As mudanças na Liturgia Romana
surgidas depois do Concílio Vaticano II fizeram com que normas que antes eram
respeitadas fossem deixadas de lado, esquecidas, tornadas como que, um objeto a
reformar que como um sujeito capaz de renovar a vida cristã [1].
Após o Concílio, houve grande
anseio dos padres presentes no mundo para receber as novas instruções de
liturgia trazidas na bagagem de seus bispos diocesanos. Ao receberem estas novas
diretrizes, alguns interpretaram de modo errado, ora, uma maçã podre misturada
no mesmo cesto que maçãs boas, contamina todas as outras, ou seja, um erro puxou
o outro, formando uma grande bola de neve que veio rolando monte abaixo até cair
sobre nossas cabeças. Assim, entrando em nossas mentalidades, criou uma lavagem
cerebral litúrgica, que não permite a correta aplicação das reformas que cabem à
Santa Liturgia.
A grande questão do dias de
hoje, é a má hermenêutica da continuidade, parece que a Tradição da Igreja parou
em 1962. Não. A Tradição da Igreja está viva hoje, está presente em nosso redor,
mas nós não sabemos onde ela está. Por isso foi preciso, um papa alemão começar
a restaurar o espírito da liturgia, a querer mostrar que O Espírito Santo não
abandonou sua Igreja no século XX, mas que Ele continua conosco, porém,
precisamos achá-lo. Achando a Liturgia autêntica e correta, acharemos a
identidade católica e acharemos por consequência o Espírito Santo.
No Concílio Vaticano II
precisava-se desde o início a
“necessidade de um estudo mais aprofundado do fundamento teológico da Liturgia”,
para evitar cair no ritualismo ou promover o subjetivismo, o protagonismo do
celebrante, e para que a reforma estivesse bem justificada no âmbito da
Revelação e em continuidade com a tradição da Igreja.
[2]
No âmbito litúrgico depois do
Vaticano II, muitos padres sentiram uma necessidade de liberdade da liturgia.
Não conheciam muito as normas litúrgicas, então, leram somente a parte de algum
documento dizendo “a parte dos leigos na vida e na missão da Igreja” e deram um
passo para trás e deixaram que os fiéis fizessem a sua “liturgia paroquial”.
Criou-se uma “liturgia em que se promove o homem e não a Deus”, Deus foi posto
de lado, literalmente. Os sacrários que antes ficavam no centro das igrejas
agora estão de lado, colocados em capelas minúsculas, nos seus lugares foram
colocados as cadeiras do celebrante e de seus ministros, uma cruz (quando há
cruz), e alguns enfeites modernos.
De fato, a participação dos
leigos deve ser mais efetiva nas igrejas. Isto acontece. Não vemos as leituras?
Não vemos os corais, os antigos coros? Não vemos uma Oração universal, ou oração
dos fiéis? Por que então precisa-se desta presença maior dos leigos na liturgia?
Já não há espaço suficiente? Correntes de teologias modernas principalmente
levadas pela Irmã Ione Buyst querem equiparar o sacerdócio ao laicato, quer
dizer que na falta de um sacerdote numa comunidade, um leigo possa tomar o lugar
e celebrar a Santa Missa [3], como se a Missa fosse uma refeição comunitária,
onde vemos que se perdeu a noção de Missa como Sacrifício Incruento de Nosso
Senhor no Calvário.
A visão moderna da Missa
colocou uma contradição, para os modernos dos modernos, a Missa é a
representação da Ceia do Senhor. A Missa deixou de ser o ápice da vida cristã, a
máxima oblação a Deus, para ser uma mera teatralidade.
Sendo a liturgia a celebração
do mistério de Cristo aqui e agora, o sacerdote é chamado a expressar sua fé de
duas maneiras. Primeiro, ele deveria celebrar com olhos de quem vê além da
realidade visível para “tocar” o que é invisível, isto é, a presença e a obra de
Deus. É a ‘ars celebrandi’ (arte de celebrar) que permite aos fiéis analisar se
a liturgia é apenas uma performance, um espetáculo do sacerdote ou se é uma
relação vivída e atraente com o mistério de Cristo. Segundo, após a celebração o
sacerdote está renovado e pronto para seguir o que experimentou, isto é, para
fazer de sua vida uma celebração do mistério de Cristo.[4]
O Papa Bento XVI vem fazendo um
ótimo trabalho na restauração da Sagrada Liturgia, em primeiro lugar, ele fez
com que voltássemos a ter uma mentalidade litúrgica, voltada para o Oriente,
para o centro que é Cristo. Como ele fez isso? Colocou um elemento que havia
sido deixado de lado pelos modernistas, a Cruz. A Cruz passou a ser colocada no
centro do altar, dizendo que Cristo e sua Cruz devem ser o centro da Liturgia.
Depois não desmerecendo, colocou as sete velas no altar para as suas celebrações
eucarísticas, relembrando o antigo costume dos Santos Padres, e obedecendo as
rubricas do Institutio Generalis Missalis Romani( IGMR) bem como ao Caeremoniale
Episcoporum .
Mas este novo movimento
litúrgico não se faz somente, com alguns detalhes sobre o altar, se faz na
mudança de consciência dos sacerdotes e dos fiéis. Um dos grandes avanços deste
Movimento de recuperação da Liturgia Romana, foi a publicação do Motu Proprio
Summorum Pontificum, em 2007. Este deu autonomia aos sacerdotes e as leigos de
celebrarem a Liturgia da Missa conforme o missal de 1962, anterior à Reforma
Conciliar.
“Aquilo que para as gerações anteriores era
sagrado, permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso
totalmente proibido ou mesmo prejudicial."( Bento XVI no Motu Proprio Summorum
Pontificum).
Precisamos redescobrir o
sentido de viver a Liturgia, resgatar os aspectos que se perderam nos erros de
interpretação do Sacrosanctum Concilium,
queremos
estar na comunhão com o Sumo Pontífice, e em comunhão com todos os que estão em
comunhão com ele nos esforçamos para fazer parte e para contribuir com o
crescimento de um Novo Movimento Litúrgico que vem surgindo em nossos tempos, o
qual tem como finalidade a redescoberta e a vivência do verdadeiro espírito da
liturgia e do sentido de Igreja.[5]
A
reforma litúrgica,em sua realização concreta, se distanciou demais desta origem.
O resultado não foi uma reanimação, mas uma devastação. De um lado, tem-se a
liturgia que se degenerou em “show”, onde se quis mostrar uma religião atrativa
com a ajuda de tolices da moda e de incitantes princípios morais, com êxitos
momentâneos no grupo de criadores litúrgicos e uma atitude de reprovação tanto
mais pronunciada nos que buscam na Liturgia, não tanto o “showmaster”
espiritual, mas o encontro com o Deus vivo, diante do qual toda “ação” é
insignificante, pois somente este encontro é capaz de nos fazer chegar à
verdadeira riqueza do ser. [6]
Restauremos,
portanto, a noção de Liturgia como encontro de Deus conosco e de Nós com Ele. Só
assim, conseguiremos vencer esta batalha entre a “Fumaça de Satanás” e os Filhos
da Santa Igreja.
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Notas:
[1] Bento XVI. Congresso Romano
pelos 50 anos da fundação do Pontifício Instituto Litúrgico.
[2] Bento XVI. Congresso Romano
pelos 50 anos da fundação do Pontifício Instituto Litúrgico.
[3] Taiguara Fernandes de
Sousa."Ione Buyst e sua 'Doutrina da Confusão dos Sacerdócios': uma
doutrina exótica". Salvem a Liturgia.
[4] Guido Marini. Reforma
Litúrgica de Bento XVI.
[5] Subsídios Litúrgicos Summorum
Pontificum. "Novo Movimento Litúrgico Beneditiano".
[6] Bento XVI. "A Intrepidez de
uma verdadeira Testemunha". Livro de Klaus Gamber.
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