D.Claudio Hummes - Nós nos conhecemos de tantas oportunidades, porque
fui arcebispo de São Paulo, e ele, arcebispo de Buenos Aires. Mas
sobretudo foi em Aparecida (SP) onde estivemos mais tempo trabalhando
juntos, na 5ª Conferência Latino-americana, em 2007. Existia ali a
comissão da redação, a mais importante porque ali que se formulava o
documento para depois ser votado. Ele era o presidente, e eu, um dos
membros. Admirei muito a sua sabedoria, serenidade, santidade divina,
espiritualidade. Muito lúcido e muito pastoral, grande zelo missionário,
de querer que a igreja seja mais evangelizadora, mais aberta.
Como foi o convite para o balcão?
Quando se começou a organizar a procissão da Capela Sistina para o
balcão na praça, ele chamou o cardeal Vallini, que faz as vezes do bispo
de Roma, o vigário da cidade, e me chamou também. Disse: "D.Cláudio,
vem você também, fica comigo neste momento". Disse até: "Busca o teu
barrete [chapéu eclesiástico]", bem informalmente. Fui lá buscar o meu
barrete e estava todo feliz....
Porque não é o costume, quem vai junto são os cerimonários, nunca tem
cardeais com o papa, eles estão nos outros balcões. E o fato de que ele
nos convidou acabou rompendo um monte de rituais. Mas foi realmente,
para mim, muito gratificante. E também pelo fato de ele ter
recém-escolhido o nome de Francisco. Eu sou franciscano, então isso me
envolvia muito pessoalmente.
Como o sr. interpreta esse gesto?
Como um gesto pessoal dele, muito espontâneo, muito simples. Não sei
quais os significados que ele queria dar. Eu digo que fiquei muito
feliz, estava ali com o primeiro papa chamado Francisco.
[...]
São Francisco também é lembrado pela missão de reformar a igreja como um todo. A escolha do nome também tem essa abrangência?
Certamente, para o papa, o nome é todo esse programa. Hoje, a igreja (sic)
precisa, de fato, de uma reforma em todas as suas estruturas. Organizar a
vida da igreja (sic), a Cúria Romana, que tanto se falou e que precisa
urgente e estruturalmente ser reformada, isso é pacífico entre nós.
Porém uma coisa é entender que precisa ser feito e outra coisa é
fazê-lo.
Será uma obra gigantesca. Não porque seja uma estrutura gigantesca, mas
por um mundo de dificuldades que há dentro de uma estrutura como essa,
que foi crescendo nos últimos séculos.
Alguém disse já que a escolha do nome Francisco já é uma encíclica
[mensagens do papa à igreja(sic)], não precisa nem escrever. Isso é muito
bonito, é muito promissor.
A primeira viagem do papa deve ser ao Brasil, onde a igreja enfrenta
desafios muito grandes, como a evasão de jovens e o avanço das igrejas
neopentecostais. O sr. tem uma ideia do que o papa pretende orientar
sobre o futuro da igreja no país?
Ainda não transpirou nada sobre as mensagens que ele vai levar, mas a
gente sabe, tem certeza de que ele vai falar, em primeiro lugar, da
importância dos jovens, de que devemos estar do lado dele, devemos ser
compreensíveis. Ele quer que a igreja (sic) seja compreensiva, misericordiosa,
saiba caminhar juntos e que isso é um percurso que tem de fazer, não se
pode exigir que amanhã alguém já seja um cristão perfeito. É um
caminho, um processo.
É dar a certeza aos jovens de que a igreja (sic) os entende e quer
acompanhá-los e também quer mostrar a luz. Quer dizer: "Prestem atenção,
existe, sim, um sentido para a vida, existe alguém pelo qual vale a
pena viver e dar a vida. Há alguém, que é Jesus Cristo, ele é uma luz
que vocês deveriam seguir." Isto é, não deixar de mostrar o caminho,
mas, ao mesmo tempo, ser compreensivo de onde o jovem ainda está nesse
caminho.
E depois a nova evangelização certamente será um outro tema forte dele.
O sr. já é emérito, mas vai ficar no Vaticano em alguma função?
Não, não, eu vou ficar aqui até o dia 22, vou participar da cerimônia
pública religiosa e vou participar de uma reunião no dia 21. E aí volto
para os meus trabalhos.
Há relatos na imprensa italiana de que o sr. contribuiu durante o conclave para eleger o papa Francisco. O sr. confirma?
Tudo o que aconteceu dentro do conclave, eu não posso falar.
A matéria completa encontra-se neste link: Folha de São Paulo - Online
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