sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

São Silvestre, rogai por nós!

Este Papa dos inícios da nossa Igreja era um homem piedoso e santo, mas de personalidade pouco marcada. São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele, da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é, igual aos apóstolos.


E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder espiritual diferente e acima do civil ou político.

E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.

Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.

Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois presbíteros.

Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas, reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer demasiado submisso ao Imperador.

Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo, proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre.

Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla, a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.

Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão (residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S. João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.

Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cardeal Burke celebra missa pontifical no seminário dos Franciscanos da Imaculada em Roma

Texto e fotos de: New Liturgical Movement

No domingo, 26 de dezembro, Sua Eminência o Cardeal Raymond Leo Burke celebrou uma Missa Pontifical no Seminário dos Frades Franciscanos da Imaculada, em Roma. A Missa foi celebrada em honra do Padre Stefano Maria Manelli, sendo o seu dia de festa do padroeiro, e em ação de graças para a elevação de Sua Eminência ao cardinalato. A missa foi cantada pelos coros combinado dos frades franciscanos e Irmãs da Imaculada de vários conventos dos F.I na Itália, e foi conduzido pela Ir. Maria Cecília Manelli e Pe. Giovanni Maria Manelli - resultando em um excelente exemplo da magnificência da Missa. Os irmãos e irmãs também tiveram a honra de receber Sua Excelência Dom Gino Reali, bispo da diocese local de Porto-Santa Rufino, em Roma.

Em sua homilia, o Cardeal Burke focou na necessidade de beleza e esplendor, na liturgia sagrada, ecoando o que Sua Santidade o Papa Bento XVI escreveu na carta que acompanha o seu Moto Proprio "Summorum Pontificum": "Não é apropriado falar destas duas versões do Missal Romano como se fossem «dois ritos». Pelo contrário, é uma questão de um duplo uso do único e mesmo Rito. "E" O que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Cabe a todos nós, para conservar as riquezas que foram crescendo na fé da Igreja e de oração, e dar-lhes seu devido lugar ... "

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O que diziam os Santos Padres sobre o aborto.

Hoje no dia em que celebramos a festa dos Santos Mártires Inocentes, recordamos dos atuais mártires, as vítimas de suas próprias mães.

Vejamos o que pensavam e diziam os Santos Padres sobre o aborto.

Beato Pio IX: “Declaramos estar sujeitos a excomunhão latae sententiae (anexa diretamente ao crime) os que praticam aborto com a eliminação do concebido”

(Bula Apostolicae Sedis de 12/10/1869).




Pio XI: 63. Mas devemos recordar ainda, Veneráveis Irmãos, outro gravíssimo delito por que se atenta contra a vida da prole escondida ainda no seio materno.

Uns julgam que isso é permitido e deixado ao beneplácito da mãe e do pai. Outros, todavia, o consideram ilícito a não ser que haja gravíssimas causas, que chamam indicação médica, social, eugênica.

Todos estes exigem que, no que se refere às leis penais do Estado, pelas quais é proibida a morte da prole gerada mas ainda não nascida, as leis públicas reconheçam a declarem livre de qualquer castigo a indicação que preconizam e que uns entendem ser uma e outros entendem ser outra. E até não falta quem peça que as autoridades públicas prestem o seu auxílio nessas operações assassinas, o que, ai! todos sabem quão freqüentissimamente acontece em certos lugares.

“NÃO MATAR”

64. No que respeita, porém, à “indicação médica e terapêutica” — para Nos servirmos de suas próprias palavras — já dissemos, Veneráveis Irmãos, quanta compaixão sentimos pela mãe a quem o cumprimento do seu dever natural expõe a graves perigos da saúde e até da própria vida; mas que causa poderá jamais bastar para desculpar de algum modo a morte direta do inocente? Porque é desta que aqui se trata.

Quer a morte seja infligida à mãe, quer ao filho, é contra o preceito de Deus e a voz da natureza: “Não matar” (Ex 20, 13; Cf. Decr. Santo Ofício, 4 maio 1898, 24 julho 1895, 31 maio 1884). A vida de um e de outro é de fato coisa igualmente sagrada, que ninguém, nem sequer o poder público, terá jamais o direito de destruir.

Insensatissimamente se faz derivar contra os inocentes o jus gladii, que não tem valor senão contra os culpados; também de maneira nenhuma existe aqui o direito de defesa até ao sangue contra o injusto agressor (pois quem chamará injusto agressor a uma criancinha inocente?); tampouco o chamado direito de extrema necessidade, que pode ir até à morte direta do inocente.

Os médicos que têm probidade e ciência profissional louvavelmente se esforçam por defender e conservar ambas as vidas, a da mãe e a do filho; pelo contrário, mostrar-se-iam indigníssimos do nobre título e da glória de médicos aqueles que, sob a aparência de arte médica ou movidos de mal-entendida compaixão, se entregassem a práticas assassinas.

65. E tudo isto está plenamente de acordo com as severas palavras com que o Bispo de Hipona [Santo Agostinho] se insurge contra os cônjuges depravados que procuram evitar a prole e, não obtendo êxito, não receiam matá-la criminosamente. Diz ele:

“Algumas vezes essa crueldade impura ou impureza cruel chega ao ponto de recorrer aos venenos da esterilidade, e, se com eles nada consegue, procura extinguir de algum modo no ventre materno o fruto concebido e livrar-se dele, preferindo que a prole morra antes de viver ou se já vivia no ventre seja morta antes de nascer. Sem dúvida, se ambos assim são, não são cônjuges; e, se tais foram desde princípio, não se uniram por matrimônio, mas por ilícitas relações; se, porém, ambos assim não são, ouso dizer: ‘ou ela é de algum modo meretriz do marido, ou ele adúltero da mulher’” (S. Agostinho, De nupt. et concupisc. c. XV).

66. Aquilo, porém, que se propõe acerca da indicação social e eugênica pode e deve ser tomado em consideração, contanto que se proceda de modo lícito e honesto e dentro dos devidos limites; mas, quanto a querer prover à necessidade em que se apóia com a morte dos inocentes, repugna à razão e é contrário ao preceito divino, promulgado aliás por aquelas palavras apostólicas: “não se deve fazer mal para que daí venha bem” (Cf. Rom. III, 8).

67. Aqueles, enfim, que têm o supremo governo das nações e o poder legislativo não podem licitamente esquecer-se de que é dever da autoridade pública defender a vida dos inocentes com leis oportunas e sanções penais, tanto mais quanto menos se podem defender aqueles cuja vida está em perigo e é atacada, entre os quais ocupam, sem dúvida, o primeiro lugar as crianças ainda escondidas no seio materno.

Se os magistrados públicos não só não defenderem essas crianças mas, por leis e decretos, as deixarem ou até entregarem a mãos de médicos ou de outros para serem mortas, lembrem-se de que Deus é juiz e vingador do sangue inocente, que da terra clama ao céu (Cf. Gn 4, 10).

Encíclica “Casti Connubii”, 31 de dezembro de 1930


Pio XII: “A vida humana inocente, de qualquer modo que se encontre, é subtraída, desde o primeiro instante de sua existência, a qualquer direto ataque voluntário.


“É este um direito fundamental da pessoa humana, de valor geral no conceito cristão da vida; válido tanto para a vida ainda escondida no seio da mãe, como para a vida já desabrochada fora dela; tanto contra o aborto direto como contra a direta morte da criança antes, durante e depois do parto.

“Porquanto fundada possa ser a distinção entre os diversos momentos do desenvolvimento de vida nascida ou ainda não nascida para o direito profano e eclesiástico e para algumas conseqüências civis e penais, segundo a lei moral, trata-se em todos estes casos de um grave e ilícito atentado à inviolabilidade da vida humana.

“Este princípio vale para a vida da criança, como para a da mãe. Jamais e em nenhum caso a Igreja ensinou que a vida da criança deve ser preferida à da mãe.

“É errôneo colocar a questão com esta alternativa: ou a vida da criança ou a da mãe. Não; nem a vida da mãe, nem a da criança, podem ser submetidas a um ato de direta supressão.

“Para uma outra parte, a exigência não pode ser senão uma; fazer todo esforço possível para salvar a vida de ambas, da mãe e da criança.”

Discurso ao Congresso “Fronte da Família” de 27 de novembro de 1951.

João Paulo II: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus Sucessores, em comunhão com os Bispos — que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que, na consulta referida anteriormente, apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina — declaro que o aborto directo, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente.


“Tal doutrina está fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela Tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal”.

João Paulo II, encíclica “Evangelium vitae”, (n. 62)

Santos Mártires Inocentes, rogai por nós!

A festa dos Santos Inocentes é do século V, pouco mais ou menos. A morte destas crianças manifesta, a seu modo, a realeza de Jesus. Foi por ter acreditado nas palavras dos Magos e dos Príncipes dos Sacerdotes, por ele consultados, que Herodes viu no Menino Jesus de Belém um rival, e perseguiu com carnificina o "Rei dos Judeus", que acabava de nascer. Mas, como canta a Igreja: "Cruel Herodes, que receias tu da vinda de Cristo? Não arrebata os cetros mortais, aquele que dá os reinos celestes".

É a glória deste Rei Divino que os Inocentes proclamam com a sua morte e a honra que eles dão a Deus é um motivo de confusão para os inimigos de Jesus, porque, longe de conseguirem o fim que se propunham, não fazem mais que dar cumprimento às profecias, as quais anunciavam que o Filho do Homem voltaria do Egito e que em Belém seria grande o choro das mães lamentando a morte dos filhos. E para pôr mais ao vivo a desolação dessas mães, Jeremias evoca Raquel, mãe de Benjamim, chorando a perda de seus descendentes. Mãe compassiva, a Igreja reveste os seus ministros de paramentos de cor vermelha que lembra o sangue derramado pelos inocentes.

Confessemos nós por uma vida isenta de vícios a divindade de Jesus que estas almas inocentes confessaram com a morte.

A festa de hoje também é um convite a refletirmos sobre a situação atual desses milhões de "pequenos inocentes": crianças vítimas do descaso, do aborto, da fome e da violência. Rezemos neste dia por elas e pelas nossas autoridades, para que se empenhem cada vez mais no cuidado e no amor às nossas crianças, pois delas é o Reino dos Céus. Por estes pequeninos, sobretudo, é que nós cristãos aspiramos a um mundo mais justo e solidário.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

“Chega de missa criativa, na igreja silêncio e oração”.

Retirado de: Fratres in Unum.com

Apresentamos nossa tradução da entrevista concedida pelo Cardeal Antonio Cañizares a Andrea Tornielli, do Il Giornale, via La Buhardilla de Jerónimo.

A liturgia católica vive “uma cerca crise” e Bento XVI quer dar vida a um novo movimento litúrgico, que volte a trazer mais sacralidade e silêncio à Missa, e mais atenção à beleza no canto, na música e na arte sacra.


O Cardeal Antonio Cañizares Llovera, 65 anos, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, que enquanto bispo na Espanha era chamado de “o pequeno Ratzinger”, é o homem ao qual o Papa confiou esta tarefa. Nesta entevista a Il Giornale, o “ministro” da liturgia de Bento XVI revela e explica programas e projetos.

Como cardeal, Joseph Ratzinger havia lamentado uma certa pressa na reforma litúrgica pós-conciliar. Qual é a sua opinião?

A reforma litúrgica foi realizada com muita presa. Havia ótimas intenções e o desejo de aplicar o Vaticano II. Mas houve precipitação. Não se deu tempo e espaço suficiente para acolher e interiorizar os ensinamentos do Concílio; de repente, mudou-se o modo de celebrar.


Recordo bem a mentalidade então difundida: era necessário mudar, criar algo novo. Aquilo que havíamos recebido, a tradição, era visto como um obstáculo. A reforma foi entendida como obra humana, muitos pensavam que a Igeja era obra de nossas mãos e não de Deus. A renovação litúrgica foi vista como uma investigação de laboratório, fruto da imaginação e da criatividade, a palavra mágica de então.

Como cardeal, Ratzinger havia prognosticado uma “reforma da reforma” litúrgica, palavras atualmente impronunciáveis, mesmo no Vaticano. Todavia, parece evidente que Bento XVI a deseje. É possível falar dela?

Não sei se é possível, ou se é conveniente, falar de “reforma da reforma”. O que vejo absolutamente necessário e urgente, segundo o que deseja o Papa, é dar vida a um novo, claro e vigoroso movimento litúrgico em toda a Igreja. Porque, como explica Bento XVI no primeiro volume de sua Opera Omnia, em relação à liturgia se decide o destino da fé e da Igreja. Cristo está presente na Igreja através dos sacramentos. Deus é o sujeito da história, e não nós. A liturgia não é uma ação do homem, mas de Deus.


O Papa, mais que decisões impostas de cima, fala com o exemplo. como ler as mudanças introduzidas por ele nas celebrações papais?

Acima de tudo, não deve haver nenhuma dúvida sobre a bondade da renovação litúrgica conciliar, que trouxe grandes benefícios para a vida da Igreja, como a participação mais consciente e ativa dos fiéis e a presença enriquecida da Sagrada Escritura. Mas além destes e outros benefícios, não faltaram sombras, surgidas nos anos seguintes ao Vaticano II: a liturgia, isso é fato, foi “ferida” por deformações arbitrárias, provocadas também pela secularização que desgraçadamente atinge também dentro da Igreja. Consequentemente, em muitas celebrações já não se coloca Deus no centro, mas o homem e seu protagonismo, sua ação criativa, o papel principal é dado à assembléia. A renovação conciliar foi entendida como uma ruptura e não como um desenvolvimento orgânico da tradição. Devemos reaviver o espírito da liturgia e para isso são significativos os gestos introduzidos nas liturgias do Papa: a orientação da ação litúrgica, a cruz no centro do altar, a comunhão de joellhos, o canto gregoriano, o espaço para o silêncio, a beleza na arte sacra. É também necessário e urgente promover a adoração eucarística: diante da presenção real do Senhor, não se pode senão estar em adoração.

Quando se fala de uma recuperação da dimensão do sagrado, há sempre quem apresente tudo isso como um simples retorno ao passado, fruto de nostalgia. Como o senhor responde?

A perda do sentido do sagrado, do Mistério, de Deus, é uma das perdas de consequências mais graves para um verdadeiro humanismo. Quem pensa que reavivar, recuperar e reforçar o espírito da liturgia e a verdade da celebração é um simples retorno a um passado superado, ignora a verdade das coisas. Colocar a liturgia no centro da vida da Igreja não é em nada nostálgico, mas, pelo contrário, é garantia de estar a caminho em direção ao futuro.

Como julga o estado da liturgia católica no mundo?

Diante do risco da rotina, diante de algumas confusões, da pobreza e da banalidade do canto e da música sacra, pode-se dizer que há uma certa crise. Por isso é urgente um novo movimento litúrgico. Bento XVI, indicando o exemplo de São Francisco de Assis, muito devoto do Santíssimo Sacramento, explicou que o verdadeiro reformador é alguém que obedece a fé: não se move de maneira arbitrária e não se arroga nenhuma discricionariedade sobre o rito. Não é o dono, mas o custódio do tesouro instituido pelo Senhor e confiado a nós. O Papa, portanto, pede à nossa Congregação promover uma renovação segundo o Vaticano II, em sintonia com a tradição litúrgica da Igreja, sem esquecer a norma conciliar que prescreve não introduzir inovações exceto quando as requererem uma verdadeira e comprovada utilidade para a Igreja, com a advertência de que as novas formas, em todo caso, devem surgir organicamente das já existentes.

O que pretende fazer como Congregação?


Devemos considerar a renovação litúrgica segundo a hermêutica da continudade na reforma indicada por Bento XVI para ler o Concílio. E para fazê-lo, é necessário superar a tendência de “congelar” o estado atual da reforma pós-conciliar, de um modo que não faz justiça ao desenvolvimento orgânico da liturgia da Igreja.


Estamos tentanto levar adiante um grande empenho na formação dos sacerdotes, seminaristas, consagrados e fiéis leigos, para favorecer a compreensão do verdadeiro significado das celebrações da Igreja. Isso requer uma adequada e ampla instrução, vigilância e fidelidade nos ritos, e uma autêntica educação para vivê-los plenamente. Este empenho será acompanhado pela revisão e pela atualização dos textos introdutórios de diversas celebrações (prenotanda). Somos conscientes também de que dar impulso a este novo movimento não será possível sem uma renovação pastoral da iniciação cristã.


Uma perspectiva que deveria ser aplicada também à arte e à música…

O novo movimento litúrgico deverá fazer descobrir a beleza da liturgia. Por isso, abriremos uma nova seção em nossa Congregação dedicada à “Arte e música sacra” a serviço da liturgia. Isso nos levará a oferecer, o quanto antes, critérios e orientações para a arte, canto e música sacras. Como também pensamos em oferecer o mais rápido possível critérios e orientações para a pregação.

Nas Igrejas desaparecem os genuflexórios, a Missa às vezes é ainda um espaço aberto à criatividade, são cortadas inclusive as partes mais sagradas do cânon. Como inverter esta tendência?

A vigilância da Igreja é fundamental e não deve ser considerada como algo inquisitório ou repressivo, mas como um serviço. Em todo caso, devemos tornar todos conscientes da exigência, não só dos direitos do fiéis, mas também dos “direitos de Deus”.

Existe também o risco oposto, isto é, o de se crer que a sacralidade da liturgia depende da riqueza dos paramentos: uma posição fruto de esteticismo que parece ignorar o coração da liturgia…


A beleza é fundamental, mas é algo muito distintito de um esteticismo vazio, formalista e estéril, no qual se cai às vezes. Existe o risco de se acreditar que a beleza e a sacralidade da liturgia dependem da riqueza ou da antiguidade dos paramentos. É necessário uma boa formação e uma boa catequese baseada no Catecismo da Igreja Católica, evitando também o risco oposto, o da banalização, e atuando com decisão e energia quando se recorre a costumes que tiveram seu sentido no passado, mas que atualmente não têm ou não contribuem de nenhum modo para a verdade da celebração.

Poderia nos dar alguma indicação concreta sobre o que poderia mudar na liturgia?

Mais que pensar em mudanças, devemos nos comprometer em reaviver e promover um novo movimento litúrgico, seguindo o ensinamento de Bento XVI, a reaviver o sentido do sagrado e do Mistério, pondo Deus no centro de tudo. Devemos impulsionar a adoração eucarística, renovar e melhorar o canto litúrgico, cultivar o silêncio, dar mais espaço à meditação. Disso surgirá as mudanças…

Deus não nos abandona, nunca estamos sozinhos, diz Bento XVI

O Papa Bento XVI participou de um almoço com os pobres atendidos pelas comunidades romanas das Missionárias da Caridade neste domingo, 26, por ocasião do centenário de nascimento da Beata Madre Teresa de Calcutá. O encontro aconteceu no átrio da Sala Paulo VI, no Vaticano, às 10h (horário de Brasília – 13h em Roma).


Ele recordou que o Natal enche os corações de alegria e paz, e que Deus se fez homem para mostrar o quanto nos quer bem e nos ama.

"Deus tornou-se um de nós para fazer-se próximo a cada um, para vencer o mal, para libertar-nos do pecado, para dar-nos esperança, para dizer-nos que nunca estamos sozinhos. Nós podemos sempre dirigir-nos a Ele, sem medo, chamando-o de Pai, seguros de que, em todo o momento, em toda a situação da vida, também nas mais difíceis, Ele não nos abandona", salientou.

O Pontífice convidou cada um dos presentes a permitir que a luz do Menino Jesus ilumine a vida e transforme-a em luz, como se pode perceber de modo especial na vida dos santos. En seguida, recordou o testemunho da Beata Teresa de Calcutá, um reflexo do amor de Deus na noite humana do sofrimento.

"Celebrar 100 anos do seu nascimento é motivo de gratidão e reflexão para um renovado e alegre compromisso no serviço do Senhor e dos irmãos, especialmente dos mais necessitados. A quem se pergunta o porquê de Madre Teresa ter se tornado assim tão famosa, a resposta é simples: porque viveu de modo humilde e escondido, por amor e no amor de Deus. Ela mesma afirmava que o seu maior prêmio era amar Jesus e servi-Lo nos pobres".

Por fim, o Santo Padre agradeceu a presença e o trabalho missionário dos consagrados na Congregação fundada por Madre Teresa. "Ao homem, frequentemente em busca de felicidades ilusórias, o vosso testemunho de vida diz onde se encontra a verdadeira alegria: no compartilhar, no dar, no amar com a mesma gratuidade de Deus, que rompe a lógica do egoísmo humano", disse.

O almoço contou com a presença de cerca de 350 pessoas atendidas pelos Centros de Acolhida da Congregação em Roma, além de 150 Irmãs, Irmãos contemplativos, Sacerdotes e seminaristas. Também estiveram presentes a Superiora Geral das Irmãs Missionárias da Caridade, Ir. Mary Prema Pierick; o cofundador e Superior Geral dos Irmãos contemplativos, Ir. Sebastian Vazhakala; o Superior Geral dos Sacerdotes Missionários da Caridade e Postulador da Causa de Canonização da Beata Teresa de Calcutá.

Na quarta-feira, 5 de janeiro, às 14h (horário de Brasília – 17h em Roma), o Papa fará uma visita às crianças internadas no Policlínico Gemelli de Roma. O encontro acontece na véspera da Epifania. Na oportunidade, Bento XVI abençoará um centro de tratamento para crianças com espinha bífida e participará na distribuição de presentes aos jovens pacientes.

Publicado originalmente em: Canção Nova

São João, apóstolo e evangelista, rogai por nós!


O nome deste evangelista significa: "Deus é misericordioso": uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.


Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como "o discípulo que Jesus amava". O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse: "Filho, eis aí a tua mãe" e, olhando para Maria disse: "Mulher, eis aí o teu filho". (Jo 19,26s).

Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa "filho do trovão".

João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.

O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.

Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela primeira geração pós-apostólica que com ele trataram pessoalmente ou se formaram na fé cristã com os que tinham vivido com ele, como S. Pápias de Hierápole, S. Policarpo de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia e Santo Ireneu de Lião. E são estas precisamente as fontes donde vêm as melhores informações que a Tradição nos transmitiu acerca desta última etapa da vida do apóstolo.

São João, já como um ancião, depara-se com uma terrível situação para a Igreja, Esposa de Cristo: perseguições individuais por parte de Nero e perseguições para toda a Igreja por parte de seu sucessor, o Imperador Domiciano.

Além destas perseguições, ainda havia o cúmulo de heresias que desentranhava o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.

Nesta situação, Deus concede ao único sobrevivente dos que conviveram com o Mestre, a missão de ser o pilar básico da sua Igreja naquela hora terrível. E assim o foi. Para aquela hora, e para as gerações futuras também. Com a sua pregação e os seus escritos ficava assegurado o porvir glorioso da Igreja, entrevisto por ele nas suas visões de Patmos e cantado em seguida no Apocalipse.

Completada a sua obra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem que nós saibamos a data exata. Foi no fim do primeiro século ou, quando muito, nos princípios do segundo, em tempo de Trajano (98-117 dC).

domingo, 26 de dezembro de 2010

Bento XVI durante o ângelus: "a Sagrada Família, irrepetível, mas, ao mesmo tempo, é 'modelo de vida' para toda a família".

No dia em que a Igreja celebra a festa da Sagrada Família, o Papa reuniu-se com os fiéis na Praça de São Pedro para a tradicional oração mariana do Angelus, neste domingo, 26.


"Disso necessitam as crianças: do amor do pai e da mãe. É isso que lhes dá segurança e que, no crescimento, permite a descoberta do sentido da vida", ressaltou.

O encontro com os peregrinos aconteceu a partir da janela de seu escritório particular no Palácio Apostólico Vaticano, às 9h (no horário de Brasília - 12h em Roma).

O Pontífice destacou que a narração do Evangelho segundo Lucas (2, 16) - sobre como os pastores de Belém, após receberem o anúncio do anjo, encontraram Maria e José, com Jesus deitado na manjedoura - indica que as primeiras testemunhas oculares do nascimento do Senhor se depararam exatamente com a cena de uma família: mãe, pai e filho recém-nascido.


O Papa recordou ainda que o nascimento de toda a criança traz consigo algo deste mistério:

"Com efeito, os seres humanos vivem a procriação não como mero ato reprodutivo, mas ali percebem a riqueza, intuem que toda a criatura humana que surge na terra é 'sinal' por excelência do Criador e Pai que está nos céus. Quanto é importante, então, que toda a criança, vindo ao mundo, seja acolhida pelo calor de uma família! Não importam as comodidades exteriores".

Por fim, Bento XVI disse que a Sagrada Família é singular, irrepetível, "mas, ao mesmo tempo, é 'modelo de vida' para toda a família".

A liturgia prevê a celebração desta festa no primeiro domingo após o Natal, o que, neste ano, aconteceu exatamente um dia depois, prevalecendo sobre a festa do protomártir Santo Estevão, também marcada para esta data.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Homilia de Bento XVI na Missa da Noite do Natal do Senhor


SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI

Basílica Vaticana
24 de Dezembro de 2010

Amados irmãos e irmãs!

"Tu és meu filho, Eu hoje te gerei" – com estas palavras do Salmo segundo, a Igreja dá início à liturgia da Noite Santa. Ela sabe que esta frase pertencia, originariamente, ao rito da coroação do rei de Israel. O rei, que por si só é um ser humano como os outros homens, torna-se "filho de Deus" por meio do chamamento e entronização na sua função: trata-se de uma espécie de adoção por parte de Deus, uma ata da decisão, pela qual Ele concede a este homem uma nova existência, atraindo-o para o seu próprio ser. De modo ainda mais claro, a leitura tirada do profeta Isaías, que acabamos de ouvir, apresenta o mesmo processo numa situação de tribulação e ameaça para Israel: "Um menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros" (9, 5). A entronização na função régia é como um novo nascimento. E, precisamente como recém-nascido por decisão pessoal de Deus, como menino proveniente de Deus, o rei constitui uma esperança. O futuro assenta sobre os seus ombros. É o detentor da promessa de paz. Na noite de Belém, esta palavra profética realizou-se de um modo que, no tempo de Isaías, teria ainda sido inimaginável. Sim, agora Aquele sobre cujos ombros está o poder é verdadeiramente um menino. N’Ele aparece a nova realeza que Deus institui no mundo. Este menino nasceu verdadeiramente de Deus. É a Palavra eterna de Deus, que une mutuamente humanidade e divindade. Para este menino, são válidos os títulos de dignidade que lhe atribui o cântico de coroação de Isaías: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da paz (9, 5). Sim, este rei não precisa de conselheiros pertencentes aos sábios do mundo. Em Si mesmo traz a sapiência e o conselho de Deus. Precisamente na fragilidade de menino que é, Ele é o Deus forte e assim nos mostra, face aos pretensiosos poderes do mundo, a fortaleza própria de Deus.

Na verdade, as palavras do rito da coroação em Israel não passavam de palavras rituais de esperança, que de longe previam um futuro que haveria de ser dado por Deus. Nenhum dos reis, assim homenageados, correspondia à sublimidade de tais palavras. Neles, todas as expressões sobre a filiação de Deus, sobre a entronização na herança dos povos, sobre o domínio das terras distantes (Sal 2, 8) permaneciam apenas presságio de um futuro – como se fossem painéis sinalizadores da esperança, indicações apontando para um futuro que então era ainda inconcebível. Assim o cumprimento da palavra, que tem início na noite de Belém, é ao mesmo tempo imensamente maior e – do ponto de vista do mundo – mais humilde do que a palavra profética deixava intuir. É maior, porque este menino é verdadeiramente Filho de Deus, é verdadeiramente "Deus de Deus, Luz da Luz, gerado, não criado, consubstancial ao Pai". Fica superada a distância infinita entre Deus e o homem. Deus não Se limitou a inclinar o olhar para baixo, como dizem os Salmos; Ele "desceu" verdadeiramente, entrou no mundo, tornou-Se um de nós para nos atrair a todos para Si. Este menino é verdadeiramente o Emanuel, o Deus conosco. O seu reino estende-se verdadeiramente até aos confins da terra. Na imensidão universal da Sagrada Eucaristia, Ele verdadeiramente instituiu ilhas de paz. Em todo o lado onde ela é celebrada, temos uma ilha de paz, daquela paz que é própria de Deus. Este menino acendeu, nos homens, a luz da bondade e deu-lhes a força para resistir à tirania do poder. Em cada geração, Ele constrói o seu reino a partir de dentro, a partir do coração. Mas é verdade também que "o bastão do opressor" não foi quebrado. Também hoje marcha o calçado ruidoso dos soldados e temos ainda incessantemente a "veste manchada de sangue" (Is 9, 3-4). Assim faz parte desta noite o júbilo pela proximidade de Deus. Damos graças porque Deus, como menino, Se confia às nossas mãos, por assim dizer mendiga o nosso amor, infunde a sua paz no nosso coração. Mas este júbilo é também uma prece: Senhor, realizai totalmente a vossa promessa. Quebrai o bastão dos opressores. Queimai o calçado ruidoso. Fazei com que o tempo das vestes manchadas de sangue acabe. Realizai a promessa de "uma paz sem fim" (Is 9, 6). Nós Vos agradecemos pela vossa bondade, mas pedimos-Vos também: mostrai a vossa força. Instituí no mundo o domínio da vossa verdade, do vosso amor – o "reino da justiça, do amor e da paz".

"Maria deu à luz o seu filho primogênito" (Lc 2, 7). Com esta frase, São Lucas narra, de modo absolutamente sóbrio, o grande acontecimento que as palavras proféticas, na história de Israel, tinham com antecedência vislumbrado. Lucas designa o menino como "primogênito". Na linguagem que se foi formando na Sagrada Escritura da Antiga Aliança, "primogênito" não significa o primeiro de uma série de outros filhos. A palavra "primogênito" é um título de honra, independentemente do fato se depois se seguem outros irmãs e irmãs ou não. Assim, no Livro do Êxodo, Israel é chamado por Deus "o meu filho primogênito" (Ex 4, 22), exprimindo-se deste modo a sua eleição, a sua dignidade única, o particular amor de Deus Pai. A Igreja nascente sabia que esta palavra ganhara uma nova profundidade em Jesus; que n’Ele estão compendiadas as promessas feitas a Israel. Assim a Carta aos Hebreus chama Jesus "o primogênito" simplesmente para O qualificar, depois das preparações no Antigo Testamento, como o Filho que Deus manda ao mundo (cf. Heb 1, 5-7). O primogênito pertence de maneira especial a Deus, e por isso – como sucede em muitas religiões – devia ser entregue de modo particular a Deus e resgatado com um sacrifício de substituição, como São Lucas narra no episódio da apresentação de Jesus no templo. O primogênito pertence a Deus de modo particular, é por assim dizer destinado ao sacrifício. No sacrifício de Jesus na cruz, realiza-se de uma forma única o destino do primogênito. Em Si mesmo, Jesus oferece a humanidade a Deus, unindo o homem e Deus de uma maneira tal que Deus seja tudo em todos. Paulo, nas Cartas aos Colossenses e aos Efésios, ampliou e aprofundou a ideia de Jesus como primogênito: Jesus – dizem-nos as referidas Cartas – é o primogênito da criação, o verdadeiro arquétipo segundo o qual Deus formou a criatura-homem. O homem pode ser imagem de Deus, porque Jesus é Deus e Homem, a verdadeira imagem de Deus e do homem. Ele é o primogênito dos mortos: dizem-nos ainda aquelas Cartas. Na Ressurreição, atravessou o muro da morte por todos nós. Abriu ao homem a dimensão da vida eterna na comunhão com Deus. Por fim, é-nos dito: Ele é o primogênito de muitos irmãos. Sim, agora Ele também é o primeiro de uma série de irmãos, isto é, o primeiro que inaugura para nós a vida em comunhão com Deus. Cria a verdadeira fraternidade: não a fraternidade, deturpada pelo pecado, de Caim e Abel, de Rômulo e Remo, mas a fraternidade nova na qual somos a própria família de Deus. Esta nova família de Deus começa no momento em que Maria envolve o "primogênito" em faixas e O reclina na manjedoura. Supliquemos-Lhe: Senhor Jesus, Vós que quisestes nascer como o primeiro de muitos irmãos, dai-nos a verdadeira fraternidade. Ajudai-nos a tornarmo-nos semelhantes a Vós. Ajudai-nos a reconhecer no outro que tem necessidade de mim, naqueles que sofrem ou estão abandonados, em todos os homens, o vosso rosto, e a viver, juntamente convosco, como irmãos e irmãs para nos tornarmos uma família, a vossa família.

No fim, o Evangelho de Natal narra-nos que uma multidão de anjos do exército celeste louvava a Deus e dizia: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama" (Lc 2, 14). A Igreja ampliou este louvor que os anjos entoaram à vista do acontecimento da Noite Santa, fazendo dele um hino de júbilo sobre a glória de Deus. "Nós Vos damos graças por vossa imensa glória". Nós Vos damos graças pela beleza, pela grandeza, pela bondade de Deus, que, nesta noite, se tornam visíveis para nós. A manifestação da beleza, do belo, torna-nos felizes sem que devamos interrogar-nos sobre a sua utilidade. A glória de Deus, da qual provém toda a beleza, faz explodir em nós o deslumbramento e a alegria. Quem vislumbra Deus, sente alegria; e, nesta noite, vemos algo da sua luz. Mas a mensagem dos anjos na Noite Santa também fala dos homens: "Paz aos homens que Ele ama". A tradução latina desta frase, que usamos na Liturgia e remonta a São Jerônimo, interpreta diversamente: "Paz aos homens de boa vontade". Precisamente nos últimos decênios, esta expressão "os homens de boa vontade" entrou de modo particular no vocabulário da Igreja. Mas qual é a tradução justa? Devemos ler, juntas, as duas versões; só assim compreendemos retamente a frase dos anjos. Seria errada uma interpretação que reconhecesse apenas o agir exclusivo de Deus, como se Ele não tivesse chamado o homem a uma resposta livre e amorosa. Mas seria errada também uma resposta moralizante, segundo a qual o homem com a sua boa vontade poder-se-ia, por assim dizer, redimir a si próprio. As duas coisas andam juntas: graça e liberdade; o amor de Deus, que nos precede e sem o qual não O poderemos amar, e a nossa resposta, que Ele espera e até no-la suplica no nascimento do seu Filho. O entrelaçamento de graça e liberdade, o entrelaçamento de apelo e resposta não podemos dividi-lo em partes separadas uma da outra. Ambas estão indivisivelmente entrançadas entre si. Assim esta frase é simultaneamente promessa e apelo. Deus precedeu-nos com o dom do seu Filho. E, sempre de novo e de forma inesperada, Deus nos precede. Não cessa de nos procurar, de nos levantar todas as vezes que o necessitamos. Não abandona a ovelha extraviada no deserto, onde se perdeu. Deus não se deixa confundir pelo nosso pecado. Sempre de novo recomeça conosco. Todavia espera que amemos juntamente com Ele. Ama-nos para que nos seja possível tornarmo-nos pessoas que amam juntamente com Ele e, assim, possa haver paz na terra.

Lucas não disse que os anjos cantaram. Muito sobriamente, escreve que o exército celeste louvava a Deus e dizia: "Glória a Deus nas alturas…" (Lc 2, 13-14). Mas desde sempre os homens souberam que o falar dos anjos é diverso do dos homens; e que, precisamente nesta noite da jubilosa mensagem, tal falar foi um canto no qual brilhou a glória sublime de Deus. Assim, desde o início, este canto dos anjos foi entendido como música vinda de Deus, mais ainda, como convite a unirmo-nos ao canto com o coração em júbilo pelo fato de sermos amados por Deus. Diz Santo Agostinho: Cantare amantis est – cantar é próprio de quem ama. Assim ao longo dos séculos, o canto dos anjos tornou-se sempre de novo um canto de amor e de júbilo, um canto daqueles que amam. Nesta hora, associemo-nos, cheios de gratidão, a este cantar de todos os séculos, que une céu e terra, anjos e homens. Sim, Senhor, nós Vos damos graças por vossa imensa glória. Nós Vos damos graças pelo vosso amor. Fazei que nos tornemos cada vez mais pessoas que amam juntamente convosco e, consequentemente, pessoas de paz. Amém.

Bênção Urbi et Orbi e Mensagem de Natal de Bento XVI - 2010


"Verbum caro factum est – o Verbo fez-Se carne" (Jo 1, 14).

Queridos irmãos e irmãs, que me ouvis em Roma e no mundo inteiro, é com alegria que vos anuncio a mensagem do Natal: Deus fez-Se homem, veio habitar no meio de nós. Deus não está longe: está perto, mais ainda, é o "Emanuel", Deus conosco. Não é um desconhecido: tem um rosto, o rosto de Jesus.

Trata-se de uma mensagem sempre nova, que não cessa de surpreender, porque ultrapassa a nossa esperança mais ousada. Sobretudo porque não se trata apenas de um anúncio: é um acontecimento, um fato sucedido, que testemunhas credíveis viram, ouviram, tocaram na Pessoa de Jesus de Nazaré! Permanecendo com Ele, observando os seus atos e escutando as suas palavras, reconheceram em Jesus o Messias; e, ao vê-Lo ressuscitado, depois que fora crucificado, tiveram a certeza de que Ele, verdadeiro homem, era simultaneamente verdadeiro Deus, o Filho unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade (cf. Jo 1, 14).

"O Verbo fez-Se carne". Fitando esta revelação, ressurge uma vez mais em nós a pergunta: Como é possível? O Verbo e a carne são realidades opostas entre si; como pode a Palavra eterna e onipotente tornar-se um homem frágil e mortal? Só há uma resposta possível: o Amor. Quem ama quer partilhar com o amado, quer estar-lhe unido, e a Sagrada Escritura apresenta-nos precisamente a grande história do amor de Deus pelo seu povo, com o ponto culminante em Jesus Cristo.

Na realidade, Deus não muda: mantém-se fiel a Si mesmo. Aquele que criou o mundo é o mesmo que chamou Abraão e revelou o seu próprio Nome a Moisés: Eu sou Aquele que sou… o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó… Deus misericordioso e compassivo, cheio de amor e fidelidade (cf. Ex 3, 14-15; 34, 6). Deus não muda: Ele é Amor, desde sempre e para sempre. Em Si mesmo, é Comunhão, Unidade na Trindade, e cada obra e palavra sua tem em vista a comunhão. A encarnação é o ápice da criação. Quando no ventre de Maria, pela vontade do Pai e a ação do Espírito Santo, se formou Jesus, Filho de Deus feito homem, a criação atingiu o seu vértice. O princípio ordenador do universo, o Logos, começava a existir no mundo, num tempo e num espaço.

"O Verbo fez-Se carne". A luz desta verdade manifesta-se a quem a acolhe com fé, porque é um mistério de amor. Somente aqueles que se abrem ao amor, são envolvidos pela luz do Natal. Assim sucedeu na noite de Belém, e assim é hoje também. A encarnação do Filho de Deus é um acontecimento que se deu na história, mas ao mesmo tempo ultrapassa-a. Na noite do mundo, acende-se uma luz nova, que se deixa ver pelos olhos simples da fé, pelo coração manso e humilde de quem espera o Salvador. Se a verdade fosse apenas uma fórmula matemática, em certo sentido impor-se-ia por si mesma. Mas, se a Verdade é Amor, requer a fé, o "sim" do nosso coração.

E que procura, efetivamente, o nosso coração, senão uma Verdade que seja Amor? Procura-a a criança, com as suas perguntas tão desarmantes e estimuladoras; procura-a o jovem, necessitado de encontrar o sentido profundo da sua própria vida; procuram-na o homem e a mulher na sua maturidade, para orientar e sustentar os compromissos na família e no trabalho; procura-a a pessoa idosa, para levar a cumprimento a existência terrena.

"O Verbo fez-Se carne". O anúncio do Natal é luz também para os povos, para o caminho coletivo da humanidade. O "Emanuel", Deus conosco, veio como Rei de justiça e de paz. O seu Reino – bem o sabemos – não é deste mundo, e todavia é mais importante do que todos os reinos deste mundo. É como o fermento da humanidade: se faltasse, definhava a força que faz avançar o verdadeiro progresso, o impulso para colaborar no bem comum, para o serviço desinteressado do próximo, para a luta pacífica pela justiça. Acreditar em Deus, que quis compartilhar a nossa história, é um constante encorajamento a comprometer-se com ela, inclusive no meio das suas contradições; é motivo de esperança para todos aqueles cuja dignidade é ofendida e violada, porque Aquele que nasceu em Belém veio para libertar o homem da raiz de toda a escravidão.

A luz do Natal resplandeça novamente naquela Terra onde Jesus nasceu, e inspire Israelitas e Palestinos na busca de uma convivência justa e pacífica. O anúncio consolador da vinda do Emanuel mitigue o sofrimento e console nas suas provas as queridas comunidades cristãs do Iraque e de todo o Oriente Médio, dando-lhes conforto e esperança no futuro e animando os Responsáveis das nações a uma efetiva solidariedade para com elas. O mesmo suceda também em favor daqueles que, no Haiti, ainda sofrem com as consequências do terramoto devastador e com a recente epidemia de cólera. Igualmente não sejam esquecidos aqueles que, na Colômbia e na Venezuela, mas também na Guatemala e na Costa Rica, sofreram recentemente calamidades naturais.

O nascimento do Salvador abra perspectivas de paz duradoura e de progresso autêntico para as populações da Somália, do Darfour e da Costa do Marfim; promova a estabilidade política e social em Madagáscar; leve segurança e respeito dos direitos humanos ao Afeganistão e Paquistão; encoraje o diálogo entre a Nicarágua e a Costa Rica; favoreça a reconciliação na Península Coreana.

A celebração do nascimento do Redentor reforce o espírito de fé, de paciência e de coragem nos fiéis da Igreja na China continental, para que não desanimem com as limitações à sua liberdade de religião e de consciência e, perseverando na fidelidade a Cristo e à sua Igreja, mantenham viva a chama da esperança. O amor do "Deus conosco" dê perseverança a todas as comunidades cristãs que sofrem discriminação e perseguição, e inspire os líderes políticos e religiosos a empenharem-se pelo respeito pleno da liberdade religiosa de todos.

Queridos irmãos e irmãs, "o Verbo fez-Se carne", veio habitar no meio de nós, é o Emanuel, o Deus que Se aproximou de nós. Contemplemos, juntos, este grande mistério de amor; deixemos o coração iluminar-se com a luz que brilha na gruta de Belém! Boas-festas de Natal para todos!

Solenidade do Natal do Senhor em Fortaleza, na forma extraordinária.




Puer Natus


1. Puer nátus in Béthlehem, allelúia:
Unde gáudet Jerúsalem, allelúia, allelúia.
In córdis júbilo, Christum nátum adorémus,
Cum nóvo cántico.

2. Assúmpsit cárnem Filius, allelúia,
Déi Pátris altíssimus, allelúia, allelúia.
In córdis...

3. Per Gabriélem núntium, allelúia,
Virgo concépit Filium, allelúia, allelúia.
In córdis...

4. Tamquam spónsus de thálamo, allelúia,
Procéssit Mátris útero, allelúia, allelúia.
In córdis...

5. Hic jácet in praesépio, allelúia,
Qui régnat sine término, allelúia, allelúia.
In córdis...

6. Et Angelus pastóribuis, allelúia,
Revélat quod sit Dóminus, allelúia, allelúia.
In córdis...

7. Réges de Sába véniunt, allelúia,
Aurum, thus, myrrham ófferunt, allelúia, allelúia.
In córdis...

8. Intrántes dómum invicem, allelúia,
Nóvum salútant Principem, allelúia, allelúia.
In córdis...

9. De Mátre nátus Virgine, allelúia,
Qui lúmen est de lúmine, allelúia, allelúia.
In córdis...

10. Sine serpéntis vúlnere, allelúia,
De nóstro vénit sánguine, allelúia, allelúia.
In córdis...

11. In carne nóbis símilis, allelúia,
Peccáto sed dissímilis, allelúia, allelúia.
In córdis...

12. Ut réderet nos hómines, allelúia,
Déo et síbi símiles, allelúia, allelúia.
In córdis...

13. In hoc natáli gáudio, allelúia,
Benedicámus Dómino, allelúia, allelúia.
In córdis...

14. Laudétur sáncta Trínitas, allelúia,
Déo dicámus grátias, allelúia, allelúia.
In córdis...

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

As grandes verdades do Natal


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O dia do Natal de Jesus relembra para todos os cristãos verdades fundamentais da fé. Uma delas é que à natureza divina da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se uniu, no dia da Anunciação, a natureza humana recebida da Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo. Os teólogos empregam então, com propriedade, o termo união hipostática. Santo Agostinho explica este dogma de fé ao dizer que o Verbo de Deus recebeu o que não era, não perdendo o que era. Cristo, de fato, como ensina São Leão Magno, "desceu de tal modo, sem diminuição de sua majestade ao tomar a condição de nossa humildade, que, uniu a verdadeira condição de servo àquela condição em que é igual ao Pai e ligou ambas as naturezas com o vínculo de tão íntima aliança que nem a inferior com tão grande glorificação ficou absorvida, nem a superior diminuída com a assunção que realizou". Note-se que o vocábulo assunção é tão técnico como a expressão hipostática. Trata-se de uma união cuja iniciativa cabe à Segunda Pessoa divina e que resulta na elevação da natureza assumida, uma vez que o resultado final é algo humano-divino que se dá. Por isto andou em clamoroso erro Eûtiques, heresiarca grego, que, no século quinto, ensinava que a natureza humana de Cristo se dissolvera na natureza divina, o que, evidentemente, jogava por terra todo efeito da Encarnação de Jesus que veio para resgatar a humanidade pecadora. O Concílio de Calcedônia em 451 condenou esta heresia.

O Redentor pagaria o que a nossa condição terrena tinha em dívida para com Deus. É, deste modo, que Jesus se tornou o único Mediador como convinha ao remédio necessário à raça humana, ou seja, que Ele pudesse morrer em virtude de uma das naturezas e ressuscitasse em virtude da outra. Enquanto Deus, foi o médico celestial; enquanto homem, pôde resgatar a estirpe à qual passou também a pertencer. Daí resulta imensa gratidão ao Todo-Poderoso que, pela muita misericórdia que nos devotou, tendo compaixão de nós, estando nós mortos por causa do pecados, nos fez reviver em Jesus para sermos nele uma nova criação de suas poderosas mãos. Corresponder à gratuidade de Deus, renascendo para uma vida nova, eis aí a obrigação de todos que têm fé. Cumpre revestir o homem novo de que fala o Apóstolo Paulo, deixando para trás tudo que não está de acordo com o que Jesus ensinou. É o conselho de Leão Magno num de seus mais belos sermões do Natal:

"Reconhece, ó cristão, a tua dignidade, e, já que foste feito participante da natureza divina, não queiras voltar à antiga vileza com procedimentos indignos de tamanha nobreza". Jesus nasceu, de fato, para nos transladar para a luz do reino eterno do Ser Supremo, do qual é preciso começar a participar já nesta terra. Diante do Presépio é necessário que o batizado se lembre que, ao ser regenerado na pia batismal, se tornou o templo vivo da Trindade Santa e que, portanto, não pode cometer ações por cuja perversidade expulse de si tão grande Senhor para se submeter à escravidão ignóbil do Diabo.

Importância tal tem cada um daqueles que Jesus veio remir que o preço desta redenção, a qual se iniciou em Belém, é o próprio sangue divino. Que, então, perante a manjedoura se renuncie às obras da carne de que fala São Paulo na Carta aos Gálatas (5,19). Apenas assim as alegrias do Natal serão consistentes e não uma mera comemoração externa de um fato histórico. O referido São Leão Magno frisa no seu texto a palavra HOJE: "Nasceu hoje o nosso Salvador". A mesma eficácia salutar que, um dia, tal acontecimento trouxe em Belém, se dá para aqueles que se imergem nesta festa singular através da participação na liturgia. Este é o grande sinal de que os atos salvíficos de Cristo se realizam novamente, conferindo à alma fiel as graças vinculadas a tal evento. Hoje nasce Jesus para as almas dispostas com fé viva e ortodoxa a recebê-lo com júbilo no seu coração!

* Professor no Seminário de Mariana - MG

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Papa celebra principais Missas do Natal


Retirado de: Zenit

Detalhes dos atos previstos para as festividades


A Santa Sé divulgou o calendário das celebrações que o Papa presidirá neste Natal.

Como é tradição, o pontífice tem previsto celebrar as principais Missas das quatro solenidades: Natal, Santa Maria Mãe de Deus, Epifania e Batismo do Senhor. No total, quatro celebrações eucarísticas e as Vésperas Solenes no dia 31 de dezembro.

O Ofício de Celebrações Litúrgicas divulgou também um comunicado com os detalhes das celebrações.

Em geral, a língua oficial será o latim. Serão utilizados outros idiomas de todo o mundo em alguns momentos da liturgia.

Está previsto que em algumas celebrações cardeais auxiliem o Papa como diáconos, sem concelebrar. Isso, afirma o Ofício, está enraizado na tradição histórica, pois os cardeais “garantem sempre o serviço litúrgico ao Papa”.

Sobre as vestes litúrgicas do Papa, “não haverá novidades especiais”. “Serão escolhidas no sentido da continuidade e do sadio equilíbrio entre passado e presente, variando os estilos adotados, e no sentido da nobre beleza que corresponde à celebração dos mistérios do Senhor”.

As celebrações poderão ser acompanhadas através da internet, em alta definição, nos sites da Rádio Vaticano (http://www.radiovaticana.org/), do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais (http://www.pccs.va/), e também no site http://www.pope2you.net/, em estreita colaboração com o Centro Televisivo Vaticano (CTV).

Noite de Natal

Às 22h de Roma na sexta-feira 24 de dezembro, na Basílica de São Pedro, o Papa presidirá a tradicional Missa do Galo, que será precedida de uma breve vigília de preparação.

Esta eucaristia será concelebrada pelo Papa com os cardeais presentes. O serviço litúrgico será conduzido pelos seminaristas do Colégio Armênio e por alguns irmãos do Instituto Miles Christi.

No Glória, o Papa irá ao presépio da Basílica para colocar a figura do Menino Jesus. Vários meninos dos cinco continentes depositarão flores.

Junto ao Menino, em um pequeno trono diante do altar da confissão se colocará um Evangelho, sinal da encarnação do Verbo.

Bênção Urbi et Orbi

No dia seguinte, do balcão da Basílica, o Papa pronunciará a bênção Urbi et Orbi. Esta bênção leva associada uma indulgência plenária, se recebida em condições adequadas.

No dia seguinte, domingo, 26 de dezembro, o Papa oferecerá, no Átrio da Sala Paulo VI, uma refeição às pessoas assistidas nas diversas comunidades romanas das Missionárias da Caridade. Esta iniciativa comemora o centenário do nascimento de Madre Teresa de Calcutá.

Vésperas de fim de ano


No dia 31 de dezembro, o Papa presidirá, na Basílica de São Pedro, às 18h, as Primeiras Vésperas da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus.

Ao terminar, haverá exposição do Santíssimo e bênção eucarística e se cantará o Te Deum, em ação de graças pelo ano civil.

Santa Maria Mãe de Deus

No dia seguinte, novamente na Basílica, o Papa presidirá a Missa, às 10h. A partir desse momento, será colocada na Basílica a estátua da Senhora do Sacro Monte de Viggiano. O Papa venerará a imagem ao terminar a celebração.

Epifania

No dia 5 de janeiro, às 17h, o Papa encontrará crianças internadas no hospital Gemelli e lhes distribuirá presentes de dia de Reis. Nessa visita, prevê também abençoar um Centro especializado na atenção de crianças com espinha bífida.

A Missa do dia 6 será na Basílica vaticana, às 10h, presidida pelo Papa, que será auxiliado pelos cardeais, na qualidade de diáconos, Gianfranco Ravasi e Walter Brandmuller.

Batismo

No domingo 9 de janeiro, o Papa presidirá a Missa na Capela Sistina e batizará 22 crianças, todas elas filhas de funcionários do Vaticano. O Ofício litúrgico explica que neste dia será utilizado o altar antigo da Capela, assim, em alguns momentos, o Papa celebrará voltado para o altar no mesmo sentido da assembleia.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Catequese de Bento XVI na proximidade do Natal

Queridos irmãos e irmãs!

Com esta última Audiência antes das Festividades Natalícias, aproximamo-nos, estremecidos e cheios de admiração, no "lugar" onde, para nós e para a nossa salvação, tudo começou, onde tudo encontrou um cumprimento, lá onde se encontraram e se cruzaram as expectativas do mundo e do coração humano com a presença de Deus. Podemos, já agora, antecipar a alegria por aquela pequena luz que se entreviu, que da gruta de Belém começa a irradiar sobre o mundo. No caminho do Advento, que a liturgia nos convidou a viver, fomos acompanhados para acolher com disponibilidade e reconhecimento o grande Acontecimento da vinda do Salvador e a contemplar, maravilhados, a sua entrada no mundo.

A alegre espera, característica dos dias que precedem o Santo Natal, é certamente a atitude fundamental do cristão que deseja viver frutuosamente o renovado encontro com Aquele que vem habitar em meio a nós: Cristo Jesus, o Filho de Deus feito homem. Re-encontremos essa disposição de coração, e a façamos nossa, naqueles que por primeiro acolheram a vinda do Messias: Zacarias e Isabel, os pastores, o povo simples e, especialmente, Maria e José, os quais, em primeira pessoa, experimentaram as adversidades, mas, sobretudo, a alegria pelo mistério deste nascimento. Todo o Antigo Testamento constitui uma única grande promessa, que devia se cumprir com a vinda de um salvador poderoso. Disso nos dá particular testemunho o livro do profeta Isaías, o qual nos fala do percurso da história e de toda a criação na direção de uma redenção destinada a dar novas energias e nova orientação a todo o mundo. Assim, ao lado da expectativa dos personagens das Sagradas Escrituras, encontra espaço e significado, através dos séculos, também a nossa expectativa, aquela que, neste dias, estamos experimentando e que nos mantém despertos ao longo de todo o caminho de nossa vida. Toda a existência humana, de fato, é animada por esse profundo sentimento, pelo desejo de que o que há de mais verdadeiro, de mais belo e maior que entrevimos e intuímos com a mente e o coração possa vir ao nosso encontro e, diante de nossos olhos, possa tornar-se concreto e nos levante.

"Eis que vem o Senhor onipotente: será chamado Emanuel, Deus conosco" (Antífona de entrada, Santa Missa de 21 de dezembro). Frequentemente, nestes dias, repetimos essas palavras. No tempo da liturgia, que reatualiza o Mistério, está às portas Aquele que vem para nos salvar do pecado e da morte, Aquele que, depois da desobediência de Adão e Eva, abraça-nos e abre para nós o acesso à vida verdadeira. Explica-o Santo Irineu, em seu tratado "Contra as heresias", quando afirma: "O Filho mesmo de Deus veio 'em uma carne similar àquela do pecado' (Rm 8,3) para condenar o pecado e, depois de tê-lo condenado, excluí-lo completamente do gênero humano. Chamou o homem à semelhança consigo mesmo, o fez imitador de Deus, colocou-o sobre a estrada indicada pelo Pai para que pudesse ver a Deus, e lhe deu como dom o próprio Pai" (III, 20, 2-3).

Aparecem-nos algumas ideias preferidas de Santo Irineu, como a de que Deus, com o Menino Jesus, chama-nos novamente à semelhança consigo mesmo. Vemos como é Deus. E, assim, recordamo-nos que nós devemos ser semelhantes a Deus. E devemos imitá-lo. Deus se doou, Deus se deu a nossas mãos. Devemos imitar Deus. E, finalmente, a ideia de que, assim, podemos ver Deus. Uma ideia central de Santo Irineu: o homem não vê Deus, não pode vê-lo e, assim, está nas trevas com relação à verdade, com relação a si mesmo. Mas o homem, que não pode ver Deus, pode ver Jesus. E, assim, vê Deus, assim começa a ver a verdade, assim começa a viver.
O Salvador, portanto, vem para reduzir à impotência a obra do mal e tudo aquilo que pode manter-nos distantes de Deus, para restituir-nos ao antigo esplendor e à primitiva paternidade. Com a sua vinda entre nós, Deus indica-nos e dá-nos também uma missão: exatamente aquela de ser semelhantes a Ele e de tender à verdadeira vida, de chegar à visão de Deus no rosto de Cristo. Ainda Santo Irineu afirma: "O Verbo de Deus colocou a sua morada entre os homens e se fez Filho do homem, para acostumar o homem a perceber Deus e para acostumar Deus a colocar sua morada no homem segundo a vontade do Pai. Por isso, Deus nos deu como 'sinal' da nossa salvação aquele que, nascido da Virgem, é o Emanuel" (ibidem). Também aqui há uma ideia central muito bela de Santo Irineu: devemos acostumar-nos a perceber Deus. Deus está normalmente distante da nossa vida, das nossas ideias, do nosso agir. Ele veio ser próximo a nós e devemos habituar-nos a estar com Deus. E, audaciosamente, Irineu ousa dizer que também Deus deve se habituar a estar conosco e em nós. E que Deus, talvez, deveria acompanhar-nos no natal, habituar-nos a Deus, como Deus se deve habituar a nós, à nossa pobreza e fragilidade. A vinda do Senhor, por isso, não pode ter outro propósito senão aquele de ensinar-nos a ver e amar os acontecimentos, o mundo e tudo aquilo que nos circunda, com os olhos próprios de Deus. O Verbo feito criança ajuda-nos a compreender o modo de agir de Deus, a fim de que sejamos capazes de deixar-nos sempre mais transformar pela sua bondade e pela sua infinita misericórdia.

Na noite do mundo, deixemo-nos ainda surpreender e iluminar por esse ato de Deus, que é totalmente inesperado: Deus se faz criança. Deixemo-nos surpreender, iluminar pela Estrela que inundou de alegria o universo. Jesus Menino, chegando a nós, não nos encontre despreparados, empenhados somente em tornar mais bela a realidade exterior. O cuidado que temos para tornar mais brilhantes as nossas estradas e as nossas casas incentive-nos ainda mais a predispor o nosso ânimo para encontrar Aquele que virá para visitar-nos, que é a verdadeira beleza e a verdadeira luz. Purifiquemos, portanto, a nossa consciência e a nossa vida daquilo que é contrário a essa vinda: pensamentos, palavras, atitudes e ações, dispondo-nos a realizar o bem e contribuir para realizar, neste nosso mundo, a paz e a justiça para todo o homem e a caminhar assim ao encontro do Senhor.

Símbolo característico do tempo natalício é o presépio. Também na Praça de São Pedro, segundo o costume, ele está quase pronto e idealmente se mostra à Roma e ao mundo todo, representando a beleza do Mistério do Deus que se fez homem e armou sua tenda em meio a nós (cf. Jo 1,14). O presépio é expressão da nossa expectativa, de que Deus se aproxima de nós, de que Jesus se aproxima de nós, mas é também expressão de dar graças Àquele que decidiu partilhar da nossa condição humana, na pobreza e na simplicidade. Alegro-me porque permanece viva e, também, se redescobre a tradição de preparar o presépio nos lares, nos lugares de trabalho, nos espaços de encontro. Esse genuíno testemunho de fé cristã possa oferecer também hoje, para todos os homens de boa vontade, um sugestivo ícone do amor infinito do Pai por nós todos. Os corações das crianças e dos adultos possam ainda surpreender-se frente a ele.

Queridos irmãos e irmãs, a Virgem Maria e São José ajudem-nos a viver o Mistério do natal com renovada gratidão ao Senhor. Em meio à atividade frenética dos nossos dias, esse tempo dê-nos um pouco de calma e de alegria e nos faça tocar com a mão a bondade do nosso Deus, que se faz Menino para nos salvar e dar nova coragem e nova luz ao nosso caminho. É esse o meu desejo para um santo e feliz Natal: dirijo-o com afeto a vós aqui presentes, aos vossos familiares, em particular aos doentes e aos sofredores, bem como às vossas comunidades e a quantos vos são queridos.

Por: Canção Nova

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Registro Anual de visitantes

Durante todo o ano de 2010, obtivemos 9668 visitantes de diversos países, nos vários continentes. Os dados que seguem são aproximados.

 Alemanha: 68 visitantes
Angola: 10 visitantes
 Argentina: 22 visitantes
 Áustria: 5 visitantes
 Holanda: 6 visitantes
Bósnia e Herzegovina: 3 visitantes
Brasil: 9.159 visitantes

Canadá: 39 visitantes
 Chile: 14 visitantes
China: 2 visitantes
Colômbia: 9 visitantes
 Coreia do Sul: 1 visitante
Costa Rica: 4 visitantes
Espanha: 15 visitantes
 Estados Unidos: 87 visitantes
 França: 17 visitantes
 Irlanda: 6 visitantes
 Itália: 44 visitantes
Japão: 7 visitantes
 Macau: 2 visitantes
 México: 12 visitantes
 Moçambique: 2 visitantes
Noruega: 3 visitantes
Paraguai: 6 visitantes
Peru: 3 visitantes
 Polônia: 9 visitantes
Porto Rico: 1 visitante
Portugal: 97 visitantes
Reino Unido: 14 visitantes
República Tcheca: 1 visitante
Rússia: 8 visitantes
Singapura: 2 visitantes
Suécia: 11 visitantes
Tunísia: 3 visitantes
 Vaticano: 2 visitantes
Venezuela: 4 visitantes
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