos que nos querem obrigar, com suas ameaças, a adotar o Ritus Modernus –, descuidar de seu próprio dever específico de defensores da Fé, permitindo certos professores de teologia a enterrar os dogmas mais fundamentais de nossa Fé e aos discípulos dos mesmos propagar ditas opiniões heréticas em periódicos, livros e catecismos?

O Ritus Romanus permanece como o último rochedo no meio da tempestade. Os inovadores sabem muito bem disso. Daqui parte seu ódio furioso contra o Ritus Romanus, que combatem sob o pretexto de combater uma nunca existida Missa Tridentina. Conservar o Ritus Romanus não é uma questão de estética: é, para nossa Santa Fé, questão de vida ou morte. Logo tornaremos ao assunto.


Fonte: Monsenhor Klaus Gamber – A reforma da liturgia Romana. Tradução de Luis Augusto Rodrigues Domingues.

Virgem de Aparecida Rainha e Padroeira do Brasil

Há exatamente 80 anos, o Brasil aclamava a Virgem de Aparecida como sua Padroeira, recordou hoje o Portal A12 do Santuário Nacional. O decreto que proclamava a Virgem de Aparecida como padoreira da nação foi assinado pelo papa Pio X no dia 16 de julho de 1929 e a proclamação oficial se deu no Rio de Janeiro, então Capital Federal, no dia 31 de maio de 1931.


A nota de hoje, 31, do Portal A12 conta que logo após a realização do Congresso Mariano de 1929, por empenho do então arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, e do reitor do Santuário na época, padre Antão Jorge Hechenblaickner, os bispos presentes no Congresso pediram e obtiveram do Papa Pio X, a graça de Nossa Senhora Aparecida ser declarada Padroeira do Brasil.

O Missionário Redentorista, padre Júlio Brustoloni descreve em seu livro ‘História de Nossa Senhora Aparecida: A Imagem, o Santuário e as Romarias’ que naquele ano, a Imagem foi conduzida, saindo de Aparecida no dia 30 de maio para o Rio de Janeiro.

“A Imagem deixou seu nicho e foi conduzida pelo povo de Aparecida até a Estação local. Preces, lágrimas e emoção acompanhavam essa peregrinação histórica”, descreve padre Júlio no livro.

A publicação ainda relata que cerca de um milhão de pessoas foram prestar suas homenagens à Padroeira naquele dia 31. De manhã, o ponto alto foi a Missa Campal celebrada diante da Igreja de São Francisco de Paula, onde a multidão cantou e rezou participando da eucaristia.

Mais tarde, uma procissão conduziu a Imagem para a Praça da Esplanada do Castelo. Junto do altar da Padroeira, encontrava-se o então presidente da república, Getúlio Vargas, Ministros de Estado, autoridades civis, militares e eclesiásticas. O Núncio Apostólico, Dom Aloísio Masella também esperava pela Virgem de Aparecida junto ao povo.

Era o Brasil que se consagrava à sua Senhora e Mãe, relata a nota do Portal A12 recordando a oração de consagração:

Senhora Aparecida, o Brasil é vosso!


Rainha do Brasil, abençoai a nossa gente.


Paz ao nosso povo! Salvação para a nossa Pátria!


Senhora Aparecida, o Brasil vos ama,


O Brasil, em vós confia!


Senhora Aparecida, o Brasil vos aclama,


Salve Rainha!

Após os atos de consagração e prece, Dom Duarte levou a Imagem para o carro-capela, estacionado na Estação Dom Pedro II com destino à Aparecida.

Na época, o Superior Vice-Provincial, padre José Francisco Wand escreveu no livro de ponto da paróquia que é absolutamente certo que o dia 31 de maio de 1931 seria sempre um dos mais memoráveis na história eclesiástica da Terra de Santa Cruz.

“Este dia significa para Aparecida o desenvolvimento grandioso das romarias”, afirmava a mensagem.

Atualmente, o Santuário Nacional de Aparecida, local onde se encontra a Imagem da Padroeira do Brasil, aos cuidados dos Missionários Redentoristas acolhe centenas de romarias vindas de todas as partes do país para saudar a Padroeira do Brasil.

Fonte: ACI Digital

Carta Encíclica de Pio XII: Ad Caeli Reginam


CARTA ENCÍCLICA DO PAPA PIO XII

AD CAELI REGINAM

SOBRE A REALEZA DE MARIA

E A INSTITUIÇÃO DA SUA FESTA


Aos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes,
Arcebispos e bispos e outros Ordinários do lugar,
em paz e comunhão com a Sé Apostólica


INTRODUÇÃO

1. Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo, nem se enfraqueceu a fé, que nos ensina reinar com materno coração no universo inteiro a Virgem Maria, Mãe de Deus, assim como está coroada de glória na bem-aventurança celeste.

2. Ora, depois das grandes calamidades que, mesmo à nossa vista, destruíram horrivelmente florescentes cidades, vilas e aldeias; diante do doloroso espetáculo de tantos e tão grandes males morais, que transbordam em temeroso aluvião; quando vacila às vezes a justiça e triunfa com freqüência a corrupção; neste incerto e temeroso estado de coisas, sentimos nós a maior dor; mas ao mesmo tempo recorremos confiantes à nossa rainha, Maria santíssima, e patenteamos-lhe não só os nossos devotos sentimentos mas também os de todos os fiéis cristãos.

3. É grato e útil recordar que nós próprios - no dia 1° de novembro do ano santo de 1950, diante de grande multidão formada de cardeais, bispos, sacerdotes e simples cristãos, vindos de toda a parte do mundo - definimos o dogma da assunção da bem-aventurada virgem Maria ao céu(1), a qual presente em alma e corpo, reina entre os coros dos anjos e santos, juntamente com o seu unigênito Filho. Além disso - ocorrendo o primeiro centenário da definição dogmática do nosso predecessor de imortal memória Pio IX, que proclamou ter sido a Mãe de Deus concebida sem qualquer mancha do pecado original - promulgamos,(2) com grande alegria do nosso coração paterno, o presente ano mariano; e vemos com satisfação que não só nesta augusta cidade - especialmente na Basílica Liberiana, onde inumeráveis multidões vão testemunhando bem claramente a sua fé e ardente amor a Mãe do céu - mas em todas as partes do mundo a devoção à virgem Mãe de Deus refloresce cada vez mais, ocorrendo grandes peregrinações aos principais santuários de Maria.

4. Todos sabem que nós, na medida do possível - quando em audiências falamos aos nossos filhos, ou quando, por meio das ondas radiofônicas, dirigimos mensagens ao longe - não deixamos de recomendar, a quantos nos ouviam que amassem, com amor terno e filial, tão boa e poderosa Mãe. A esse propósito, recordamos em especial a radiomensagem que endereçamos ao povo português, por motivo da coroação da prodigiosa imagem de nossa Senhora de Fátima (3), que chamamos radiomensagem da "realeza" de Maria.(4)

5. Portanto, como coroamento de tantos testemunhos deste nosso amor filial, a que o povo cristão correspondeu com tanto ardor, para encerrar com alegria e fruto o ano mariano que se aproxima do fim, e para satisfazer aos insistentes pedidos, que nos chegaram de toda a parte, resolvemos instituir a festa litúrgica da bem-aventurada rainha virgem Maria.

6. Não é verdade nova que propomos à crença do povo cristão, porque o fundamento e as razões da dignidade régia de Maria encontram-se bem expressos em todas as idades, e constam dos documentos antigos da Igreja e dos livros da sagrada liturgia.

7. Queremos recordá-los na presente encíclica, para renovar os louvores da nossa Mãe do céu e avivar proveitosamente na alma de todos a devoção para com ela.

I A REALEZA DE MARIA NOS TEXTOS DA TRADIÇÃO...

8. Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo - o qual "reinará eternamente na casa de Jacó"(5), (será) "Príncipe da Paz"(6) , "Rei dos Reis e Senhor dos senhores"(7)-, recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas.

9. Assim, baseando-se nas palavras do arcanjo Gabriel, que predisse o reino eterno do Filho de Maria,(8) e nas de Isabel, que se inclinou diante dela e a saudou como "Mãe do meu Senhor",(9) compreende-se que já os antigos escritores eclesiásticos chamassem a Maria "mãe do Rei" e "Mãe do Senhor", dando claramente a entender que da realeza do Filho derivara para a Mãe certa elevação e preeminência.

10. Santo Efrém, com grande inspiração poética, põe estas palavras na boca de Maria: "Erga-me o firmamento nos seus braços, porque eu estou mais honrada do que ele. O céu não foi tua mãe, e fizeste dele teu trono. Ora, quanto mais se deve honrar e venerar a mãe do Rei, do que o seu trono!"(10) Em outro passo, assim invoca a Maria santíssima: "...Virgem augusta e protetora, rainha e senhora, protege-me à tua sombra, guarda-me, para que Satanás, que semeia ruínas, não me ataque, nem triunfe de mim o iníquo adversário".(11)

11. A Maria chama s. Gregório Nazianzeno "Mãe do Rei de todo o universo", "Mãe virgem, [que] deu à luz o Rei do todo o mundo".(12) Prudêncio diz que a Mãe se maravilha "de ter gerado a Deus não só como homem mas também como sumo rei".(13)

12. E afirmam claramente a dignidade real de Maria aqueles que a chamam "senhora", "dominadora" e "rainha".

13. Já numa homilia atribuída a Orígenes, Maria é chamada por Isabel não só "Mãe do meu Senhor" mas também "Tu, minha Senhora".(14)

14. O mesmo conceito se pode deduzir dum texto de s. Jerônimo, que expõe o próprio parecer acerca das várias interpretações do nome de Maria: "Saiba-se que Maria, na língua siríaca, significa Senhora".(15) Igualmente e com mais decisão, se exprime depois s. Pedro Crisólogo: "O nome hebraico Maria traduz-se por "Domina" em latim: "portanto o anjo chama-lhe Senhora para livrar do temor de escrava a mãe do Dominador, a qual nasce e se chama Senhora pelo poder do Filho".(16)

15. Santo Epifânio, bispo de Constantinopla, escreve ao papa Hormisdas pedindo a conservação da unidade da Igreja "mediante a graça da Trindade una e santa e por intercessão de nossa Senhora, a santa e gloriosa virgem Maria, Mãe de Deus".(17)

16. Um autor do mesmo tempo dirige-se a Maria santíssima, sentada à direita de Deus, invocando-a solenemente como "Senhora dos mortais, santíssima Mãe de Deus".(18)

17. Santo André Cretense atribui muitas vezes a dignidade real à virgem Maria; escreve, por exemplo: "Leva [Jesus Cristo] neste dia da morada terrestre [para o céu], como rainha do gênero humano, a sua Mãe sempre virgem, em cujo seio, permanecendo Deus, tomou a carne humana".(19) E noutro lugar: "Rainha de todo o gênero humano, porque, fiel à significação do seu nome, se encontra acima de tudo quanto não é Deus".(20)

18. Do mesmo modo se dirige s. Germano à humildade da Virgem: "Senta-te, ó Senhora; sendo tu Rainha e mais eminente que todos os reis, pertence-te estar sentada no lugar mais nobre"(21); e chama-lhe: "Senhora de todos aqueles que habitam a terra".(22)

19. São João Damasceno proclama-a "rainha, protetora e senhora"(23) e também: "senhora de todas as criaturas"(24); e um antigo escritor da Igreja ocidental chama-lhe: "ditosa rainha", "rainha eterna junto do Filho Rei", e diz que ela tem a "nívea cabeça ornada com um diadema de ouro".(25)

20. Finalmente, s. Ildefonso de Toledo resume-lhe quase todos os títulos de honra nesta saudação: "Ó minha senhora, minha dominadora: tu dominas em mim, ó mãe do meu Senhor... Senhora entre as escravas, rainha entre as irmãs".(26)

21. Recolhendo a lição desses e outros inumeráveis testemunhos antigos, chamaram os teólogos a santíssima Virgem, rainha de todas as coisas criadas, rainha do mundo e senhora do universo.

22. Por sua vez, os sumos pastores da Igreja julgavam obrigação sua aprovar e promover a devoção à celeste Mãe e Rainha com exortação e louvores. Pondo de parte os documentos dos papas recentes, recordamos que já no século VII o nosso predecessor s. Martinho I chamou a Maria "gloriosa Senhora nossa, sempre virgem";(27) s. Agatão, na carta sinodal enviada aos padres do sexto concílio ecumênico, chamou-a "Senhora nossa, verdadeiramente e com propriedade Mãe de Deus";(28) e no século VIII, Gregório II, em carta ao patriarca s. Germano, que foi lida entre as aclamações dos padres do sétimo concílio ecumênico, proclamava Maria "Senhora de todos e verdadeira Mãe de Deus" e "Senhora de todos os cristãos".(29)

23. Apraz-nos recordar também que o nosso predecessor de imortal memória Sixto IV, querendo favorecer a doutrina da imaculada conceição da santíssima Virgem, começa a carta apostólica Cum praeexcelsa (30) chamando precisamente a Maria "rainha sempre vigilante, a interceder junto ao Rei, que ela gerou". Do mesmo modo Bento XIV, na carta apostólica Gloriosae Dominae (31), chama a Maria "rainha do céu e da terra", afirmando que o sumo Rei lhe contou, em certo modo, o seu próprio império.

24. Por isso, s. Afonso de Ligório, tendo presente todos os testemunhos dos séculos precedentes, pôde escrever com a maior devoção: "Porque a virgem Maria foi elevada até ser Mãe do Rei dos reis, com justa razão a distingue a Igreja com o título de Rainha".(32)

II NA LITURGIA E NA ARTE

25. A sagrada liturgia, espelho fel da doutrina transmitida pelos santos padres e da crença do povo cristão, cantou por todo o decurso dos séculos e canta ainda sem cessar, tanto no oriente como no ocidente, as glórias da celestial Rainha.

26. Vozes entusiásticas ressoam do oriente: "Ó Mãe de Deus, hoje és transferida para o céu sobre os carros dos querubins, os serafins estão às tuas ordens, e os exércitos da milícia celeste prostram-se diante de ti".(33)

27. E mais ainda: "Ó justo, felicíssimo [José], pela tua origem real foste escolhido entre todos para esposo da Rainha imaculada, que dará à luz de modo inefável a Jesus Rei".(34) E depois: "Vou elevar um hino à rainha e Mãe de quem, ao celebrar, me aproximarei com alegria, para cantar com exultação alegremente as suas glórias... Ó Senhora, nossa língua não te pode louvar dignamente, porque tu, que deste à luz a Cristo nosso Rei, foste exaltada acima dos serafins... Salve, rainha do mundo, salve, ó Maria, senhora de todos nós".(35)

28. Lê-se no Missal etíope: "Ó Maria, centro do mundo todo,... Tu és maior que os querubins de olhar penetrante, e que os serafins de seis asas... O céu e a terra estão cheios da santidade da tua glória".(36)

29. O mesmo canta a liturgia da Igreja latina com a antiga e dulcíssima oração "Salve, rainha", as alegres antífonas "Ave, ó rainha dos céus", "Rainha do céu, alegrai-vos, aleluia", e outras que se costumam rezar em várias festas de nossa Senhora: "Colocou-se como rainha à tua direita, com vestido dourado e circundada de vários ornamentos"(37); "A terra e o povo cantam o teu poder, ó rainha"(38); "Hoje a virgem Maria sobe ao céu: alegrai-vos, porque reina com Cristo para sempre".(39)

30. A esse e outros cânticos devem juntar-se as Ladainhas lauretanas, que levam o povo cristão a invocar todos os dias nossa Senhora como rainha; e no santo rosário, que se pode chamar coroa mística da celeste rainha, já há muitos séculos os fiéis contemplam, do quinto mistério glorioso, o reino de Maria, que abraça o céu e a terra.

31. Finalmente a arte cristã, intérprete natural da espontânea e pura devoção do povo, desde o concílio de Éfeso que representa Maria como rainha e imperatriz, sentada num trono e adornada com as insígnias reais, de coroa na cabeça, rodeada da corte dos anjos e santos, como quem domina não só as forças da natureza, mas também os malignos assaltos de Satanás. A iconografia da virgem Maria como rainha enriqueceu-se em todos os séculos com obras de arte de alto mérito, chegando até a figurar o divino Redentor no ato de cingir com brilhante coroa a cabeça da própria Mãe.

32. Os pontífices romanos não deixaram de favorecer esta devoção coroando pessoalmente ou por meio de legados as imagens da virgem Mãe de Deus, que eram objeto de especial veneração.

III OS ARGUMENTOS TEOLÓGICOS

A maternidade divina de Maria

33. Como acima apontamos, veneráveis irmãos, segundo a tradição e a sagrada liturgia, o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. Na verdade, do Filho que será dado à luz pela Virgem, afirma-se na Sagrada Escritura: "chamar-se-á Filho do Altíssimo e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai; reinará na casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim"(40); ao mesmo tempo que Maria é proclamada "a Mãe do Senhor".(41) Daqui se segue logicamente que Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu s. João Damasceno: "Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador".(42) E assim o arcanjo Gabriel pode ser chamado o primeiro arauto da dignidade real de Maria.

34. Contudo, nossa Senhora deve proclamar-se Rainha, não só pela sua maternidade divina, mas ainda pela parte singular que Deus queria ter na obra da salvação. "Que pode haver - escrevia nosso predecessor de feliz memória, Pio XI - mais doce e suave do que pensar que Cristo é nosso Rei, não só por direito de natureza, mas ainda por direito adquirido, isto é, pela redenção? Repensem todos os homens, esquecidos do quanto custamos ao nosso Redentor e recordem todos: 'Não fostes remidos com ouro ou prata, bens corruptíveis..., mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro imaculado e incontaminado'.(43) 'Não pertencemos portanto a nós mesmos, pois Cristo 'a alto preço',(44) 'nos comprou'.(45)

Sua cooperação na redenção


35. Ora, ao realizar-se a obra da redenção, Maria santíssima foi intimamente associada a Cristo, e por isso justamente se canta na sagrada liturgia: "Santa Maria, rainha do céu e senhora do mundo, estava traspassada de dor, ao pé da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo".(46) E um piedosíssimo discípulo de s. Anselmo podia escrever na Idade Média: "Como... Deus, criando todas as coisas pelo seu poder, é Pai e Senhor de tudo, assim Maria, reparando todas as coisas com os seus méritos, é mãe e senhora de tudo: Deus é senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes mereceu".(47) De fato "como Cristo, pelo título particular da redenção, é nosso senhor e nosso rei, assim a bem-aventurada Virgem [é senhora nossa] pelo singular concurso, prestado à nossa redenção, subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação".(48)

36. Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação",(49) pela qual o gênero humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do gênero humano",(50) e se realmente "foi ela que - isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho - o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda"(51) poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão.

Sua sublime dignidade


37. E certo que no sentido pleno, próprio e absoluto, somente Jesus Cristo, Deus e homem, é rei; mas também Maria - de maneira limitada e analógica, como Mãe de Cristo-Deus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido participa da dignidade real. De fato, dessa união com Cristo-Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai.

38. Portanto, não há dúvida alguma que Maria santíssima se avantaja em dignidade a todas as coisas criadas e tem sobre todas o primado, a seguir ao seu Filho. "Tu finalmente, canta s. Sofrônio, superaste em muito todas as criaturas... Que poderá existir mais sublime que tal alegria, ó Virgem Mãe? Que pode existir mais elevado que tal graça, a qual por divina vontade só tu tiveste em sorte?"(52) "A esses louvores acrescenta s. Germano: "A tua honra e dignidade colocam-te acima de toda a criação: a tua sublimidade faz-te superior aos anjos".(53) João Damasceno chega a escrever o seguinte: "É infinita a diferença entre os servos de Deus e a sua Mãe".(54)

39. Para melhor compreendermos a sublime dignidade, que a Mãe de Deus atingiu acima de todas as criaturas, podemos considerar que a santíssima Virgem, desde o primeiro instante da sua conceição, foi enriquecida de tal abundância de graças, que supera a graça de todos os santos. Por isso, como escreveu na carta apostólica Ineffabilis Deus o nosso predecessor, de feliz memória, Pio IX, Deus "fez a maravilha de a enriquecer, acima de todos os anjos e santos, de tal abundância de todas as graças celestiais hauridas dos tesouros da divindade, que ela - imune de toda a mancha do pecado, e toda bela apresenta tal plenitude de inocência e santidade, que não se pode conceber maior abaixo de Deus, nem ninguém a pode compreender plenamente senão Deus".(55)

Com Cristo, ela reina nas mentes e vontades dos homens


40. Nem a bem-aventurada virgem Maria teve apenas, ao seguir a Cristo, o supremo grau de excelência e perfeição, mas também participou ainda daquela eficácia pela qual justamente se afirma que o seu divino Filho e nosso Redentor reina na mente e na vontade dos homens. Se, de fato, o Verbo de Deus opera milagres e infunde a graça por meio da humanidade que assumiu - e se utiliza dos sacramentos e dos seus santos, como instrumentos, para salvar as almas; por que não há de servir-se do múnus e ação de sua Mãe santíssima para nos distribuir os frutos da redenção? "Com ânimo verdadeiramente materno para conosco - como diz o mesmo predecessor nosso, de feliz memória, Pio IX - e ocupando-se da nossa salvação, ela, que pelo Senhor foi constituída rainha do céu e da terra, toma cuidado de todo o gênero humano, e - tendo sido exaltada sobre todos os coros dos anjos e as hierarquias dos santos do céu, e estando à direita do seu unigênito Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor - com as suas súplicas maternas impetra com eficácia, obtém quanto pede, nem pode deixar de ser ouvida".(56) A esse propósito, outro nosso predecessor, de feliz memória, Leão XIII, declarou que foi concedido à bem-aventurada virgem Maria um poder "quase ilimitado"(57) na distribuição das graças; s. Pio X acrescenta que Maria desempenha esta missão "como por direito materno".(58)

Duplo erro a ser evitado

41. Gloriem-se, portanto, todos os féis cristãos de estar submetidos ao império da virgem Mãe de Deus, que tem poder régio e se abrasa de amor materno.

42. Porém, nessas e noutras questões que dizem respeito à bem-aventurada virgem Maria, procurem os teólogos e pregadores evitar certos desvios, para não caírem em duplo erro: acautelem-se de opiniões sem fundamento e que ultrapassam com exageros os limites da verdade; e evitem, por outro lado, a excessiva estreiteza ao considerarem a singular, sublime, e mesmo quase divina dignidade da Mãe de Deus, que o doutor angélico nos ensina a atribuir-lhe "em razão do bem infinito, que é Deus".(59)

43. Mas, nesse, como em todos os outros capítulos da doutrina cristã, "a norma próxima e universal" é para todos o magistério vivo da Igreja, instituído por Cristo "também para esclarecer e explicar aquelas coisas que só de modo obscuro e como que implícito estão contidas no depósito da fé".(6)

IV A FESTA DE MARIA RAINHA

44. Dos testemunhos da antiguidade cristã, das orações da liturgia, da inata devoção do povo cristão, das obras artísticas, de toda a parte recolhemos expressões que nos mostram que a virgem Mãe de Deus se distingue pela sua dignidade real; mostramos também que as razões, deduzidas pela sagrada teologia do tesouro da fé divina, confirmam plenamente essa verdade. De tantos testemunhos referidos forma-se uma espécie de concerto harmonioso que exalta a incomparável dignidade real da Mãe de Deus e dos homens, a qual domina todas as coisas criadas e foi elevada aos reinos celestes, acima dos coros dos anjos".(61)

45. Depois de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, - com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia 31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era, iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião.

Exortação à devoção mariana

46. Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao cetro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção dial. Freqüentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele - nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões - ora pequenos grupos, ora grandes assembléias, para cantarem as glórias de Maria. Honra-se o mais possível o seu nome, mais doce do que o néctar e mais valioso que toda a pedra preciosa; ninguém ouse o que seria prova de alma vil - pronunciar ímpias blasfêmias contra este nome santíssimo, ornado de tanta majestade e venerável pelo carinho próprio de mãe; nem se atreva ninguém a dizer nada que seja irreverente.

47. Com vivo e diligente cuidado todos se esforcem por copiar nos sentimentos e nos atos, segundo a própria condição, as altas virtudes da Rainha do céu e nossa Mãe amantíssima. Donde resultará que os féis, venerando e imitando tão grande Rainha e Mãe, virão se sentir verdadeiros irmãos entre si, desprezarão a inveja e a cobiça das riquezas, e hão de promover a caridade social, respeitar os direitos dos fracos e fomentar a paz. Nem presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima proteção, se à exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade, evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo.

A Igreja do silêncio

48. Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho - com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo - concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres.

Maria, Rainha e Medianeira da paz


49. A festa - instituída pela presente carta encíclica, a fim de que todos reconheçam mais claramente e melhor honrem o clemente e materno império da Mãe de Deus pensamos que poderá contribuir para que se conserve, consolide e torne perene a paz dos povos, ameaçada quase todos os dias por acontecimentos que enchem de ansiedade. Não é ela acaso o arco-íris que se eleva para Deus, como sinal de pacífica aliança?(62) "Contempla o arco-íris e bendize aquele que o fez; é muito belo no seu esplendor; abraça o céu na sua órbita radiosa, e foram as mãos do Altíssimo que o traçaram".(63) Todo aquele que honra a Senhora dos anjos e dos homens - e ninguém se julgue isento deste tributo de reconhecimento e amor - invoque esta rainha, medianeira da paz; respeite e defenda a paz, que não é maldade impune nem liberdade desenfreada, mas concórdia bem ordenada sob o signo e comando da divina vontade: tendem a protegê-la e aumentá-la as maternas exortações e ordens de Maria.

50. Desejando ardentemente que a Rainha e Mãe do povo cristão acolha estes nossos votos, alegre com a sua paz as terras sacudidas pelo ódio, e a todos nós, depois deste exílio, mostre a Jesus, que será na eternidade a nossa paz e alegria; a vós, veneráveis irmãos, e aos vossos rebanhos, concedemos de todo o coração a bênção apostólica, como penhor do auxílio de Deus onipotente e testemunho do nosso paternal afeto.

Dado em Roma, junto de São Pedro, na festa da maternidade de Nossa Senhora, no dia 11 de outubro do ano de 1954, XVI do nosso pontificado.

PIO PP. XII

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Notas

(1) Cf. Const. apostólica Munificentissimus Deus: AAS 42(1950), p. 753ss.

(2) Cf. Carta enc. Fulgens corona.: AAS 45(1953), p. 577ss.

(3) Cf. AAS 38(1946), p. 264ss.

(4) Cf. L'Osservatore Romano, de 19 de maio, de 1946.

(5) Lc 1,32.

(6) Is 9,6.

(7) Ap 19,16.

(8) Cf. Lc 1,32-33.

(9) Lc 1,43.

(10) S. Ephraem. Hymni de B. Maria, ed. Th. J. Lamy, t. II, Mechiniae,1886 Hymn. XIX p. 624.

(11) Idem, Oratio and Ss.mam Dei Matrem; Opera omnia, Ed. Assemani, t. III (graece), Romae,1747, p. 546.

(12) S. Gregorio Naz., Poemata dogmatica, XVIII, v. 58: P G. XXXVII, 485.

(13) Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A.

(14) Hom. ins. Lucam, hom. VII; ed. Rauer, Origenes Werke, t. IX, p. 48 (ex catem Macarii Chrysocephali). Cf. PG 13,1902 D.

(15) S. Jeronimo, Liber de nominibus hebraeis: PL 23, 886.

(16) S. Pedro Chrisólogo, Sermo 142, De Annuntiatlone B.M.V.: PL 52, 579 C; cf. também 582B; 584A: "Regina totius exstitit castitatis".

(17) Relatio Epiphanii Ep. Constantin.: PL 63, 498D.

(18) Encomium in Dormitionem Ss.mae Deiparae (inter opera s. Modesti): PG 86, 3306B.

(19) s. Andreas Cretensis, Homilia II in Dormitionem Ss.mae Deiparae: PG 97, 1079B.

(20) Id., Homilla III in Dormitionem Ss.mae Deiparae: I PG 98, 303A.

(21) S. Germano, In Praesentationem Ss.mae Deiparae, I: PG 98 303A.

(22) Id., In Praesentationem Ss.mae Deiparae, II: PG 98, 315C.

(23) S. João Damasceno, Homilia I in Dormitionem B.M.V: PG 96, 719A.

(24) Id., De fide orthodoxa, I, IV, c.14: PG 44,1158B.

(25) De laudibus Mariae (inter opera Venantii Fortunati): PL 88 282B e 283A.

(26) Ildefonso Toledano, De virginitate perpetua B.M.V.: PL 96, 58AD.

(27) S. Martinho I, Epist. XIV PL 87,199-200A.

(28) S. Agatão: PL 87,1221A.

(29) Hardouin, Acta Conciliorum, IV, 234 e 238: PL LXXXIX89 508B.

(30) Xisto IV, Bulla Cum praeexcelsa, de 28 de Fevereiro de 1476.

(31) Bento XIV, Bulla Gloriosae Dominae, de 27 de setembro de 1748.

(32) S. Afonso, Le glorie di Maria, p. I, c. I, § 1.

(33) Da liturgia dos Armenos: na festa da Assunção, hino do Matutino.

(34) Ex Menaeo (bizantino): Domingo depois do Natal, no Cânon, no Matutino.

(35) Offício, hino Akátistos (no rito bizantino).

(36) Missale Aethiopicum, Anáfora Dominae noetrae Mariae, Matris Dei.

(37) Brev. Rom., Versículo do sesto Respons.

(38) Festa da Assunção; hino ad Laudes.

(39) Ibidem, ao Magnificat, II Vésp.

(40) Lc 1, 32, 33.

(41) Ibid.1,43.

(42) S. João Damas., De fide orthodoxa, 1. IV, c.14, PG 94,1158s.B.

(43) 1Pd 1,18,19.

(44) 1Cor 6,20.

(45) Pio XI, Carta enc. Quas primas: AAS 17(1925), p.599.

(46) Festa aeptem dolorum B. Mariae Virg., Tractus.

(47) Eadmero, De excellentia Virginis Mariae, c. 11: PL 159, 308AB.

(48) E Suárez, De mysteriis vitae Christi, disp. XXII, sect. II (ed. Vivès. XIX, 327).

(49) S. Ireneu, Adv. haer., V,19,1: PG 9,1175B.

(50) Pio XI, Epist. Auspicatus profecto: AAS 25(1933), p. 80.

(51). Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 247.

(52) S. Sofrônio, In Annuntiationem Beatae Mariae Virg.: PG 87, 3238D e 3242A.

(53) S. Germano, Hom. II in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 98, 354B.

(54) S. João Damas. Hom. I. in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 96, 715A.

(55) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus: Acta Pii IX, I, p. 597-598.

(56) Ibid., p. 618.

(57) Leão XIII, Carta enc. Adiutricem populi: AAS 28(1895-96), p.130.

(58) Pio X, Carta enc. Ad diem illum: AAS 36(1903-1904), p. 455.

(59) S. Tomás, Summa Theol., I, q. 25, a. 6, ad 4.

(60) Pio XII, Carta enc. Humani generis: AAS, 42(1950), p. 569.

(61) Do Brev. Rom.: Festa da Assunção de Maria virgem

(62)Cf. Gn 9,13.

(63) Eccl. 43,12-13.

Retirado: Site do Vaticano

SALVE REGINA CAELORUM


Salve Regina Misericordiae. Tu nos ab hoste prótege, et mortis hora súscipe.

Salve, Rainha de misericórdia. Protegei-nos do inimigo e acolhei-nos da hora da nossa morte.

A festa da Bem-Aventurada Virgem Maria Rainha foi instituída pelo papa Pio XII em 11 de outubro pela carta Encíclica Ad Caeli Reginam. Quis com esta festa proclamar a realeza da Santíssima Mãe de Deus perante o mundo, ratificando nos fiéis a memória da Rainha do Céu e da Terra que já se prestava em alguns países.

Desde o início do cristianismo os fiéis cristãos e os Santos Padres e Doutores deram claro testemunho dos esplendores da Virgem Maria. Também os teólogos não se cansavam de mostrar a conveniência do título da Realeza da Virgem Maria, que está sempre acompanhada com a obra Redentora de Seu Filho Nosso Senhor Jesus Cristo. Ela é portanto, Rainha do Universo porque seu Filho é Rei de todo o Universo.

sábado, 28 de maio de 2011

Sobre o uso da Tiara Papal

Publicada por Mateus da comunidade Católicos do orkut

Linda tiara! Teria sido linda para a coroação. Apesar dos Papas, em geral, usarem a de um antecessor na coroação, e ganharem outra durante seu Papado. Mas temos que ter certos cuidados para não darmos mais importância para a tiara e seu uso do que é devido. E nem confundir a tiara, que é tradição (com t minúsculo mesmo), do que o que é Tradição.

A tiara papal, o Triregnum, não tem origem certa. Há várias teorias, e a maioria provavelmente já leu alguma. Mas acredita-se que, lá pelo século IX, ou X, o Papa teria começado a usar o que seria uma versão Católica de uma coroa. Ao contrário do que se pensa, não é para mostrar soberania da Igreja sobre as pessoas, mas para demonstrar autoridade do Papa sobre sua Igreja.

De novo, há várias interpretações sobre o significado da tiara. Mas a mais usada é que ela é chamada de triregnum justamente por ter 3 tiaras, simbolizando: “Supremo Pontífice” (tiara superior), “Jurisdição Eclesiástica Universal” (tiara do meio), e “Poder Temporal” (tiara inferior).

Até provavelmente o século XIV, a tiara só possuia 2 níveis.

O último a utilizá-la foi o Papa Paulo VI, e este havia deixado o uso da tiara nas instruções de coroação. Muitos radicais tradicionalistas tentam colocar até o fim do uso da tiara na conta de Paulo VI. Mas a verdade é que ele usou e, quando morreu, isso ainda estava lá.

Foi João Paulo I que substituiu a “Coroação Papal” por uma “Inauguração Papal”. De novo eu tenho que dizer que muitos correm pra dizer que era falta de apego às tradições, e que ele não queria a tiara. Mas, na verdade, ele não queria era a longa cerimônia de coroação, que durava dias, e era muito cansativa para todos. Sua saúde frágil foi provavelmente a maior razão.

João Paulo II apenas perpetuou a nova tradição.

Pessoalmente, acho a tiara linda. A segunda tiara de João XXIII foi a mais linda de todas, na minha humilde opinião. Ele havia usado a segunda tiara de Pio IX em sua coroação, mas como era costume, ele ganhou outra durante seu pontifcado.

O uso da tiara sempre foi raro. Apenas para cerimônias especiais. Não tenho nada contra sua volta, acho até muito bonito. Mas não se deve confundir a importância da tiara com objetos de reais valores Tradicionais, como o Pálio e o Báculo (ou a Férula, no caso do Papa). A tiara tem muito menos valor do que estes.

Muitos chutam que o desuso da tiara é uma afronta modernista. Mas grande parte da Igreja, já com uns 1000 anos quando a tiara começou a ser usada (e só séculos depois como a vimos nos últimos tempos), não achou nada bom o seu uso. Eram os tradicionalistas de então. Isso foi considerado uma aproximação indevida da Igreja com a nobreza da época, que freqüentemente se metia muito mais do que devia em assuntos eclesiásticos. O uso da tiara era visto como uma pompa desnecessária e que desviava os próprios propósitos da Igreja para coisas mundanas. 


Assim como o não-uso da tiara já não provoca surpresa, o uso da mesma caiu na tradição. Mas não se pode colocar a tiara no mesmo nível de outros símbolos da Igreja, e nem exagerar sua importância, fazendo parecer que, além de tradição (em minúsculo), ela seria Tradição (em maiúsculo mesmo).

Lembremo-nos que, foi por causa da época em que a Igreja passou a usar a tiara, mas principalmente por sua aproximação da nobreza, que tivemos problemas entre a Igreja e alguns valiosos membros, como os Franciscanos.

Obviamente que não era por causa da tiara em si, e o próprio Chesterton mostra como a bela ordem dos Franciscanos estava perdida e se desviando, na época, dos ensinamentos de seu fundador. Mas isso mostra que certos atos podem parecer, mesmo erradamente, como ostentação. Por mais errada que a interpretação de ostentação possa ser, ela obviamente virá. A questão é se a Igreja deve passar por isso de novo? E, como eu disse, por um símbolo sem a importância que alguns querem dar à tiara.


Linda, ótima para a coroação, mas sem a importância real dos outros símbolos.


Retirado de: Apostolado Tradição em Foco com Roma

Santo Agostinho de Cantuária, rogai por nós e pela Inglaterra!

Era monge da Abadia de S.André de Monte Célio de Roma, e foi enviado pelo Papa Gregório Magno à Grã-Bretanha, junto de quarenta companheiros com a missão de converter os anglos à fé Católica.

Agostinho partiu e ao chegar a Inglaterra, para sua surpresa, foi recebido pessoalmente, na ilha de Thenet, por Etelberto, Rei de Kent, o qual havia se casado com Bert, uma princesa católica, filha do rei de Paris. Após transmitir ao rei as chamadas "verdades cristãs", solicitou a ele permissão para pregar em seus domínios e foi prontamente atendido.

Agostinho levantou em Cantuária um mosteiro e depois lá estabeleceu a Sede Episcopal. Tendo o rei se convertido, teve a possibilidade de batizar 10.000 pessoas no Natal.

No dia de Santo Agostinho de Cantuária, o primeiro bispo da Inglaterra, peçamos a conversão dos Anglicanos e da Igreja da Inglaterra, ao retorno à Sé de Pedro e unidade da Igreja de Nosso Senhor.

Campanha pelo fim do "Glória Pirata"

Por Rafael Brodbeck

Senhor padre,

O Glória não é um momento em que se canta uma música de louvor ou que tenha a palavra "glória" na letra.

Não existe "música de glória". É diferente da Comunhão, da Entrada, do Ofertório, que são cerimônias que comportam uma música para acompanhar. (de preferência do Missal ou do Gradual, mas podendo ser outra). Já o Glória não é uma cerimônia que comporta uma música para acompanhar: é uma cerimônia em si mesma, que pode ser rezada ou cantada.

O Glória é uma cerimônia da Missa, uma parte do Ordinário da Missa. Na Comunhão, por exemplo, faz-se a cerimônia da Comunhão, e uma música pode acompanhar. O Glória não. A cerimônia do Glória é tão somente o recitar ou cantar do texto.

Por isso, senhor padre, não mutile a Missa, acrescentando "músicas de glória", com letras estranhas ao que diz o Missal.

A letra do Glória, em português, é a seguinte:

Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados.

Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso:
nós Vos louvamos,
nós Vos bendizemos,
nós Vos adoramos,
nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças,
por vossa imensa glória.

Senhor Jesus Cristo, Filho Unigénito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai:
Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós;
Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica;
Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós.

Só Vós sois o Santo;
só Vós, o Senhor;
só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo;
com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.

Amém.

Esse é o Glória original, o único permitido. Qualquer outro texto, por mais bonito, mais piedoso, mais ortodoxo que seja, é um Glória "pirata".

Post de: Salvem a Liturgia

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Desenhos II

Desenhos

Réplica não original, da foto do Card. Bartolucci.
Card. Bartolucc na festa da Imaculada Conceição, 2010

Los secretos del Sacristán de Benedicto XVI

Las tareas diarias del padre agustino Pavol Benedik le pone en contacto con algunos de los más preciosos tesoros de la Iglesia: la capilla Sixtina forma parte de su rutina diaria, así como los ricos ornamentos y los cálices de piedras preciosas usados en honor a Nuestro Señor a lo largo de la historia.


El sacerdote eslovaco es el sacristán papal desde 2006, tarea que le pone en contacto frecuente con los tesoros vivos de la Iglesia, como el Sucesor de Pedro y otros hombres eclesiásticos importantes.

ZENIT habló con el padre Benedik sobre su trabajo.

Cálice confeccionado para a Proclamação do
Dogma da Imaculada Conceição, em 1854. O cálice
mais precioso do Vaticano.
- Padre, usted trabaja en un sitio muy importante: usted es el sacristán del Santo Padre. Además es un sacerdote agustino. ¿Por qué fue su orden monástica la encargada de este interesante y noble servicio?

-Más o menos desde el siglo XIII y XIV, las grandes órdenes monásticas han realizado alguna tarea especial para la Santa Sede. Durante mucho tiempo los dominicos fueron los teólogos papales, los capuchinos fueron predicadores y alrededor del año 1400 hasta casi el 1600, los agustinos trabajaron en la sacristía. Parte de nuestro servicio pasado consistió en llevar también la biblioteca del Santo Padre. Más tarde las administraciones de la biblioteca y de la sacristía se dividieron y nuestra orden se quedó con la de la sacristía. Así que es una larga tradición religiosa para nosotros. Cuidamos los elementos sagrados, los que pertenecen al Santo Padre, y también de las capillas papales del Vaticano.

Hasta 1992, la persona que ocupaba mi cargo era siempre un obispo. Después comenzó a ser uno de nuestros hermanos. Personalmente, he desarrollado este servicio desde 2006. Esta es nuestra tarea, en cooperación con el maestro papal de ceremonias, el arzobispo Piero Marini.

- Estamos sentados en su despacho al lado de la Capilla Sixtina. A nuestro alrededor hay armarios de madera. ¿Qué hay dentro? ¿Están aquí las cosas del Papa actual?


-Hay muchas cosas, alguna de ellas antiguas. Muchos objetos, sin embargo, desaparecieron con Napoleón Bonaparte, ya que él cogió y destruyó muchos tesoros: tiaras, cálices etc. Él sabía que después de la guerra tenía que devolverlas, por los acuerdos militares internacionales. Así que fundió muchos cálices y otros objetos de gran valor histórico. De las cuatro tiaras que robó, no se salvó ni una. La única cosa que se pudo recuperar fue la esmeralda de la tiara de Julio II, que Napoleón engastó en una tiara nueva y la regaló a Pío VII. Tenemos también cálices del siglo XIV. Muchas de las cosas que hay son de los tiempos del Papa León XIII y Pío IX. Hay casullas, capas pluviales y capas pluviales pontificias.

- ¿Cuándo ve al Santo Padre? ¿Cómo son sus encuentros personales con él?

-Nos encontramos en las Misas públicas, en la liturgia. Preparamos todo los que necesita: las vestiduras, los ornamentos, todo. Antes de que empiece la Santa Misa él permanece en silencio, en oración, sin decir ni una palabra. No habla porque no hay razón para ello.

- ¿Le avisa antes para que usted prepare lo que se necesita para la Misa?

-Preparamos todo en cooperación con el arzobispo Marini. Nunca hemos tenido ningún problema, aunque algunas veces el arzobispo ha dicho que le habían llamado al tercer piso (donde vive el Papa) para realizarle alguna consulta.

- Benedicto XVI también celebra misas privadas. ¿Dónde se llevan a cabo y en qué idioma?


-Las misas privadas se celebran siempre en los apartamentos papales, en su capilla. La celebra cada mañana con sus secretarios y con las hermanas de la comunidad Memores Domini.

También están las llamadas misas semipúblicas, donde acude más gente, pero la capilla no es muy grande. Por razones de capacidad se usan la capilla de Redemptoris Mater o la capilla Paulina. La celebración es normalmente en latín y las lecturas se hacen en italiano.

- ¿Usa el Papa vestiduras y ornamentos que sus predecesores usaron? ¿Recibe regalos de este tipo u objetos para usar en las liturgias?


-Naturalmente que usa objetos que usaron antes sus predecesores. Por ejemplo el 1 de enero, usó las vestiduras litúrgicas de Pablo VI. También ha usado objetos de los siglos XVIII y XIX. No es algo inusual.

Justo después de su elección, usó todas las cosas de Juan Pablo II porque no tenía las de su propiedad. Tenía sólo su mitra de cardenal, donde se cambió la insignia cardenalicia por la papal.

Si usted pregunta por la posibilidad de regalarle vestiduras al Papa, por supuesto que es posible y además muy importante. U otros regalos, dependiendo de quien quiere realizar la donación. Estos regalos son signos de respeto. Muchos de los objetos que están bajo nuestro cuidado han sido donados: cálices y otros objetos regalados a los Papas Pío IX y León XIII. Normalmente son donaciones.

- ¿Cómo es el procedimiento cuando alguien quiere hacerle un regalo al Papa? ¿Dónde debe ir?

-Si alguien quiere realizar esto, debería escribir a la prefectura de la Casa Pontificia o a la Oficina de Celebraciones Litúrgicas. El regalo se da durante las audiencias. Sólo es necesario notificarlo previamente.

- ¿Tiene Benedicto XVI a una persona o empresa que le realice las vestiduras litúrgicas y los zapatos?

-No, no hay sólo una. Y no creo que fuera apropiado apoyar un monopolio. Si alguien nos dona algo, es otra cuestión, pero no si lo encargamos nosotros. No veo razón de que haya sólo una empresa. El precio también importa. Elegimos las mejores opciones.

- ¿Qué es lo que más le gusta de su servicio?¿Podría contarnos alguna experiencia interesante?

-Es difícil elegir sólo una. Estoy contento ya que el trabajo que hago me satisface mucho. Me da un disfrute y una satisfacción espirituales. Nunca pensé que llegaría hasta aquí. Mi superior general me envió hasta este sitio: me preguntó si me gustaría y accedí (sonríe).

También estoy en contacto con el Santo Padre. Él es muy humilde y atento. No puedo decir que haya hecho nunca una petición especial. Se viste en humildad y silencio, y también esto constituye una experiencia espiritual intensa.

Además, conozco a gente con grandes capacidades espirituales. Esta mañana, por ejemplo, escuché una predicación del padre Raniero Cantalamessa (el predicador de la Casa Pontificia).

- En su trabajo, usted pasa con regularidad por la Capilla Sixtina. ¿Es, ahora, para usted, una habitación normal?

-A veces es muy difícil atravesar la capilla, por estar abarrotada de gente. Pero a menudo me sucede que encuentro cosas nuevas allí, o que la gente me pregunta ciertas cosas. A veces la atravieso, pero no soy un turista allí. A menudo no puedo porque no tengo tiempo por el trabajo. Me gusta ir cuando está cerrada al público. Observar, meditar, pensar sobre las cosas necesita silencio. En los libros se puede encontrar muchísima información sobre ella, pero para mí también es una catequesis.

Tuve una oportunidad única en agosto del año pasado. Se estaban limpiando las paredes de la Capilla: el trabajo comenzaba por la tarde y terminaba por la noche. Tuve la oportunidad de ver las pinturas de muy cerca, subido a un andamio. Por ejemplo, “El juicio final”. Desde la distancia es distinta que observándola de cerca. Fue una experiencia preciosa para mí.

- Usted lleva muchas llaves. ¿Cuál es irreemplazable? ¿Qué tesoros tiene a su alcance?

-Hay dos muy importantes: Una la de la sacristía donde están las cosas del Papa. Y la segunda más importante es la del tesoro papal, donde se guardan vestiduras antiguas, cálices y custodias preciosas. Hay, por ejemplo, un cáliz de 1854 de la proclamación del dogma de la Inmaculada Concepción de la Virgen María. A su lado hay un cáliz de cristal que el Papa Pablo VI trajo al tesoro. También hay un copón de lata de sardinas, que fue usado por el cardenal checo Josef Beran durante sus misas en prisión.

¿Diría que esta lata de sardinas es la cosa más curiosa de la colección que usted administra?

-Es interesante, por estar al lado del cáliz de 1854, que está decorado con diamantes y oro; al principio parece ser una copa ordinaria, con una lata de sardinas. Pero ambas son al principio parece ser un cáliz normal, con una lata de sardinas. Pero ambos son muy importantes para la Iglesia.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Bento XVI reza o Santo Rosário na Basílica de Santa Maria Maior




O Papa Bento XVI recitou o Santo Rosário com os bispos italianos, na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, na tarde desta quinta-feira, 26. Os prelados estão reunidos em Assembleia Geral desde terça-feira, 24.


 "A fé, de fato, não é alienação: são outras as experiências que poluem a dignidade do homem e a qualidade da convivência social! Em cada época histórica, o encontro com a palavra sempre nova do Evangelho foi fonte de civilidade, construiu pontes entre os povos e enriqueceu o tecido das nossas cidades, exprimindo-se na cultura, nas artes e, não por último, nas diversas formas de caridade", enfatizou.

Nesse sentido, a Itália deve ser orgulhosa da presença e ação da Igreja, que não persegue privilégios nem busca substituir as instituições políticas, mas sustentar os direitos fundamentais do homem – como a promoção e tutela da vida em todas as suas fases e sustentar ativamente a família, "primeira realidade na qual podem crescer pessoas livres e responsáveis, formadas naqueles valores profundos que abrem à fraternidade e que permitem afrontar também as adversidades da vida", explicou o Pontífice.

Diante da imagem da Virgem Maria, Salus Populi Romani, o Bispo de Roma confiou à proteção da Mãe de Deus todo o povo italiano, por ocasião dos 150 anos da unidade política do país, celebrada na Itália no último dia 17 de março.

"A Mãe de Deus encoraje os jovens, conforte os doentes, implore sobre cada um uma renovada efusão do Espírito, ajudando-nos a reconhecer e a seguir também neste tempo o Senhor, que é o verdadeiro bem da vida, porque é a vida mesma", pediu, ao mesmo tempo em que suplicou os dons da paz e da fraternidade e do desenvolvimento solidário, e que as forças políticas superem toda a contraposição prejudicial em prol de um quadro mais amplo que busque o bem do país.

Por: CN

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Será que o veremos algum dia assim?

Card. Bagnasco agradece ao Papa pela Instrução Universae Ecclesiae


Em seu discurso à Assembleia Geral, LXIII da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Angelo Bagnasco, seu presidente diz:


“O primeiro diz respeito à Instrução Universae Ecclesiae destinada a dar uma correta aplicação ao Motu Proprio Summorum Pontificum de 7 de julho de 2007 e, portanto, a recuperar de modo mais comprometido e harmonioso - no âmbito de cada diocese - todo o patrimônio litúrgico da Igreja Católica. Em substância, destinada a nunca ferir a concórdia de cada igreja particular com a Igreja Católica, antes, atuando para unir todas as forças e restituir à liturgia o seu poderoso encanto”.

Leia a Instrução clicando no link.


Retirado de: Subsídios Litúrgicos

Ela está de volta! Bento XVI recebe como presente uma Tiara Papal.




Fotos de: Orbis Catholicus

domingo, 22 de maio de 2011

Cardeal Burke reza diante da maior clínica de abortos do mundo, nos EUA

Card. Darío Castrillón : os sacerdotes podem decidir, sem permissão nem por parte da Santa Sé nem por parte do bispo, se celebrar a Missa no rito antigo.


"Carta apostólica do Papa Bento XVI Summorum Pontificum sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma realizada em 1970 está a fazer regressar à plena comunhão com Roma também alguns não-católicos. Os pedidos nesse sentido estão chegando depois de o papa ter renovado a possibilidade de celebram acordo com o antigo rito."


"A carta, sob a forma de Motu proprio, não se refere à actual Forma normal - a Forma ordinária - da Liturgia Eucarística, que é Missal Romano publicado por Paulo VI e, em seguida, reeditado por duas vezes pelo Papa João Paulo II, mas refere-se ao uso da forma extraordinária, que é a do Missale Romanum prévia ao Concílio, publicada em 1962 com a autoridade do Papa João XXIII. Este não é um caso de dois ritos diferentes, mas de um duplo uso único rito Romano. É a forma de celebração - explica o cardeal colombiano - "que foi usada por mais de 1400 anos. Este rito, o que poderíamos chamar gregoriano, tem inspirado as missas de Palestrina, Mozart, Bach e Beethoven, grandes catedrais e maravilhosas obras de pintura e escultura. "

Cardeal Darío"Graças ao Motu proprio não poucos têm solicitado o retorno à plena comunhão e alguns já retornaram - o presidente da Ecclesia Dei acrescenta -. Na Espanha, o" Oásis de Jesus Sacerdote ", um inteiro mosteiro enclausurado com trinta irmãs guiadas por seu fundador, já foi reconhecido e regularizado pela Comissão Pontifícia; então há casos de grupos americanos, da Alemanha e de França que estão no caminho da regularização. Finalmente, há sacerdotes em particular e leigos que nos contactam, escrevem para nós e nos pedem uma reconciliação e, por outro lado, existem outros tantos fiéis que expressam a sua gratidão para com o papa e sua alegria pelo Motu proprio ".

Cardeal Castrillón: Por ocasião do Baptismo do Senhor, por exemplo, Bento XVI celebrou na Capela Sistina com o rosto para o crucifixo. O Santo Padre celebra em italiano, de acordo com a forma ordinária, o que não exclui, contudo, a possibilidade de celebrar voltado para o altar e não versus populum, e que também prevê a celebração em latim.

Lembremo-nos que a forma ordinária é a Missa que normalmente todos os padres dizem, de acordo com a reforma pós-conciliar, enquanto que a forma extraordinária é a missa anterior à reforma litúrgica, que, de acordo com o Motu proprio hoje toda a gente pode comemorar, e que nunca foi proibida.

Cardeal Darío: Um ou dois têm dificuldades, mas essas são apenas algumas excepções, porque a maioria concorda com o Papa. Em vez disso, encontramos algumas dificuldades práticas . É preciso que fique claro: isto não é um regresso ao passado, mas um passo em frente, porque dessa maneira você tem dois tesouros, e não apenas um.

Este tesouro, portanto, está sendo oferecido, respeitando os direitos daqueles que são sobretudo aqueles ligados à liturgia antiga. Aí então pode seguir alguns problemas a serem resolvidos com o senso comum. Por exemplo, pode acontecer que um sacerdote não tem a preparação adequada e sensibilidade cultural. Pensam só nos sacerdotes que vêm de áreas onde a língua é muito diferente do latim. Mas isso ainda não significa uma rejeição: é a apresentação de uma dificuldade real, que está a ser superada.

A nossa própria Pontifícia Comissão está pensando em organizar uma forma de ajuda aos seminários, às dioceses e às conferências episcopais.

Outra possibilidade a ser estudada é o de promover a vinda de recursos multimédia para conhecer e aprender a forma extraordinária com toda a riqueza teológica. Espiritual, e artística ligada à antiga liturgia. Além disso, parece importante também para envolver grupos de sacerdotes que já utilizam a forma extraordinária, que se ofereçam eles mesmos para celebrar e para demonstrar e ensinar a celebração de acordo com o missal de 1962.

Recentes palavras do Cardeal Castrillón Hoyos, Presidente Emérito da Pontifícia Comissão "Ecclesia Dei".

"os fiéis que desejam celebrar segundo o rito antigo não devem ser considerados como de segunda classe, mas uma parte do povo de Deus ao qual se reconheceu o direito de assistir à Missa que nutriu durante séculos o Povo cristão, e a sensibilidade de muitos santos, como São Felipe Neri, São João Bosco, Santa Teresa de Lisieux, Beato João XXIII, e São Pio de Pietralcina; e é possível assinalar que o antigo rito exprime melhor o sentido do sacrifício Cristo, que se renova em cada santa Missa. Bento XVI tem deu realização a um dos objectivos do Concílio Vaticano II, que " obedecendo fielmente à tradição, declara que a Santa Mãe Igreja considera iguais em direito e em dignidade todos os ritos legitimamente reconhecido" (Sacrosantum Concilium). Acrescenta que "o mesmo Pontífice quis que os futuros sacerdotes, já desde o tempo do seminário, sejam preparados para compreender e celebrar a Missa em latim, assim como para utilizar textos latinos, e siguir o Canto gregoriano" (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis)

Cardeal Darío: É, antes, uma disputa que surgiu a partir duma falta de conhecimento. Alguns pedem permissão por exemplo, como se fosse uma concessão ou um caso excepcional, mas não há necessidade: o Papa foi claro. É um erro de algumas pessoas e alguns jornalistas acreditar que o uso da língua latina pertence apenas ao antigo rito, que, ao contrário, está também previsto no missal de Paulo VI.

Através do Motu proprio "Summorum Pontificum", o Papa oferece a todos os sacerdotes a possibilidade de celebrar missa na forma tradicional, e aos fiéis de exercer o direito de ter este rito quando as condições especificadas no Motu proprio estão preenchidas.

Cardeal Darío : Os Lefebvrianos, à partida, mantiveram que a velha forma que nunca tinha sido abolida. É claro que nunca tenha sido revogada, embora antes do Motu proprio, muitos já considera proibido.

Mas agora, ela pode ser oferecida a todos os fiéis que a desejam que, dependendo das possibilidades. Mas também é evidente que se não houver um padre adequadamente preparado, não pode ser oferecido porque não é só sobre a língua latina, mas também de conhecer o antigo uso como tal.

Temos de compreender algumas diferenças: o maior lugar para o silêncio para os fiéis, que incentiva a contemplação do mistério e oração pessoal.

Encontrando novamente espaços de silêncio hoje é para a nossa cultura não só uma necessidade religiosa.

Lembro-me de ter participado como um bispo em um encontro de alto nível de gestão empresarial , em que se falou da necessidade de o gerente ter disponível uma sala meio escura, onde se senta para pensar antes de decidir.

Silêncio e contemplação são atitudes necessárias, também hoje, sobretudo no que respeita ao mistério de Deus.

Cardeal Darío:O papa oferece à Igreja um tesouro que é espiritual, cultural, religioso e católico. Temos recebido cartas de aprovação de prelados também das igrejas ortodoxas, anglicanos e protestantes . Finalmente, existem alguns padres da Fraternidade de São Pio X, que, isoladamente, estão a tentar regularizar sua situação. Alguns deles já assinou a fórmula de aderência. Nós somos informados que existem fieis tradicionalistas , apegados à Fraternidade, que tenham começado a frequentar as missas no rito mais velhos oferecidos nas igrejas das dioceses ".

Cardeal Darío : A excomunhão diz respeito apenas a quatro Bispos, porque foram ordenados sem o mandato do Papa e contra a sua vontade, enquanto os sacerdotes estão apenas suspensos.A Missa que ele celebram é sem sombra de dúvida válida, mas não lícita e, por conseguinte, a participação não é recomendada, a não ser em um domingo que não haja outras possibilidades.

Certamente nem os padres, nem os fiéis estão excomungados. Permitam-me reiterar, neste aspecto, a importância de uma compreensão clara das coisas para poder julgar correctamente.De facto, os bispos da Fraternidade de São Pio X, liderados por Monsenhor Bernard Fellay, reconheceram expressamente o Vaticano II como um Concílio Ecuménico e monsenhor Fellay reafirmou isso em uma reunião com o Papa João Paulo II, e de forma mais explícita na audiência de 29 de agosto de 2005 com Bento XVI.

Também não se pode esquecer que Monsenhor Marcel Lefebvre assinou todos os documentos do Concílio.

Acho que suas críticas sobre o Concílio diz respeito à clareza de certos textos, na ausência da qual o caminho está aberto para interpretações que não estão em conformidade com a doutrina tradicional.

As maiores dificuldades são de natureza interpretativa ou têm a ver com alguns gestos no campo ecuménico, mas não com o ensinamento do Concílio Vaticano II. Trata-se de discussões teológicas, que podem ter lugar dentro da Igreja, onde, de facto, há diversas discussões sobre a interpretação dos textos do Concílio, discussões que podem continuar também com os grupos que regressam à plena comunhão.

Cardeal Darío : Sim, sem dúvida, porque é justamente na liturgia que todo o sentido da catolicidade é expresso e ela [a liturgia] é uma fonte de unidade. Eu realmente gosto do Novus Ordo que eu celebro diariamente. Eu não tinha mais celebrado de acordo com o missal de 1962, após a reforma litúrgica pós-conciliar.

Hoje ao resumir, por vezes, o rito extraordinário, eu próprio tenho redescoberto a riqueza da velha liturgia que o Papa quer manter viva, preservando o antiga forma de tradição Romana. Nunca devemos esquecer que o último ponto de referência na liturgia, como na vida, é sempre Cristo. Temos, portanto, sem medo, também no rito litúrgico, voltar-nos para Ele, em direcção ao crucifixo, juntamente com os fiéis, para celebrar o santo sacrifício, de um modo incruento, como o Concílio de Trento, definiu a Missa.

Fonte: Missa Gregoriana em Portugal

sábado, 21 de maio de 2011

O Brasil se prepara à Beatificação do Anjo Bom da Bahia

No próximo domingo, 5º da Páscoa, a Igreja no Brasil terá a grande alegria de ver subir às honras dos altares, como Beata ou Bem-Aventurada, aquela que já em vida foi cognominada o “anjo bom da Bahia” – a Irmã Dulce –, amiga e companheira dos pobres e desvalidos. Seu itinerário de santidade, no qual a Igreja reconhece as suas virtudes heróicas, é um caminho marcado humana e naturalmente por incompreensões de tantos, mas que, sobrenaturalmente, foi capaz de tocar os corações endurecidos, para que na meiguice de quem pedia não se deixasse faltar o essencial aos mais pobres, ensinando a todos a partilhar, mesmo o pouco que tinham.A data coincide com a Memória de Santa Rita que, como cai no domingo, neste ano não é celebrada, mas nos mostra também outra mulher forte que em outra época e situação viveu a fé e é sinal até hoje da providência de Deus em sua vida.


Em nossa mudança cultural, a mídia utilizou o termo “beata” de uma maneira imprópria e, em nosso linguajar comum, acabamos acolhendo esse tipo de interpretação que, inclusive, está em nossos dicionários. Cabe a nós restaurarmos o verdadeiro uso da palavra e valorizá-la. Muitos vocábulos importantes já foram deturpados em nossa língua. Que a Beata Irmã Dulce interceda por nós para que consigamos anunciar o Evangelho e levar as pessoas a fazer da nossa cultura uma cultura de valores humanos e cristãos que ajudem a transformar esta situação de violência, corrupção, medo, destruição e divisão que ora ocorre.

A constituição pastoral Lumen gentium do Concílio Ecumênico Vaticano II recorda, em seu quinto capítulo, a vocação universal à santidade, ou seja, ser santo é o caminho que todo aquele que renasce pela água do batismo deve percorrer. O Beato João Paulo II, quando em sua visita ao Brasil, disse que o Brasil precisava de Santos. Eles existem, não é a Igreja que os “fabrica”, mas apenas constata com um processo minucioso a vida e as virtudes daqueles e daquelas que o povo já tem em conta de “santos”. E vai muito mais além, para a beatificação e canonização supõe também um milagre por intercessão e da invocação do nome de quem pedimos a Deus. Milagre esse comprovado por médicos e cientistas, demonstrando que não tem outra explicação que não seja uma intervenção especial. Quando professamos a nossa fé, pronunciamos que acreditamos na Igreja Santa, ou seja, a santidade é uma nota teológica na Igreja, mesmo sabendo que, embora santa, ela possui em seu seio membros pecadores que são continuamente chamados à conversão.

Temos uma beata muito perto de nós, uma brasileira como nós, que escolhendo radicalmente a Cristo, percebeu, no quotidiano de sua missão, a singular presença que Ele manifestava naqueles que não tinham nome, nem muitas vezes propriamente um rosto para a sociedade. Acredito que em nossas comunidades existam muitas outras pessoas, homens e mulheres, jovens e adultos, crianças e idosos, leigos e consagrados, que viveram uma vida heróica e poderiam ser colocados como exemplos de vida para todos nós.

O Beato João Paulo II nos recordou que “santo é aquele que faz de modo extraordinário, as coisas ordinárias”; nesse contexto, sem dúvida, pode ser inserida a vida daquela que dentro em breve, por sua santidade, não será simplesmente o anjo bom da Bahia, mas o anjo bom do Brasil.

Ir. Dulce fez, de modo extraordinário, aquilo que cada cristão deve fazer ordinariamente, ou seja, no cotidiano, no dia a dia: exercer a caridade, fazer-se oferta pelo outro, ver no outro a presença do Cristo Ressuscitado, sobretudo daqueles que mais sofrem e que estão à margem, dando-lhes a certeza de que possuem sua dignidade e que Deus lhes manifestará com predileção o seu amor, pois vem em socorro dos que são pobres e oprimidos.

Tirar o pobre da sua mais profunda miséria dos bens materiais, daquele mais básico, da fome, foi aquilo que fez o “anjo bom do Brasil”, sem que tivesse, entretanto, bens matérias, nunca deixou de acreditar na Providência Divina, que jamais lhe faltou, pois nela confiava, e quando a ela rogava tudo lhe chegava, mesmo o pouco, pois mesmo isso, diante de Deus é muito, nunca acumulando, mas partilhando e fazendo multiplicar para salvar a fome de tantos.

A razão principal de sua ação foi justamente o seu encontro com Jesus, o Cristo Senhor Ressuscitado, que deu sentido a toda a sua vida e trabalho. O segredo de uma vida doada aos irmãos tem sempre como centro o Cristo. Aberta à ação do Espírito Santo, a nossa querida Ir. Dulce deixou-se conduzir pelos caminhos da fraternidade e, mesmo em dificuldades econômicas extremas, demonstrou a providência de Deus atuando e agindo. Neste tempo de tantos questionamentos sobre os valores cristãos, a sua vida é uma demonstração daquilo que um cristão, com a graça de Deus, consegue amenizar da pobreza e da dor humana. A Igreja, através de seus santos e santos, dá uma resposta ao mundo de como a vida de santidade e a busca de Deus, seguindo a Cristo e vivendo a Sua Palavra, não só transforma os corações, mas faz da pessoa um sinal de paz e de vida para os seus irmãos e irmãs. E tudo isso é dom, é graça do Senhor.

Preocupar-se com os que estão à margem e comprometer-se com a necessidade de mudança, em um país como o nosso, com tantas dádivas de Deus, não poderíamos ter pessoas que passam fome se houvesse uma justiça mais distributiva, que nasce da capacidade de por em comum os bens que a todos pertencem. Se uma pobre como a Irmã Dulce pôde fazer tantas coisas para tantos, como não poderia ser diferente o nosso país se todos tivessem a mesma disponibilidade de pensar no seu irmão com responsabilidade, e assim multiplicar os dons que Deus nos concede.

Cuidar do pobre e do faminto, como fazia a Irmã Dulce, não é um convivente para que nesse estado de miséria esses se mantenham, é conduzi-los à sua dignidade de Filhos de Deus, dando-lhes a certeza de que os bens desse mundo são transitórios, efêmeros, e que não é da vontade Dele que homens e mulheres morram de fome, não tenham onde morar.

Sabemos que a ação social para as pessoas necessitadas precisa resolver com urgência a fome, e por isso parece como se fosse apenas assistencialista, mas sabemos que esse primeiro passo leva à formação e questiona a transformação social, econômica e política. A consciência dos cristãos leva-os a se comprometerem com o “mundo novo”, onde reine a presença de Deus que conduz à paz e à vida em plenitude. Os que questionam a assistência aos pobres também não aceitam quando reclamamos das injustiças e da necessária mudança social. Os Santos e Santas fazem tudo isso com uma vida de simplicidade e virtudes, sendo sinal de contradição para o seu tempo.

A Igreja do Rio de Janeiro se une à Igreja Mãe de São Salvador da Bahia na ação de graças pela beatificação da mulher que cuidou dos mais pobres. Cumprimento Excelentíssimo Senhor Arcebispo, Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger, SCJ, e o Legado Pontifício, Sua Eminência Geraldo Majela, Cardeal da Santa Igreja Romana, Agnelo, pela alegria eclesial que proporcionam ao povo da Bahia e do Brasil pela santidade da fidelidade e do serviço da religiosa elevada às glórias dos altares.

Que interceda por nós o “anjo bom do Brasil”, a bem-aventurada Irmã Dulce, para que todos, desde os mais simples até os mais importantes, que em verdade deveriam estar à testa para servir, sejam capazes de aprender a partilhar, a fazer de modo extraordinário, o ordinário de repartir o pão com os necessitados.

Beata Irmã Dulce, interceda por nós!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

Fonte: RV
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