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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A Extensão da Encarnação


Retirado de: Minhas Reflexões

" O anjo, como prova de sua missão, anunciara a Maria o prodígio da fecundidade de Isabel, acrescentando que " todas as coisas são possíveis a Deus". E a alma, estéril qual Isabel, como ela se tornará fecunda. Impõem-se, todavia, crer nesse Alimento que dá a fecundidade; e recebê-lo, e então se produzirá mais para a Glória de Deus, num só dia com a Eucaristia, do que em toda uma vida sem ela.


Mas, para Maria, surge apenas, entre todas as grandezas que o Anjo lhe apresenta, sucessivamente, sua própria fraqueza, seu nada. Seja este nosso modelo. Somos míseras criaturas, indignas dum olhar, sequer, de Deus... Mas, já que Ele se digna chamar-nos, escolher-nos, digamos com Maria: " Fiat! Faça-se em mim segundo a vossa Palavra".

E, então, o Mistério que se operou em Maria opera-se em nós. No momento da Comunhão, a Eucaristia torna-se verdadeiramente a extensão da Encarnação, a dilatação desse incêndio de Amor, cujo foco se encontra na Santíssima Trindade e que, no seio de Maria, abrasando a natureza humana em geral, só atingiria, todavia, sua plenitude pela união particular a cada filho da humanidade. Em Maria, o Verbo uniu-se à natureza humana. Pela Eucaristia une-se a todos os homens.

Para resgatar-nos, bastava ao Verbo unir a Si numericamente uma só criatura humana. Ele queria ser o único a sofrer, a expiar no Corpo e na Alma, até morrer, sob o peso dos tormentos, em nome de todos. Mas quando essa humanidade já fora toda triturada e se tornara a fonte de toda justificação, Jesus Cristo mudou-a em seu Sacramento, que a todos oferece, para que todos possam participar dos méritos e da glória do Corpo que tomara em Maria. E agora, basta-nos recebê-lo, e temos mais que Maria, temos o Corpo glorioso e ressuscitado do Salvador, com seus Estigmas de Amor, prova de sua vitória sobre os poderes deste mundo.

E - que maravilha! - recebemos, ao comungar, mais do que Maria recebeu na Encarnação! Ela trazia no seu seio o Corpo passível do Verbo, enquanto nós recebemos seu Corpo impassível e celestial. Ela trazia o Homem de Dores, enquanto nós possuímos o Filho de Deus, coroado de glória. Ele vem também a nós de modo mais consolador. Maria via diariamente passar e diminuir-se o tempo em que havia de possuir nas suas castas entranhas tão precioso fardo, até que, passados nove meses, dele se separou. Quanto a nós, podemos renovar quotidianamente nossa felicidade, recebendo e trazendo em nós o Verbo-Eucaristia, todos os dias de nossa vida.

Ao formar-se em Maria a Humanidade santa do Verbo, o Espiríto Santo dotou sua augusta Esposa com os mais ricos dons. O Verbo lhe trouxe, além de sua glória, todas as virtudes reunidas em grau nunca visto até então. E se tal Mistério se tivesse operado repetidamente, ela teria recebido, cada vez, uma dotação nova e superior em magnificências. O mesmo se dá conosco. Cada vez que Nosso Senhor se dá a nós, dá-se com todas as suas graças, todos os seus dons. Enriquece-nos contínua e incansavelmente e, qual outro sol que renasce cada dia com brilho sempre novo, Ele renasce cada dia em nós, com a mesma beleza, a mesma glória do primeiro dia.

" Verbum caro factum est." O Verbo se fez Carne, eis toda a glória de Maria. O Verbo se fez Pão do homem, é toda a nossa glória. Nosso Senhor deu-se à primeira vez a fim de satisfazer seu Amor, e dá-se incessantemente para saciar seu Amor sempre novo e infinito. Ser uma esmola de graças é insignificante para seu Coração, então faz-se Dom, faz-se Pão, e a Igreja no-lo distribui. Poderia, por acaso, fazer mais, ir mais longe? Ou aproximar-nos mais de sua Mãe, não em dignidade, nem em virtudes, mas na efusão do seu Amor, maior, parece, no dom que nos faz do que naquele que fez a Maria? A Santíssima Virgem soube, porém, reconhecer as graças de Deus. Participando da honra que lhe foi feita, saibamos como Ela, Amar".

(A Divina Eucaristia - São Pedro Julião Eymard,vol. 2, p.61 a 63.)

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