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sábado, 8 de junho de 2013

Carta do Prelado do Opus Dei - Junho

Caríssimos: que Jesus guarde as minhas filhas e os meus filhos!

Ao começar o mês de junho, sempre vem à nossa mente, com particular força, a recordação de São Josemaría, cuja memória litúrgica – solenidade na Prelazia – recai no dia 26. Ao meditarmos no seu exemplo de vida, ao relermos os seus escritos, percebemos cada vez mais as grandes maravilhas que Deus realiza nas almas plenamente fiéis aos seus desígnios. Vem-me à boca aquela exclamação da Sagrada Escritura: Mirábilis Deus in sanctis suis [1], como De

A identificação plena com Cristo – nisto consiste a santidade – é atribuída de modo especial ao Espírito Santo. Agradeçamos-lhe pela ação com que constantemente santifica as almas. Nos dias anteriores, ao celebrarmos a solenidade de Pentecostes e a seguir a Santíssima Trindade, muitas vezes elevamos o nosso coração a esse Deus cuja vontade é – como escreve São Paulo – que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade [2].

E ao mergulharmos novamente no Tempo Comum, a liturgia recorda-nos que nos encontramos na etapa da história intermédia entre a vinda do Paráclito no Pentecostes e o advento glorioso de Jesus Cristo no fim dos tempos. Esta é uma das verdades contidas no Credo, com a qual se encerra o ciclo dos mistérios referentes a Nosso Senhor. Todos os domingos, na Santa Missa, confessamos que o Senhor, agora sentado à direita do Pai, de novo há de vir em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim [3].

«A partir da Ascensão – explica o Catecismo da Igreja Católica –, o advento de Cristo é iminente» [4], no sentido de que pode ocorrer em qualquer momento. Só Deus conhece quando terá lugar este acontecimento que marcará o fim da história e a renovação definitiva do mundo. Por isso, sem alarmismos nem temores, mas com sentido de responsabilidade, temos de caminhar bem preparados para esse encontro definitivo com Jesus, que, por outro lado, se realiza para cada um de nós no momento da morte. De Deus viemos e para Deus vamos: no fundo, esta realidade é a síntese da sabedoria cristã. No entanto, como o Papa lamentava recentemente, estes dois polos da história são frequentemente esquecidos; e sobretudo a fé no retorno de Cristo e no juízo final às vezes não é tão clara e firme no coração dos cristãos [5].

Consideremos que esse encontro definitivo do Senhor com cada um de nós é precedido pela sua atuação constante em cada momento da nossa vida cotidiana. Ainda me recordo da vivacidade com que São Josemaria lhe pedia para este caminhar diário: Mane nobíscum! [6], fica conosco. Dizemos-lhe isto conscientes de que temos de deixar que Ele atue em toda a nossa vida? Também nos estimulava a estar prontos para prestarmos contas a Deus em qualquer momento. Escreveu em Caminho: “Há de vir julgar os vivos e os mortos”, rezamos no Credo. – Oxalá não percas de vista esse julgamento e essa justiça e… esse Juiz [7]. Sou testemunha de que, todos os dias, considerava pessoalmente esta eventualidade e se enchia de alegria; da mesma maneira deveríamos alegrar-nos todos os que sabemos que somos filhos de Deus. Por isso acrescentava: Será que não brilha na tua alma o desejo de que teu Pai-Deus fique contente quando tiver que julgar-te? [8].

O tempo presente, a etapa da história que cabe a cada um de nós percorrer, «é um tempo de expectativa e de vigília» [9], em que temos de trabalhar com a vontade e o entusiasmo dos bons filhos para irmos estabelecendo na terra, com a ajuda da graça, o reino de Deus que Jesus Cristo levará à sua perfeição no último dia. Assim o explica o Senhor na parábola dos talentos, que o nosso Padre comentou em tantas ocasiões [10]. O Romano Pontífice recordou-o em uma das suas catequeses por ocasião do Ano da fé. A espera pelo retorno do Senhor é o tempo da ação (…), o tempo de fazermos render os dons não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os outros; o tempo em que devemos sempre procurar fazer que o bem cresça no mundo. E hoje, em particular, neste período de crise, é importante não nos fecharmos em nós mesmos, enterrando o nosso talento, as nossas riquezas espirituais, intelectuais, materiais, tudo aquilo que o Senhor nos deu; mas abrirmo-nos, sermos solidários, estarmos atentos ao outro [11].

Minhas filhas e meus filhos, não deixemos estas recomendações caírem no esquecimento; esforcemo-nos para que outras pessoas – muitas! – não apenas as escutem, mas se esforcem para pô-las em prática. Em última instância, tudo se resume em permanecermos atentos, por amor a Deus, às necessidades dos demais, começando pelos mais próximos – pelos que se encontram ao nosso lado por motivos familiares, profissionais ou sociais –, tendo muito presente que – como escreveu São João da Cruz e o Catecismo cita – «no ocaso da nossa vida, seremos julgados quanto ao amor» [12]. O próprio Cristo assim o manifesta na impressionante cena do juízo final descrita por São Mateus [13]. Como é que servimos? Pomos alegria sobrenatural e humana nesses detalhes, que devem ser cotidianos?

A reflexão sobre estas realidades últimas não há de ser, repito, uma causa de temores que paralisem a alma, mas ocasião para irmos retificando a nossa senda terrena, conformando-nos com o que Deus espera de cada um de nós. Tem de impelir-nos a viver melhor o presente. Deus oferece-nos este tempo com misericórdia e paciência, para que aprendamos a reconhecê-lO todos os dias nos pobres e nos pequenos; para que nos dediquemos ao bem e estejamos vigilantes na oração e no amor [14].

Somos sustentados e impelidos pelo Espírito Santo, que Jesus enviou ao mundo após a sua ascensão gloriosa ao Céu. Consideramo-lo com alegria na recente solenidade de Pentecostes e confessamos a sua existência e a sua ação na Igreja todas as vezes em que rezamos o Credo: Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado; Ele que falou pelos profetas [15].

Trata-se de uma verdade inacessível à razão humana, revelada por Cristo aos Apóstolos, que nos mostra a grandeza e a perfeição de Deus. «O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do Pai, não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho» [16]. O Catecismo da Igreja Católica sintetiza esta doutrina em breves palavras: «A Unidade divina é Trina» [17].

O Espírito Santo é o Amor das duas primeiras Pessoas: Amor nãocriado e infinito, Amor consubstancial, Amor eterno que procede da entrega mútua do Pai e do Filho: um mistério absolutamente sobrenatural que conhecemos por revelação do próprio Jesus Cristo e que nos ajuda a entender a grandeza do dom de amar. Fundamentados nas suas palavras, os Padres da Igreja e outros grandes teólogos guiados pelo Magistério esforçaram-se por ilustrar de algum modo – sempre no claro-escuro da fé – a divindade do Paráclito.

Baseados no modo de conhecer e de querer próprio das criaturas humanas, criadas à imagem e semelhança de Deus, e nos nomes e missões atribuídos ao Espírito Santo na Sagrada Escritura, esses autores explicaram a sua processão do Pai e do Filho como Amor subsistente. Assim como Deus Pai, ao conhecer a sua própria Essência, gera o Filho, assim o Pai e o Filho se amam em um único ato de amor, eterno e infinito, que é o Espírito Santo.

Que alegria e que paz nos deve dar a fé de nos sabermos assistidos a todo o momento pelo divino Paráclito! Não só acompanhados por Ele de fora, como um amigo afetuoso, mas como um hóspede que mora, com o Pai e com o Filho, na intimidade da nossa alma em graça. Ele é descanso no trabalho, refrigério no meio do calor, consolo no pranto [18], como reza a Igreja na sequência de Pentecostes. É a lux beatíssima, a luz bem-aventurada que penetra até o fundo da alma: ilumina-nos para que conheçamos Cristo melhor, fortalece-nos para segui-lO de perto quando os obstáculos e as contradições parecem assediar-nos, impele-nos a sair de nós mesmos para nos preocuparmos com os outros e levá-los a Deus.

A força e o poder de Deus iluminam a face da terra. O Espírito Santo continua assistindo a Igreja de Cristo, para que seja – sempre e em tudo – o sinal erguido diante das nações para anunciar à humanidade a benevolência e o amor de Deus (cf. Is 11, 12). Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, os homens, podemos olhar com confiança para os céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus nos ama e nos livra dos nossos pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos proporciona [19].

Entre as metáforas que a Escritura utiliza para falar do Paráclito, uma das mais frequentes é a da água, um elemento absolutamente necessário para a vida natural: onde falta ou escasseia, tudo se converte em deserto, e os seres vivos adoecem ou morrem; manifesta uma das grandes riquezas que o Criador confiou aos homens para que a administrem bem, a serviço de todos. Na ordem sobrenatural, essa fonte de vida é o Paráclito. No seu colóquio com a mulher samaritana e depois na festa dos Tabernáculos, Jesus Cristo prometeu que daria água viva àqueles que acolhessem a sua palavra com fé, que poria, em todos aqueles que O buscassem, uma fonte de água viva que brotaria incessantemente do seu interior. São João anota que se referiu com isto ao Espírito que haviam de receber os que cressem nEle [20].

O Espírito Santo chega aos cristãos como manancial inesgotável dos tesouros divinos. Recebemo-lO no Batismo e na Confirmação; é-nos conferido no sacramento da Penitência, aplicando novamente às almas os méritos infinitos de Cristo; é enviado às nossas almas e aos nossos corpos todas as vezes que recebemos a Eucaristia e os outros sacramentos; age na nossa consciência por meio das virtudes infusas e dos dons… Em uma palavra, a sua missão consiste em fazer-nos verdadeiros filhos de Deus e em que nos comportemos de acordo com essa dignidade. Ensina-nos a olhar com os olhos de Cristo, a viver a vida como Cristo a viveu, a compreender a vida como Cristo a compreendeu. Eis por que a água viva que é o Espírito sacia a sede da nossa vida [21].

O Paráclito, Senhor e Dador de vida, que falou pelos profetas e ungiu Cristo para que nos comunicasse as palavras de Deus, agora continua a fazer que a sua voz seja ouvida na Igreja e na intimidade das almas. Por isso, viver segundo o Espírito Santo é viver de fé, de esperança, de caridade: é deixar que Deus tome posse de nós e mude pela raiz os nossos corações, para os moldar à sua medida [22]. Agradeçamos-lhe os cuidados que nos dispensa como um pai e uma mãe bons, porque isso e muito mais é o que Ele faz por cada um de nós. Invocamo-lO frequentemente? Renovamos, todos os dias, a decisão de manter a alma atenta às suas inspirações? Esforçamo-nos por segui-las sem opor resistência?

Para tornar realidade estas aspirações, recomendo-vos que façais vossas umas palavras que São Josemaria escreveu nos primeiros anos da Obra: Vem, ó Espírito Santo! Ilumina o meu entendimento para conhecer os teus preceitos; fortalece o meu coração contra as insídias do inimigo; inflama a minha vontade… Ouvi a tua voz e não quero endurecer-me e resistir, dizendo: depois…, amanhã. Nunc cœpi! Agora!, que não seja que o amanhã me falte.

Ó Espírito de verdade e sabedoria, Espírito de entendimento e conselho, Espírito de alegria e paz! Quero o que quiseres, quero porque o queres, quero como o quiseres, quero quando o quiseres… [23].

Peçamos-lhe com toda a confiança pela Igreja e pelo Papa, pelos bispos e sacerdotes, por todo o povo cristão. De modo especial, roguemos-lhe por esta pequena parte da Igreja que é o Opus Dei, pelos seus fiéis e cooperadores, por todas as pessoas que se aproximam do nosso apostolado movidas pelo nobre desejo de servir a Deus e os outros mais e melhor. E que grande consolo nos é oferecido com a solenidade do Coração de Jesus e com a memória do Coração Imaculado de Maria! Recorramos a estes refúgios de paz, de amor, de alegria, de segurança.

Há dois dias regressei de uma viagem à África do Sul, onde o trabalho da Obra vai ganhando corpo. Sabeis que me faria feliz estar em todos os lugares onde vivem e trabalham as minhas filhas e os meus filhos. Vou a cada um deles com a oração, com o sacrifício feito com gosto, com o oferecimento do trabalho. Uni-vos às minhas intenções e rezai por mim, especialmente por ocasião do meu aniversário, no próximo dia 14, para que, sempre e em tudo, me deixe conduzir pelo afã exclusivo de servir a Deus, a Igreja, as almas e todos vós com a totalidade e a alegria com que o nosso Padre procedeu, com a fidelidade do queridíssimo D. Álvaro e de todos os que nos precederam na Casa do Céu.

Com todo o afeto, abençoa-vos

                                                                                     o vosso Padre

                                                                                     + Javier



Roma, 1º de junho de 2013.
us é admirável nos seus santos!

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