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domingo, 26 de janeiro de 2025

É hora de parar por aqui

Não sei quantos ainda me seguem neste blog desde o início, desde o seu "auge" há uns doze ou quinze anos, ou quem o segue somente desde esta recente retomada. Contudo, estou mudando o jeito de me comunicar e para isto criei um novo blog, um novo local onde poderei expressar-me de maneira mais subjetiva naquilo que me vem como inspiração.

Diante disto, deixarei este blog no ar e, quando necessário, voltarei aqui para buscar inspiração nos meus novos textos.

A quem se interessar naquilo que venho escrevendo, deixo o link do meu novo blog: Nova et Vetera.

A (des)continuidade - Traditionis Custodes (Parte I)

Foto CNS/L'Osservatore Romano

Acompanhando o Motu Proprio Summorum Pontificum, o papa Bento XVI fez questão de enviar uma carta a cada bispo do mundo inteiro em que explicava a sua vontade ao ter promulgado o documento "sobre o uso da liturgia romana anterior à reforma realizada em 1970". Nesta carta, quero destacar um parágrafo que sintetiza toda a ideia do documento e que já há muito foi difundido neste mesmo blog e em outros mundo afora: 

Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar. Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das Comunidades aderentes ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros. De facto, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a exclusão total do mesmo.

Parece, à primeira vista, um pouco óbvia a conclusão do papa: não pode haver contradição entre os dois missais romanos, senão, um estaria correto e outro errado. Ou um estaria com a fé católica ou o outro estaria privado desta, ou um santificaria e edificaria ou o outro não, etc. No entanto, seguindo um princípio lógico, quis o papa afirmar a ideia da busca por conciliar as duas liturgias romanas em pé de igualdade, mesmo que ainda exista uma certa preferência subjetiva entre as duas.

O ponto mais certeiro desta citação do documento de Bento XVI é exatamente o que consta no art. 1º do Motu Proprio Summorum Pontificum

Art. 1. O Missal Romano promulgado por  Paulo VI é a expressão ordinária da «lex orandi» («norma de oração») da Igreja Católica de rito latino. Contudo o Missal Romano promulgado por São Pio V e reeditado pelo Beato  João XXIII deve ser considerado como expressão extraordinária da mesma «lex orandi» e deve gozar da devida honra pelo seu uso venerável e antigo. Estas duas expressões da «lex orandi» da Igreja não levarão de forma alguma a uma divisão na «lex credendi» («norma de fé») da Igreja; com efeito, são dois usos do único rito romano. 

O papa esclareceu uma grande questão que estava aberta na Igreja, se era lícito ou não continuar celebrando a liturgia romana anterior à reforma de 1970, e se isto é considerado um atentado à unidade da eclesial ou ao próprio romano pontífice enquanto garantidor desta unidade deseja pelo Senhor. E a resposta do papa foi a de que o rito romano teria duas formas, dois usos, uma ordinária (a mais recente, moderna) e uma extraordinária (mais antiga). 

Este pensamento fixou-se como uma "reparação histórica" a todos quantos lutaram pela manutenção da liturgia romana antiga, que como afirmou o papa Bento XVI, não poderia ser considerado prejudicial, pois permanecia sagrado e grande também para a atual geração. Lembremos que até hoje encontramos muitos sacerdotes idosos, aqueles padres comuns de nossas igrejas, que celebram suas missas, até mesmo com algumas irreverências, diga-se, que encontraram sua vocação por meio daquela liturgia, ainda que hoje não a celebrem mais, e que naquela missa foram ordenados.

Nesta esteira, cabe pensar que o atual papa Francisco foi batizado, crismado, teve a sua primeira comunhão e juventude inteira inteira assistindo a missa anterior à reforma de 1970, basta lembrar que ele foi ordenado sacerdote em 1964, quando a liturgia romana já estava modificada, porém ainda tinha muito mais semelhança com a velha forma que com a nova. O despertar da sua vocação não foi uma atração pela liturgia nova porque esta não existia, foi pela missa antiga, já que esta era a única forma do rito romano.

Entretanto, a geração do papa Francisco e as seguintes que tiveram contato com todas as deformações litúrgicas que não foram corrigidas pelas autoridades, mas que, pelo contrário, pareciam ser incentivadas a ponto de desfigurar de tal forma o rito que somente mantinha-se a sua validade por não alterarem a fórmula da consagração eucarística, dispuseram que a então chamada forma extraordinária do rito romano não pode ser considerada rito romano. E poderá ser considerada o quê? 

Foi em 16/07/2021 que o papa Francisco publicou o Motu Proprio Traditiones Custodes, que indo no sentido oposto ao do seu predecessor e com uma carta enviada aos bispos do mundo inteiro na qual explicava sua motivação, determinando que a denominada missa ordinária, considerada como aquela prevista "nos livros litúrgicos promulgados pelos santos pontífices Paulo VI e João Paulo II, em conformidade com os decretos do Concílio Vaticano II, são a única expressão da lex orandi do Rito Romano".

Percebemos aí que catorze anos depois, os papas entraram em contradição. A contradição é algo que não pode existir na Igreja, pois a verdade é indivisível e só permite que uma afirmação seja correta enquanto a outra deverá obrigatoriamente ser falsa. Parece-nos muito mais baseado na lógica ficarmos com o posicionamento do papa Bento XVI segundo o qual a liturgia romana teria duas formas de ser celebrada, de lex orandi, portanto, tanto por que a liturgia romana - dita extraordinária - cronologicamente é anterior, tanto porque foi utilizada durante mais de 16 séculos quase que invariavelmente na Igreja, gerando santos e uma civilização inteira como testemunha de sua unidade.

Diante de tudo isto, o que chega até a minha geração? Mais fraturas no corpo eclesial. Mais feridas. Mais rupturas incisivas, mais autoritarismo, mais desobediência, mais contradições e mais desunião entre os fiéis. Drásticas medidas levam a drásticos resultados. Um fato incontestável é que a descontinuidade entre os dois pontificados recentes é só mais uma marca da história da Igreja no século XXI.

[Continua...]

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Uma decadência (im)prevista

Foto de Marko Vombergar/ALETEIA

 Foto de Marko Vombergar/ALETEIA


Nos anos de 2007 a 2013, mais precisamente até fevereiro de 2013, quando se vivia o pontificado de Bento XVI, uma gama de presbíteros, seminaristas e leigos sob o impulso exemplar do papa da época eram motivados a empreender esforços para transformar a liturgia moderna - forma ordinária do rito romano na denominação do próprio Bento XVI - cada vez mais parecida/conectada com a liturgia antiga, isto é a então denominada forma extraordinária do rito romano.

Respirava-se naqueles anos uma expectativa de quando e como o papa celebraria algum ato litúrgico conforme as rubricas antigas (o que por si só seria algo extraordinário!), mas os anos se passavam e o seu mestre de cerimônias Guido Marini era enfático em afirmar que não havia sido requerido nada do tipo, não tendo data prevista para tal. 

Muitos eram também os sacerdotes, que no afã do momento, repristinavam paramentos esquecidos, confeccionavam outros, escreviam textos na internet conclamando para o respeito ao texto conciliar e o seu correto modo de interpretação (a chamada hermenêutica da continuidade), celebravam em igrejas cada vez mais lotadas de jovens a missa antiga e pregavam pelo apelo à obediência ao papa, ao respeito à liturgia antiga e moderna, e ao estudo sério do catecismo.

Em março de 2013 com a eleição do papa Francisco, estes mesmos sacerdotes, seminaristas e leigos, acabaram por acordar de um sonho, diga-se, porque o papa já não usava rendas, nem belos paramentos, trajava somente a batina branca com cruz da cor de prata e não "rubricava" como era de se esperar de um jesuíta. Muitos destes mudaram o discurso, as vestes, os textos e alguns até mudaram a fé, aliás, deixaram a fé. 

Não pretendo nestas linhas criticar o papa Francisco, mas sim apontar o que eu vi e ouvi nestes anos de internet. A bem da verdade, durante este intervalo de 2016 até hoje, eu mesmo passei por algumas mudanças. Estive a investigar os dois lados de um paralelo, como o padre Paulo Ricardo chamou, a batalha dos missais. 

O que aqui busco expor brevemente é como tivemos uma guinada, de 2013 para cá, naquilo que há pouco tempo era considerado um "sopro do Espírito" ou também, como diz-se no Concílio Vaticano II, os "sinais dos tempos", de que o pontificado de Bento XVI era o início de uma reestruturação da reforma litúrgica do pós-concílio, isto é, nas palavras do mesmo papa, uma reforma da reforma. 

Esta mesma reforma tinha alguns pontos visíveis, como a centralidade do crucifixo sobre o altar (a fim de minimizar a nova orientação litúrgica do sacerdote, que agora celebra versus populum), o uso do incenso, maior espaço para o canto gregoriano e para a polifonia sacra, e a primazia da beleza nas vestes, nos objetos e nos gestos litúrgicos como um todo. Talvez o erro tenha sido que esta reforma da reforma só tenha tido o apoio do papa e dos sacerdotes, mas não dos bispos, que após o final do pontificado do papa alemão puseram-se mais à vontade em muitos temas e agora são "Traditionis Custodes".

Por fim, para não alongar o que deveria ser breve, entendo que cada missal, o de 1962 e o de 1970 possui uma cultura circundante, que molda caráter e ações. Para um lado e para outro vemos conversões, vida de oração, bons testemunhos e catolicidade. Em um e em outro, há sim contradições quanto a gestos, frases e momentos, mas em ambos encontramos a fé da Igreja. É verdade, tenho que ser honesto, no missal anterior temos mais facilmente acesso ao depósito da fé, mas ainda há barreiras eclesiais para todos afirmarem isso.

Creio que voltarei a escrever sobre este assunto, principalmente comentando o efeito Traditionis Custodes.

Jubileu


Foto/captura de tela do CNS, Vatican Media

Na noite do Natal de 2024 o papa Francisco inaugurou o Jubileu ordinário dos dois mil e vinte e cinco anos do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo ao abrir a Porta Santa da Basílica de São Pedro.

Temos uma nova oportunidade de presenciar física e espiritualmente um acontecimento histórico e importantíssimo na vida eclesial, considerando que os jubileus não ocorrem corriqueiramente, mas de vinte e cinco em vinte e cinco anos. Se não levássemos em conta o jubileu extraordinário, convocado em 2015-2016, o último teria sido no grande ano 2000.

Posso dizer que este é o primeiro jubileu que comemoro piamente, e, espero ver outros ainda, principalmente se o papa convocá-lo em 2033, quando deveremos comemorar os dois mil anos da morte e ressurreição de Cristo. 

Que este ano santo, encha de mais fé e confiança a todos nós católicos para que nos orientemos mais para o Senhor, para que nos convertamos diariamente e tenhamos uma vida santa para a glória de Deus e nossa salvação.

Ao Santo Padre, Francisco, que Deus o conserve com saúde e lhe dê a graça necessária para bem guiar-nos neste ano santo de 2025.

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