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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Carta do Prelado do Opus Dei para o mês de Maio

Caríssimos: que Jesus guarde as minhas filhas e os meus filhos!

Mês de maio: um tempo rico em festas litúrgicas e em aniversários da Obra. Desejamos percorrê-lo conduzidos pela mão da Virgem, nossa Mãe, que nos leva sempre ao seu Filho e, com Ele e por Ele, ao Espírito Santo e a Deus Pai. Desde agora, pedimos a Nossa Senhora que nos acompanhe muito de perto, que nos obtenha sempre graças abundantes para sermos dóceis ao Paráclito – como Ela o foi – e assim nos parecermos mais e mais com o seu Filho Jesus.

Nas semanas decorridas desde a eleição do Papa Francisco, pudemos contemplar os afãs de renovação interior que se produziram em tanta gente, porque são muitas as pessoas que manifestaram publicamente a necessidade de se aproximarem de novo ou com mais frequência do sacramento da Penitência. Agradeçamos ao Senhor estes dons cuidando, em primeiro lugar, de aproveitá-los a fundo pessoalmente, ao mesmo tempo que nos esforçamos por ajudar os nossos parentes, amigos, colegas de trabalho ou de estudo, a decidir-se a empreender diariamente – como nós mesmos temos que fazer – uma vida plenamente coerente com a fé que professamos.

Continuando com a exposição dos artigos do Credo, aprofundemos no mistério da Ascensão do Senhor. Cremos, com efeito, que Jesus Cristo, depois de ressuscitado, subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai [1]. Esta solenidade, que celebraremos neste mês – na quinta-feira dia 9 ou, nos países em que foi transferida para o domingo seguinte, no dia 12 –, deve constituir para todos uma ocasião de recordar o ditoso fim a que fomos chamados. Esta verdade lembra-nos um fato histórico e, ao mesmo tempo, um acontecimento de salvação. Como fato histórico, a Ascensão “marca a entrada definitiva da humanidade de Jesus no domínio celestial de Deus, de onde há de voltar, mas que, entrementes, o oculta aos olhos dos homens” [2]. Agora está presente na Eucaristia, de modo sacramental; mas, no seu ser natural, está somente no Céu, de onde virá no fim dos tempos, cheio de glória e majestade, para julgar todos os homens.

O evangelista que relata com mais pormenor este acontecimento é São Lucas. No começo dos Atos do Apóstolos, escreve que o Senhor, depois da sua Paixão, apresentou-se vivo diante deles [diante dos Apóstolos e de outros discípulos], com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes das coisas do reino de Deus [3]. Também narra que, em uma das aparições aos Apóstolos, o Senhor lhes abriu o entendimento para que compreendessem as Escrituras. E disse-lhes: “Assim está escrito: que era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dentre os mortos ao terceiro dia, e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de tudo isto” [4].

São Josemaria considerou muitas vezes estas cenas, nas reuniões familiares que costumava ter com numerosas pessoas. Numa ocasião, por exemplo, convidava os que o escutavam a pensar no Senhor depois da Ressurreição, quando falava de muitas coisas, de tudo o que os seus discípulos lhes perguntavam. Aqui imitamo-lo agora um pouquinho, porque vós e eu somos discípulos do Senhor e queremos trocar impressões [5]. E em outro momento, acrescentava: Falava-lhes como nós falamos agora aqui: a mesma coisa! Isso é a contemplação: trato com Deus. E a contemplação e o trato com Deus levam-nos ao zelo pelas almas, à fome de trazer Cristo aos que se afastaram [6].

Mas voltemos ao momento da Ascensão, quando Jesus os levou até perto de Betânia e, levantando as mãos, os abençoou. E, enquanto os abençoava, separou-se deles e começou a elevar-se ao céu [7]. Numa das últimas audiências, refletindo sobre este mistério, o Papa Francisco perguntava-se: Qual é o significado deste acontecimento? Quais são as suas consequências para a nossa vida? Que significa contemplar Jesus sentado à direita do Pai? [8].

O Senhor subiu ao Céu como Cabeça da Igreja: deixou-nos para preparar-nos um lugar, como tinha prometido [9]. “Precede-nos no Reino glorioso do Pai para que nós, membros do seu corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele” [10]. No entanto, para entrarmos com Cristo na glória, é necessário que sigamos os seus passos. O Papa faz notar que, enquanto sobe a Jerusalém para a sua última Páscoa – em que ia consumar o sacrifício redentor –, Jesus vê já a sua meta, o Céu, mas sabe com certeza que o caminho que o devolve à glória do Pai passa pela Cruz, pela obediência ao desígnio divino de amor à humanidade (...). Também nós devemos ter bem presente na nossa vida cristã que entrar na glória de Deus exige a fidelidade diária à sua vontade, mesmo quando esta requer sacrifício; quando, em certas ocasiões, requer que mudemos os nossos planos [11]. Não esqueçamos, filhas e filhos meus, que não há cristianismo sem Cruz, não há verdadeiro amor sem sacrifício, e procuremos conformar a nossa vida diária com esta realidade gozosa. Porque significa darmos os mesmos passos que o Mestre seguiu, Ele que é o Caminho, a Verdade e a Vida [12].

Por isso, a grande festa da Ascensão convida-nos a examinar como deve concretizar-se a nossa adesão à vontade divina: sem rêmoras, sem laços que nos atem ao nosso eu, com a determinação plena, renovada em cada dia, de procurar, aceitar e amar com todas as nossas forças essa vontade. O Senhor não nos oculta que a obediência rendida à vontade de Deus exige renúncia e entrega, porque o amor não reclama direitos: quer servir. Ele percorreu primeiro o caminho. Jesus: como foi que obedeceste? Usque ad mortem, mortem autem crucis (Fil 21, 8), até à morte, e morte de Cruz. Temos que sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas [13].

A Sagrada Escritura conta que, depois da Ascensão, os Apóstolos regressaram a Jerusalém com grande alegria. E estavam continuamente no templo bendizendo a Deus [14]. Uns dias antes, quando Jesus lhes anunciara que perderiam a sua presença sensível, tinham-se enchido de tristeza [15]; agora, porém, mostram-se cheios de alegria. Como se explica esta mudança? É que, com os olhos da fé, mesmo antes da chegada visível do Espírito Santo, compreendem que Jesus, embora se subtraia à sua vista, permanece sempre com eles, não os abandona e, na glória do Pai, os sustém, os guia e intercede por eles [16].

Sabemos pela fé que também agora Jesus Cristo continua junto de nós e em nós, mediante a graça, com o Pai e o Espírito Santo, e na Sagrada Eucaristia. Ele é o nosso apoio e a nossa fortaleza, o irmão mais velho, o amigo mais íntimo, que nunca nos abandona, especialmente nos momentos de tribulação ou de luta. Segundo afirma São João na sua primeira Carta, Ele é o nosso advogado: como é bonito ouvir isto! Quando uma pessoa é citada pelo juiz ou entra num pleito, a primeira coisa que faz é procurar um advogado para que o defenda. Nós temos um que nos defende sempre, que nos defende das ciladas do demônio, nos defende de nós mesmos, dos nossos pecados! (...). Não temamos ir a Ele para pedir-lhe perdão, pedir-lhe benção, pedir-lhe misericórdia! [17] Esforçamo-nos por agir na presença de Deus, aconteça o que acontecer? Sabemos acolher as suas disposições? Com que intensidade o invocamos?

A certeza de que o Mestre nos acompanha constitui outra consequência do fato da Ascensão, que nos cumula de paz e alegria. Uma alegria e uma paz que necessariamente temos de comunicar aos outros, a todas as pessoas que passam por nós e especialmente aos que – talvez sem se aperceberem muito disso – sofrem por causa do seu afastamento de Deus. Como recalcava São Josemaria ao escrever sobre esta festa, temos uma grande tarefa à nossa frente. Não é possível permanecermos passivos, porque o Senhor nos declarou expressamente: Negociai até que eu volte (Lc 19, 13). Enquanto esperamos o regresso do Senhor, que voltará para tomar posse plena do seu Reino, não podemos ficar de braços cruzados. A propagação do Reino de Deus não é apenas tarefa oficial dos membros da Igreja que representam Cristo por terem recebido dEle os poderes sagrados. Vos autem estis corpus Christi (1 Cor 12, 27): vós também sois corpo de Cristo – frisa o Apóstolo –, com o mandato específico de negociar até o fim [18].

Este mês, dedicado em muitos países a Maria, tem sido sempre na Obra um tempo especialmente apostólico. O nosso Padre ensinou-nos a ir em romaria a uma ermida ou igreja dedicada à Virgem, se possível em companhia de algum dos nossos amigos ou colegas. Todos temos a experiência de que, ao regressarmos depois à vida normal – ao trabalho, à família –, notamos uma força interior nova, que a nossa Mãe nos consegue para nos encaminharmos ou reencaminharmos rumo ao seu Filho Jesus. Vem-me à memória a primeira romaria do nosso Padre a um santuário mariano – a Sonsoles, em Ávila: amanhã será um novo aniversário – e a inesquecível novena a Nossa Senhora de Guadalupe do ano de 1970, em que rezou com tanta fé pela Igreja, pelo Papa e pelo Opus Dei. Sugiro-vos que façamos a Romaria de maio deste ano muito unidos a essas intenções que o nosso Fundador continua a ter no Céu.

Na segunda quinzena deste mês, no dia 19, a liturgia apresenta-nos a solenidade de Pentecostes, e, no domingo seguinte, a festa da Santíssima Trindade. O Paráclito – agora como na época apostólica e sempre na vida da Igreja – é quem fortalece os cristãos e lhes comunica valentia para anunciar Jesus por toda a parte. Meditai no que aconteceu após a morte de Estevão, o primeiro mártir. Naquele dia – dizem concisamente os Atos dos Apóstolos – irrompeu uma grande perseguição contra a igreja de Jerusalém, e todos, exceto os Apóstolos, se dispersaram pelas regiões da Judeia e da Samaria [19]. Aquela perseguição, em vez de coibir o crescimento da Igreja, trouxe como consequência a sua expansão para além dos confins de Jerusalém; arraigou em novos lugares, em novas gentes, mesmo em pessoas que não pertenciam ao povo de Israel, como eram os samaritanos. Coisa idêntica aconteceu com São Paulo durante as suas viagens apostólicas.

Ao considerarmos estes fatos, recordados nas leituras do tempo pascal, deveríamos em boa lógica perguntar-nos: Dou testemunho da minha fé em Cristo? Peço a Deus que me aumente esta virtude teologal, juntamente com a esperança e a caridade, especialmente neste Ano da fé? Ajuda-me a ser audaz a consideração de que Jesus ressuscitado caminha junto de mim por todas as sendas da minha vida corrente? Vou com frequência ao Sacrário para pedir ao Senhor uma maior piedade no meu trato com Ele e com a sua Santíssima Mãe? Escutemos as perguntas que nos faz o Papa Francisco: Tu e eu, adoramos o Senhor? Vamos a Deus somente para pedir, para agradecer, ou dirigimo-nos a Ele também para adorá-lo? (...). Adorar o Senhor quer dizer dar-lhe o lugar que lhe corresponde; adorar o Senhor quer dizer afirmar, crer – mas não apenas com palavras – que só Ele guia verdadeiramente a nossa vida [20].

No mês passado, fui ao Líbano numa viagem rápida. Como sempre, contei com a vossa ajuda para impulsionar o trabalho apostólico dos fiéis da Prelazia nesse querido país, encruzilhada do Oriente Médio. Acompanhado por todas e por todos, rezei diante de Nossa Senhora do Líbano, no santuário de Harissa, pedindo especialmente pela paz em toda aquela região e no resto do mundo. Não desistamos de recorrer a Santa Maria em todas as necessidades da Igreja e da sociedade. É a atitude que a nossa Mãe nos ensina na festa da Visitação, no último dia do mês: fomentar em todos os momentos a disposição de servir os outros nas diversas circunstâncias que se apresentem, com Maria serviu a sua prima Isabel.

Apresentai a Nossa Senhora as minhas intenções: não há nada de egoísmo neste pedido, porque – entre muitas outras – inclui-se nessas intenções o pedido pela vossa fidelidade quotidiana, traçada com alegria, com perseverança, com fome de santidade pessoal e de zelo apostólico. Suplicai à Mãe da Igreja que obtenha da Trindade Santíssima, para a Igreja inteira e para esta partezinha da Igreja que é a Prelazia, muitos sacerdotes, plenamente entregues ao seu ministério. Rezai de modos especial pelos novos presbíteros da Obra, que receberão a ordenação sacerdotal no próximo dia 4, para que sejam – como o nosso Padre desejava – santos, doutos, alegres e esportistas no terreno sobrenatural.

Com todo o afeto, abençoa-vos

                                                               o vosso Padre

                                                               +Javier

Roma, 1 de maio de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Carta do Prelado do Opus Dei

Caríssimos: que Jesus guarde as minhas filhas e os meus filhos!

Ainda são muito recentes os momentos de grande importância de que fomos testemunhas na vida da Igreja: a eleição de um novo Romano Pontífice. Como acontece  sempre nestes eventos, pudemos experimentar a ação do Paráclito e o que Bento XVI afirmava ao iniciar o ministério petrino: “A Igreja está viva; esta é a maravilhosa experiência deste dias (...). A Igreja é jovem. Traz em si mesma o futuro do mundo e, portanto, indica também a cada um de nós o caminho para o futuro. A Igreja é jovem, e nós assim o vemos: experimentamos a alegria que o Ressuscitado prometeu aos seus” [1].

Com uma grande alegria, unidos a toda a Igreja, todas e todos na Obra acolhemos a eleição do Papa Francisco, que trouxe consigo uma rajada de espiritualidade, de anelos de melhora. A festa de São José, dia em que o novo Pontífice deu início solene ao seu ministério de Pastor supremo da Igreja universal, tornou especialmente tangível a percepção de que o Senhor, a sua Mãe Santíssima e o santo Patriarca velam pela Igreja em cada momento; de que a Esposa de Cristo nunca está só no meio das vicissitudes e flutuações que encontra no decorrer da sua existência.

De que modo vive José a sua vocação como custódio de Maria, de Jesus, da Igreja?, perguntava o Papa Francisco. E respondia: Com a atenção constantemente voltada para Deus, aberto aos seus sinais, disponível para o seu projeto e não tanto para o próprio; é o que Deus pede a Davi (...). Deus não deseja uma casa construída pelo homem, mas a fidelidade à sua palavra, ao seu desígnio; quem constrói a casa é o próprio Deus, mas com pedras vivas marcadas pelo seu Espírito. José é “custódio” porque sabe escutar a Deus, deixar-se guiar pela sua vontade, e precisamente por isso é ainda mais sensível às pessoas que lhe foram confiadas; sabe como ler com realismo os acontecimentos, está atento ao que o rodeia, e sabe tomar as decisões mais sensatas [2]. Como já vos fiz notar antes da eleição e vo-lo confirmei depois – seguindo em tudo o nosso Padre –, já queremos ao novo Papa com imenso afeto sobrenatural e humano, ao mesmo tempo que procuramos apoiar – com abundante oração e mortificação – os primeiros passos do seu ministério, sempre importantes.

Ontem começou o tempo pascal. O aleluia cheio de júbilo, que sobe da terra ao céu de todos cantos da terra, manifesta a fé inquebrantável da Igreja no seu Senhor. Jesus, após a sua afrontosa morte na Cruz, recebeu de Deus Pai, pelo Espírito Santo, uma nova vida – uma vida plena de glória na sua Humanidade Santíssima –, como confessamos aos domingos num dos artigos do Credo: o mesmo Jesus – perfectus homo, homem perfeito – que sofreu a morte sob Pôncio Pilatos e foi sepultado, esse mesmo Jesus ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras [3], para nunca mais morrer e como penhor da nossa ressurreição futura e da vida eterna que esperamos. Digamos, pois, com a Igreja: Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos glória sempre, Senhor, mas mais solenemente neste tempo em que Cristo, nossa páscoa, foi imolado. Ele é o Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo: morrendo, destruiu a morte, e, ressuscitando, restaurou a vida [4].

Procuremos aprofundar, com a ajuda do Paráclito, neste grande mistério da fé, sobre o qual se apoia – como o edifício sobre os seus alicerces – toda a vida cristã. “O mistério da Ressurreição de Cristo – ensina o Catecismo da Igreja Católica – é um acontecimento real que teve manifestações historicamente comprovadas, como atesta o Novo Testamento”[5]. São Paulo explicava-o aos cristãos de Corinto: Porque eu vos transmiti em primeiro lugar o mesmo que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; e apareceu a Cefas e depois aos doze [6].

O caráter total excepcional da ressurreição de Cristo consiste em que a sua Humanidade Santíssima, uma vez reunidos de novo a alma e o corpo pela virtude do Espírito Santo, foi completamente transfigurada na glória de Deus Pai. É um fato histórico certificado por testemunhas plenamente críveis; mas é, ao mesmo tempo e sobretudo, objeto fundamental da fé cristã. O Senhor, “no seu corpo ressuscitado, passa do estado de morte para outra vida, além do tempo e do espaço. Na Ressurreição, o corpo de Jesus enche-se do poder do Espírito Santo; participa da vida divina no estado da sua glória, de tal modo que São Paulo pôde dizer de Cristo que Ele é o «Adão celeste» (cf. 1 Cor 15, 35-50)”[7].

Meditemos no que São Josemaria escreveu numa das suas homilias: Cristo vive. Jesus é o Emanuel: Deus conosco. A sua Ressurreição revela-nos que Deus não abandona os seus (...).

Cristo vive na sua Igreja. “Digo-vos a verdade: a vós convém que eu vá, porque, se não for, o Consolador não virá a vós; mas, se for, eu vo-lo enviarei” (Jo 16, 7). Tais eram os desígnios de Deus: Jesus, morrendo na Cruz, dava-nos o Espírito de Verdade e de Vida. Cristo permanece na sua Igreja: nos seus sacramentos, na sua liturgia, na sua pregação e em toda a sua atividade.

De modo especial, Cristo continua presente entre nós nessa entrega diária que é a Sagrada Eucaristia. Por isso, a Missa é o centro e a raiz da vida cristã. Em todas as missas está sempre o Cristo total, Cabeça e Corpo.
Por Cristo, com Cristo e em Cristo. Porque Cristo é o Caminho, o Medianeiro; nEle encontramos tudo; fora dEle, a nossa vida torna-se vazia. Em Jesus Cristo, e instruídos por Ele, atrevemo-nos a dizer
audemus dicere Pater noster, Pai nosso. Atrevemo-nos a chamar Pai ao Senhor dos céus e da terra.

A presença de Jesus vivo é a garantia da sua presença no mundo [8].

Jesus ressuscitado é também o Dono do mundo, o Senhor da história: nada acontece sem que Ele o queira ou permita em função dos desígnios salvadores de Deus.  São João no-lo apresenta no Apocalipse em toda a sua glória: No meio dos candelabros [vi] alguém semelhante ao Filho do homem, vestido com uma túnica até aos pés e o peito cingido por um cinto de ouro. A sua cabeça e os seus cabelos eram brancos como lã cor de neve, os seus olhos como chamas de fogo, os seus pés semelhantes ao metal precioso incandescido na fornalha, a sua voz como o estrondo de muitas águas. Segurava na mão direita sete estrelas, da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes, e o seu rosto era como o sol quando brilha em todo o seu esplendor [9].

Esta soberania de Nosso Senhor sobre o mundo e sobre a história em toda a sua amplitude exige de nós, seu discípulos, que nos empenhemos com todas as nossas forças na edificação do seu reino na terra. Uma tarefa que requer não só que amemos a Deus com todo o coração e toda a alma, mas que amemos com uma caridade afetiva e efetiva, com obras e de verdade [10], cada um dos nossos semelhantes, particularmente os que estão mais necessitados. Por isso, compreende-se muito bem – escreveu São Josemaria – a impaciência, a angústia e os anseios inquietos  daqueles que, com alma naturalmente cristã (cf. Tertuliano, Apologético, 17), não se resignam perante as situações de injustiça pessoal e social que o coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de convivência entre os homens, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo acumulado em olhos que não querem ver e em corações que não querem amar [11].

            Esta é, como sabeis, uma das preocupações que o novo Papa manifestou desde os primeiros momentos do seu pontificado. Impelidos pelo exemplo e pelos ensinamentos do nosso Padre, continuemos a esforçar-nos por levar a caridade de Cristo, a solicitude espiritual e material pelos outros, ao ambiente em que cada qual trabalha; de modo pessoal, mas também procurando e pedindo a urgente colaboração de outras pessoas que manifestam esta preocupação pelos necessitados. Não esqueçamos nunca que o Opus Dei nasceu e se reforçou, por querer divino, entre os pobres e doentes dos bairros periféricos de Madri; e a eles o nosso Fundador se dedicou com generosidade e otimismo, com grande emprego de tempo, nos primeiros anos da Obra. Em 1941, escrevia: Não é preciso recordar-vos, porque assim o viveis, que o Opus Dei nasceu entre os pobres de Madri, nos hospitais e nos bairros mais miseráveis: e continuamos a atender os pobres, as crianças e os doentes. É uma tradição que nunca se interromperá na Obra [12].

Poucos anos depois, São Josemaria completava este ensinamento com outras palavras bem claras que, apesar do tempo decorrido, conservam plena atualidade. Neste tempo de confusão – escrevia –, não se sabe o que é direita, nem centro, nem esquerda, no campo político e no social. Mas se por esquerda se entende conseguir o bem-estar para os pobres, a fim de que todos possam satisfazer o direito de viver com um mínimo de conforto, de trabalhar, de estar bem atendidos se adoecem, de distrair-se, de ter filhos e poder educá-los, de ser velhos e ser atendidos, então eu estou mais à esquerda do que ninguém. Naturalmente, dentro da doutrina social da Igreja, e sem compromissos com o marxismo ou com o materialismo ateu; nem com a luta de classes, anticristã, porque nestas coisas não podemos transigir [13].

Doía especialmente ao nosso Fundador ver que o desamor e a falta de caridade com os indigentes também se dava às vezes entre os cristãos:

Os bens da terra, repartidos entre poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos. E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas – que são santas, porque vêm de Deus – tratadas como simples coisas, como números de uma estatística. Compreendo e partilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua a convidar-nos a pôr em prática o mandamento novo do amor.

Todas as situações que a nossa vida atravessa trazem uma mensagem divina e pedem-nos uma resposta de amor, de entrega aos outros [14].

Minhas filhas e filhos, meditemos nestas palavras e façamo-las ressoar nos ouvidos de muitas pessoas, a fim de que o mandamento novo da caridade brilhe na vida de todos e seja – como Jesus queria – o distintivo de todos os seus discípulos [15]. Quereria que aprofundássemos na frase que se lê no Evangelho após o relato da ressurreição de Jesus: Gavisi sunt discipuli viso Domino [16], os discípulos encheram-se de alegria ao verem o Senhor. Consideremos também que o Mestre nos segue sempre de perto, e temos que descobri-lo, de olhá-lo, nas circunstâncias extraordinárias e ordinárias da vida corrente, convencidos daquilo que São Josemaria afirmava: ou o encontramos aí, ou não o encontraremos nunca. Por isso, será que, com o triunfo de Cristo, com a certeza de que Ele conta conosco, demos um novo rumo ao nosso gaudium cum pace, à nossa alegria cheia de paz? Tem essa alegria conteúdo sobrenatural e humano?

Ao longo deste mês, a par do júbilo da Igreja pela Páscoa e por ter de novo um sucessor de Pedro na terra, acrescentam-se no nosso caso outros motivos de alegria: especialmente os aniversários da Primeira Comunhão e da Confirmação de São Josemaria no dia 23. Que boa ocasião para que, nas próximas semanas,  peçamos ao Senhor, por intercessão do nosso Padre, a luz abundante e a fortaleza do Espírito Santo para o Papa Francisco, para a Igreja Santa, para a humanidade! Não vos escondo que me dá muito gosto percorrer a história do Opus Dei, a história das misericórdias de Deus, e peço à Trindade Santíssima que o mesmo suceda com todas e com todos: não vivemos de recordações, mas da alegria de ver a mão de Deus no caminho percorrido pela Obra, na vida de São  Josemaria.

Com todo o afeto, abençoa-vos

                                                               o vosso Padre

                                                               +Javier

Roma, 1º de abril de 2013.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Lefebvrianos dão por encerrado diálogo com a Santa Sé

bento16fsspxLisboa, 17 abr 2013 (Ecclesia) – O superior da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX), fundada por D. Marcel Lefèbvre (1905-1991), revelou numa carta que o diálogo com a Santa Sé para o reconhecimento canónico, iniciado com Bento XVI, está encerrado, sem sucesso.
“A Fraternidade encontrou-se numa delicada posição durante grande parte do ano 2012, em razão do último movimento feito por Bento XVI que procurava normalizar a nossa situação. As dificuldades provinham das exigências que acompanhavam a proposta romana – as quais não pudemos e não poderemos nunca subscrever”, escreve D. Bernard Fellay, em missiva divulgada na internet.
Em junho de 2012, a Santa Sé revelou que tinha proposto a criação de uma prelatura pessoal para a FSSPX depois de ter pedido aos seus membros a aceitação de um preâmbulo que apresentava “certos princípios doutrinais e critérios de interpretação da doutrina católica necessários para garantir a fidelidade ao magistério da Igreja”.
Entre as questões que separam as duas partes destacam-se a aceitação do Concílio Vaticano II (1962-1965) e do magistério pós-conciliar dos Papas em matérias como as celebrações litúrgicas, o ecumenismo ou a liberdade religiosa.
D. Bernard Fellay confirma ter recebido uma carta do próprio Bento XVI “a manifestar claramente e sem ambiguidades as condições que eram impostas para uma normalização canónica”.
“Estas condições são de ordem doutrinal: recaem sobre a aceitação total do Concílio Vaticano II e da missa de Paulo VI. Portanto, como escreveu D. Augustine Di Noia, vice-presidente da Comissão Ecclesia Dei, numa carta dirigida aos membros da Fraternidade São Pio X em fins do ano passado, no plano doutrinal permanecemos no ponto de partida, tal como se estava nos anos 70” do século passado, acrescenta o texto.
Em março de 2009, Bento XVI enviou uma carta aos bispos de todo o mundo, para explicar a remissão das excomunhões de quatro bispos da Fraternidade São Pio X que tinham sido ordenados pelo arcebispo Lefèbvre, sem mandato pontifício, no ano de 1988.
Na altura, o agora Papa emérito escreveu que "enquanto a Fraternidade não tiver uma posição canónica na Igreja, também os seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja (...) enquanto as questões relativas à doutrina não forem esclarecidas, a Fraternidade não possui qualquer estado canónico na Igreja, e os seus ministros (...) não exercem de modo legítimo qualquer ministério na Igreja"


Fonte: Blog do Pe.Valderi

sábado, 13 de abril de 2013

Papa Francisco alternará as férulas de seus predecessores

O Ofício das celebrações Liturgicas do Vaticano informa que o Papa Francisco usará ora a ferula de Paulo VI, ora, de Bento XVI.
 
 

 
Eis o texto, publicado pelo Vaticano:
 
LA FERULA  
 
Il pastorale come insegna liturgica dei vescovi e degli abati risale al settimo secolo in alcune fonti spagnole, anche se il suo uso poteva essere forse più antico. Pare che il pastorale come simbolo dell’autorità episcopale sia passato dalla penisola iberica all’Inghilterra, alla Gallia e alla Germania. Comunque, dalle descrizioni della solenne messa papale negli Ordines Romani non emerge il suo uso. Anche le raffigurazioni dei papi confermano che il pastorale vescovile non faceva parte delle insegne del papa, perché non lo si vede in nessun monumento iconografico eseguito a Roma. Perciò, Innocenzo III († 1216) scrive nel suo De sacro altaris mysterio (I,62): “Romanus Pontifex pastorali virga non utitur”.
 
La ragione di questo costume risiede forse nel fatto che il pastorale era un simbolo di investitura del neo-eletto vescovo da parte del metropolita o di un altro vescovo (cerimonia che dal periodo carolingio fino all’epoca della lotta per le investiture era fatto proprio sempre di più dai regnanti secolari). Il papa invece non riceveva l’investitura da un altro vescovo, come accennò Bernardo Botono da Parma (†1263) nella Glossa ordinaria dei Decretali di Gregorio IX (I,15): Il papa riceve il suo potere da Dio solo. San Tommaso d’Aquino fa un ulteriore ragionamento, quando commenta che “Romanus pontifex non utitur baculo … etiam in signum quod non habet coarctatam potestatem, quod curvatio baculi significat” (Super Sent., lib. 4 d. 24 q. 3 a. 3 ad 8), riferendosialla forma ormai comune del bastone storto alla cima, come un segno della cura pastorale e della giurisdizione.
 
Dall’alto medioevo, se non prima, i papi si servirono della ferula pontificalis come insegna indicante la loro potestà temporale. La forma della ferula non è ben conosciuta. Probabilmente era un bastone che portava al suo vertice una croce. Nel medioevo al papa, quando dopo la sua elezione prendeva di possesso della Basilica Lateranense , era presentata la ferula dal priore di S. Lorenzo al Laterano (cioè dal Sancta Sanctorum) come “signum regiminis et correctionis”, cioè come simbolo di governo che include la punizione e la penitenza. La presentazione della ferula fu un atto importante, ma non avevo lo stesso significato dell’imposizione del pallio nella coronazione del papa. Infatti, non era più osservata almeno dall’inizio del cinquecento.
L’uso della ferula non ha mai fatto parte della liturgia papale, tranne in alcune occasioni come l’apertura della porta santa e le consacrazioni delle chiese, nelle quali il papa prendeva la ferula per bussare per tre volte alla porta e per disegnare l'alfabeto latino e greco sul pavimento della chiesa. Nel tardo medioevo, i papi usavano come ferula anche un bastone con la triplice croce.
 
Dopo la sua elezione nel 1963 Papa Paolo VI ha commissionato allo scultore napoletano Lello Scorzelli un bastone pastorale per le solenni celebrazioni liturgiche. Questo pastorale argenteo riprese dalla ferula tradizionale la forma di croce, accompagnato però dalla figura del Crocifisso. Paolo VI ha utilizzato questo bastone per la prima volta nell’occasione della chiusura del Concilio Vaticano Secondo, l’8 dicembre 1965. In seguito, l’ha adoperato in modo analogo al pastorale del vescovo, spesso ma non sempre nelle celebrazioni liturgiche. Paolo VI e Giovanni Paolo II hanno usato in certe occasioni anche la triplice croce come insegna.
 
Per la Domenica delle Palme 2008, Papa Benedetto XVI ha sostituito questo pastorale, usato anche da Giovanni Paolo IGiovanni Paolo II e da lui stesso, con un bastone sormontato da una croce dorata, che fu regalato al Beato Pio IX nel 1877, dal Circolo di San Pietro, in occasione del cinquantesimo anniversario della sua consacrazione vescovile. Questo bastone è stato adoperato come ferula già dal Beato Giovanni XXIII per varie celebrazioni liturgiche durante il Vaticano Secondo.
 
Con la celebrazione dei Primi Vespri di Avvento del 2009, il Santo Padre Benedetto XVI ha iniziato a usare un nuovo bastone, a lui donato dal Circolo San Pietro, simile nella forma a quello di Pio IX.  
 
Il Santo Padre Francesco, per la celebrazione della Santa Messa in occasione dell'insediamento sulla Cathedra Romana (7.04.2013), ha usato la croce pastorale di Paolo VI, con l'intenzione di alternare nelle prossime celebrazioni l'uso di questa con quella di Benedetto XVI.
 

sábado, 6 de abril de 2013

Papa Francisco e o Milagre Eucarístico em Buenos Aires

O atual Papa Francisco conduziu investigação para comprovar um dos maiores Milagres Eucarísticos da história recente, ocorrido em Buenos Aires em 1996.

Foi o chamado Milagre Eucarístico de Buenos Aires, onde uma Hóstia Consagrada tornou-se Carne e Sangue. O Cardeal Jorge Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires, hoje Papa Francisco, ordenou que se chamasse um fotógrafo profissional para tirar fotos do acontecimento para que os fatos não se perdessem. Depois foram conduzidas pesquisas de laboratório coordenadas pelo Dr. Castañón.

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Fonte: Voz da Igreja

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Poucas surpresas. Francisco como é

Os primeiros atos do novo Papa revistos à luz da sua autobiografia. Os motivos de seu silêncio sobre os temas que mais opõem a Igreja aos poderes do mundo: nascimento, morte, família, liberdade religiosa.

A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio italiano Chiesa.it, 03-04-2013. A tradução é do Cepat.

Salvo na Argentina, pouquíssimos textos sobre Jorge Mario Bergoglio haviam sido publicados antes de ele ser eleito Papa.

Mas agora as traduções de seus escritos, discursos e entrevistas se multiplicam rapidamente e ajudam a tornar menos surpreendentes os gestos do Papa Francisco.

Na sequência, apresentamos algumas destas “surpresas”, pequenas e grandes, mas que não aparecem como tais à luz da sua autobiografia, publicada em 2010 na Argentina, no livro-entrevista de Sergio Rubin e Francesca Ambrogetti, com o título El Jesuíta, agora à venda também em outros países, entre eles a Itália.

Um Papa que nunca canta

É verdade, o Papa Francisco gosta de ouvir música, mas não canta, nem sequer durante as Missas solenes nem ao dar a bênção. Diz-se que os jesuítas “non rubricant nec cantant”, quer dizer, os jesuítas não gostam das cerimônias nem do canto. Mas a explicação é mais simples.

Aos 21 anos sofreu uma pneumonia aguda e “foram detectados três quistos... [e] teve que se submeter a uma cirurgia para retirar a parte superior do pulmão direito. [...] Desde então sofre de uma deficiência pulmonar que, embora não o condicione severamente, impõe-lhe um limite humano”.

Em consequência, simplesmente não canta porque não tem ar suficiente para isso, tal como se intui também pela forma como fala, com uma respiração curta e com voz suave. Em qualquer caso, confessou: “sou desafinado”.

Um Papa que fala somente em italiano

Efetivamente, fala bem o italiano. E também compreende o dialeto piemontês de sua família de origem. Mas “quanto a outros idiomas – admite em sua autobiografia –, eu deveria precisar que não os falo, mas que eu os falava, pela falta de prática. Falava bem o francês, e com o alemão me virava. O que sempre mais me custou foi o inglês, sobretudo pela fonética”.

O fato é que ao renunciar a falar em idiomas diferentes do italiano, Bergoglio parece ter decidido sacrificar – em público – também sua língua materna, o espanhol.

Na Páscoa, renunciou também a saudar em 65 idiomas, habitualmente recitados pelos pontífices que o precederam.

Um Papa que quer fazer tudo por si mesmo

No Vaticano, teve que tomar forçosamente um secretário, o maltês Alfred Xuereb, ex-segundo assistente de Bento XVI. Também em Buenos Aires tinha uma secretária, mas ele mesmo agendava seus compromissos e fazia sua agenda de endereços que, dizia, “seria um verdadeiro desastre perdê-la”.

Tinha um escritório “pequeno, mas muito bem organizado”. E organizados são também seus horários: cinco horas de sono por noite, luz apagada às 23h, levanta às 4h “sem necessidade de um despertador”, depois do almoço “uma sesta de 40 minutos”. Sabe cozinhar. Gosta de ouvir música e ler, especialmente os clássicos da literatura. Vê as notícias nos jornais. Nunca utilizou internet, nem sequer para correio.

Um Papa que não quer se fazer chamar de “Papa”

Notou-se isso. Bergoglio prefere para si o simples título de “bispo de Roma” e cala sobre seu poder de chefe da Igreja universal, apesar de que esse poder tenha sido confirmado com muita força pelo Concílio Vaticano II.

Pode-se ler na sua autobiografia: “Quando o pai ou o professor tem que dizer ‘aqui quem manda sou eu’ ou ‘aqui o superior sou eu’ é porque já perdeu a autoridade. E então tem que se apropriar dela com as palavras. Proclamar que se tem o bastão na mão não significa mandar e impor, mas servir”.

Parece que Bergoglio não quer proclamar, mas exercitar o seu poder supremo de sucessor de Pedro.

Um Papa que decide tudo por si

Também disse em sua entrevista autobiográfica: “Confesso que, em geral, por meu temperamento, a primeira resposta que me vem é equivocada. [...] Por conta disso, aprendi a desconfiar da primeira reação. Já mais tranquilo, depois de passar pelo crisol da solidão, vou me aproximando do que tenho que fazer. Mas da solidão das decisões ninguém se salva. Posso pedir um conselho, mas, no final das contas, sou eu mesmo quem tem que decidir”.

Na prática, é preciso prever que com Francisco o primado para a tomada de decisões não será afetado, nem sequer com uma futura atitude mais colegiada do governo da Igreja.

Um Papa que se esquiva dos temas conflitivos

Efetivamente, nos discursos e nas homilias do começo de seu pontificado, Bergoglio evitou, até agora, tocar nas questões que mais mostram a Igreja em oposição aos poderes mundanos.

No discurso ao corpo diplomático não tocou nas ameaças que pesam sobre a liberdade religiosa, da mesma maneira que em suas outras intervenções evitou qualquer menção aos pontos críticos do nascimento, da morte e da família.

Mas, em seu livro-entrevista Bergoglio lembra que também Bento XVI decidiu calar em uma ocasião: “Quando Bento XVI foi à Espanha [em 2006] todos pensaram que criticaria o governo de Rodríguez Zapatero por suas diferenças com a Igreja católica em vários temas. Alguém, inclusive, lhe perguntou se havia falado com as autoridades espanholas sobre o casamento entre homossexuais. Mas o Papa disse que não, que falou com eles de coisas positivas e que depois viria o resto. De alguma maneira estava dizendo que primeiro é preciso sublinhar o positivo, o que nos une; não o negativo, o que nos divide; que se deve priorizar o encontro entre as pessoas, o caminhar juntos. Depois, a abordagem das diferenças será mais fácil”.

Em outra passagem do livro Bergoglio critica essas homilias “que deveriam ser querigmáticas, mas que acabam sendo moralizantes. E dentro da moral – embora não tanto nas homilias como em outras ocasiões – prefere-se falar da moral sexual, de tudo o que tem algum vínculo com o sexo. Dizer que isso pode, aquilo não pode. Que isso é pecado, aquilo não. E então relegamos o tesouro de Jesus vivo, o tesouro do Espírito Santo em nossos corações, o tesouro de um projeto de vida cristã que tem muitas outras implicações para além das questões sexuais. Deixamos de lado uma catequese riquíssima, com os mistérios da fé, do Credo e acabamos nos centrando em se fazemos ou não uma marcha contra um projeto de lei que permite o uso da camisinha”.

E acrescenta: “Creio, sinceramente, que a opção básica da Igreja, na atualidade, não é diminuir ou tirar prescrições ou tornar mais fácil isto ou aquilo, mas sair às ruas para encontrar as pessoas, conhecer as pessoas por seu nome. Mas não só porque essa é sua missão, sair para anunciar o Evangelho, mas porque não fazê-lo produz prejuízo. [...] É verdade que, se alguém sai às ruas, pode lhe acontecer o que acontece a qualquer cidadão comum: acidentar-se. Mas prefiro mil vezes ter uma Igreja acidentada a uma Igreja doente”.

Visto em: Instituto Humanitas Unisinos

sábado, 30 de março de 2013

SÁBADO SANTO - VIGILIA PASCHALIS




Tomadas de medo, elas olhavam para o chão, mas os dois homens disseram: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo? Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que ele vos falou, quando ainda estava na Galiléia:“O Filho do homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser crucificado e ressuscitar ao terceiro dia”. Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus.
(Lc 24, 5-8)

As dores de Nossa Senhora segundo São Josemaria Escrivá

Segundo uma antiga tradição, os cristãos recordam “as sete dores de Nossa Senhora”: momentos em que, perfeitamente unida ao seu Filho Jesus, pôde compartilhar de modo singular a profundidade de dor e de amor do Seu sacrifício. Apresentamos uma seleção de textos de S. Josemaria sobre cada uma das dores.

Primeira dor: a profecia de Simeão

Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-nO a Jerusalém para O apresentarem ao Senhor, como está escrito na Lei do Senhor: "Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor", e para oferecer um sacrifício, de acordo com o que diz a Lei do Senhor: "um par de rolas ou duas pombinhas".
Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava com ele.
Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ver o Messias do Senhor. Impelido pelo Espírito, foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito, tomou-O nos braços, bendisse a Deus e exclamou:
“Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz , segundo a tua palavra, porque os meus olhos viram a Salvação, que preparaste em favor de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo".
Seu pai e Sua mãe estavam admirados com o que se dizia d’Ele. Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe: "Este menino está aqui para a queda e o ressurgimento de muitos em Israel, e a ser sinal de contradição; uma espada trespassará a tua alma, a fim de se revelarem os pensamentos de muitos corações"
(Lc 2, 22-35).

Nossa Senhora ouve com atenção o que Deus quer, pondera aquilo que não entende, pergunta o que não sabe. Imediatamente a seguir, entrega-se sem reservas ao cumprimento da vontade divina: eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa palavra. Vedes esta maravilha? Santa Maria, mestra de toda a nossa conduta, ensina-nos agora que a obediência a Deus não é servilismo, não subjuga a consciência, pois move-nos interiormente a descobrirmos a liberdade dos filhos de Deus.
Cristo que passa, 173

Mestra de caridade! Recordai aquele episódio da apresentação de Jesus no templo. O velho Simeão assegurou a Maria, sua Mãe: este Menino está destinado para ruína e para ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; o que será para ti mesma uma espada que trespassará a tua alma, a fim de que sejam descobertos os pensamentos ocultos nos corações de muitos. A imensa caridade de Maria pela Humanidade faz com que se cumpra também n'Ela a afirmação de Cristo: ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos.

Com razão os Romanos Pontífices chamaram a Maria Corredentora: juntamente com o seu Filho paciente e agonizante, de tal modo padeceu e quase morreu e de tal modo abdicou, pela salvação dos homens, dos seus direitos maternos sobre o seu Filho e o imolou, na medida em que d'Ela dependia, para aplacar a justiça de Deus, que com razão se pode dizer que ela redimiu o género humano juntamente com Cristo. Assim entendemos melhor aquele momento da Paixão de Nosso Senhor, que nunca nos cansaremos de meditar: stabat autem iuxta crucem Jesu mater eius, junto da Cruz de Jesus estava a sua Mãe.
Amigos de Deus, 287


Segunda dor: a fuga para o Egipto
Depois de partirem, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egipto; fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará o menino para O matar”. E ele levantou-se de noite, tomou o menino e sua mãe, e partiu para o Egipto, permanecendo ali até à morte de Herodes, a fim de se cumprir o que o Senhor anunciou pelo profeta: “Do Egipto chamei o meu Filho” (Mt 2, 13-15)

Maria cooperou com a sua caridade para que nascessem na Igreja os fiéis membros da Cabeça de que é efectivamente mãe segundo o corpo. Como Mãe, ensina; e, também como Mãe, as suas lições não são ruidosas. É preciso ter na alma uma base de finura, um toque de delicadeza, para compreender o que nos manifesta, mais do que com promessas, com obras.

Mestra de fé! Bem-aventurada és tu, porque acreditaste! Assim a saúda Isabel, sua prima, quando Nossa Senhora sobe à montanha para a visitar. Tinha sido maravilhoso aquele acto de fé de Santa Maria: eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra. No nascimento de seu Filho contempla as grandezas de Deus na terra; há um coro de Anjos e tanto os pastores como os poderosos da terra vêm adorar o Menino. Mas depois a Sagrada Família tem de fugir para o Egipto, para escapar às intenções criminosas de Herodes. Depois, o silêncio; trinta longos anos de vida simples, vulgar, como a de qualquer lar, numa pequena povoação da Galileia.

O Santo Evangelho facilita-nos rapidamente o caminho para entender o exemplo da Nossa Mãe: Maria conservava todas estas coisas dentro de si, ponderando-as no seu coração. Procuremos nós imitá-la, tratando com o Senhor, num diálogo cheio de amor, de tudo o que nos acontece, mesmo dos acontecimentos mais insignificantes. Não nos esqueçamos de que devemos pesá-los, avaliá-los, vê-los com olhos de fé, para descobrir a Vontade de Deus.

Se a nossa fé é débil, recorramos a Maria. Conta S. João que, devido ao milagre das bodas de Caná que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, acreditaram n'Ele os seus discípulos. A Nossa Mãe intercede sempre diante de seu Filho para que nos atenda e se nos mostre de tal modo que possamos confessar: - Tu és o Filho de Deus.
Amigos de Deus, 284-285


Terceira dor: Jesus perdido no Templo

Seus pais iam todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa. Quando chegou aos doze anos, subieram até lá, segundo o costume dos dias da festa. Terminados esses días, regressaram a casa e o Menino ficou em Jerusalém, sem que os pais o soubessem. Pensando que Ele se encontrava com a caravana, fizeram um dia de viagem e começaram a procurá-Lo entre os seus parentes e conhecidos. Não O tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. Ao fim de três dias encontraram-nO no Templo, sentado entre os doutores, a ouvi-los e a afazer-lhes perguntas. Todos os que O ouviam estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas. Ao vê-Lo ficaram assombrados , e sua mãe disse-Lhe: “Filho, porque nos fizeste isto? Olha que teu pai e eu andávamos aflitos, à tua procura”. Ele respondeu-lhes: “Porque me procuráveis? Não sabeis que devia estar em casa de meu Pai?” Mas eles não compreenderam o que lhes disse. (Lc 2, 41-50).

O Evangelho da Santa Missa recordou-nos aquela cena comovente de Jesus que fica em Jerusalém ensinando no templo. Maria e José perguntaram por ele a parentes e conhecidos. E, como não o encontrassem, voltaram a Jerusalém à sua procura. A Mãe de Deus, que procurou com afã o seu Filho, perdido sem sua culpa e que sentiu a maior alegria ao encontrá-lo, ajudar-nos-á a voltar atrás, a rectificar o que for preciso, quando, pelas nossas leviandades ou pecados, não consigamos descobrir Cristo. Teremos assim a alegria de o abraçar de novo, para lhe dizer que nunca mais o perderemos.

Maria é Mãe da ciência, porque com Ela se aprende a lição que mais importa: que nada vale a pena se não estamos junto do Senhor, que de nada servem todas as maravilhas da terra, todas as ambições satisfeitas, se no nosso peito não arde a chama de amor vivo, a luz da santa esperança, que é uma antecipação do amor interminável, na nossa Pátria definitiva.
Amigos de Deus, 278
Onde está Jesus? - Senhora: o Menino!... Onde está?

Maria chora. - Bem corremos, tu e eu, de grupo em grupo, de caravana em caravana; não O viram. - José, depois de fazer esforços inúteis para não chorar, chora também... E tu... E eu.

Eu, como sou um criadito rústico, choro até mais não poder e clamo ao céu e à terra..., por todas as vezes que O perdi por minha culpa e não clamei.

Jesus! Que eu nunca mais Te perca... E então, a desgraça e a dor unem-nos, como nos uniu o pecado, e saem de todo o nosso ser gemidos de profunda contrição e frases ardentes, que a pena não pode, não deve registar.

E, ao consolar-nos com a alegria de encontrar Jesus - três dias de ausência! - disputando com os Mestres de Israel (Lc II, 46), ficará bem gravada, na tua alma e na minha, a obrigação de deixarmos os de nossa casa, para servir o Pai Celestial.
Santo Rosário, Quinto mistério gozoso

Quarta dor: Maria encontra o seu Filho a caminho do Calvário
Mal Jesus se levantou da Sua primeira queda, encontra Sua Mãe Santíssima, junto do caminho por onde Ele passa.
Com imenso amor Maria olha para Jesus, e Jesus olha para a Sua Mãe; os Seus olhares encontram-se, e cada coração verte no outro a Sua própria dor. A alma de Maria fica mergulhada em amargura, na amargura de Jesus Cristo.

- Ó vós, que passais pelo caminho: olhai e vede se há dor semelhante à minha dor (Lam I, 12)!

Mas ninguém repara, ninguém presta atenção; apenas Jesus.

Cumpriu-se a profecia de Simeão: uma espada trespassará a tua alma (Lc II, 35).

Na escura solidão da Paixão, Nossa Senhora oferece ao seu Filho um bálsamo de ternura, de união, de fidelidade; um sim à Vontade divina.

Pela mão de Maria, tu e eu queremos também consolar Jesus, aceitando sempre e em tudo a Vontade do Seu Pai, do nosso Pai.

Só assim saborearemos a doçura da Cruz de Cristo e abraçá-la-emos com a força do Amor, levando-a em triunfo por todos os caminhos da terra.
Via Sacra, IV Estação


Quinta dor: Jesus morre na Cruz
Junto da Cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de de Cléofas, e Maria de Magdala. Ao ver sua mãe e, junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a sua Mãe: “Mulher, eis aí o teu filho”. depois disse ao discípulo: “Eis aí a tua mãe”. E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: “Tenho sede”. Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam uma esponja no vinagre e, fixando-a a um ramo de hissopo, levaram-Lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Tudo está consumado”. E inclinando a cabeça, rendeu o espírito (Jo 19, 25-30).

Agora, pelo contrário, no escândalo do sacrifício da Cruz, Santa Maria estava presente, ouvindo com tristeza os que passavam por ali e blasfemavam abanando a cabeça e gritando: Tu, que arrasas o templo de Deus e, em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz. Nossa Senhora escutava as palavras de seu Filho, unindo-se à sua dor; Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste? Que podia Ela fazer? Fundir-se com o amor Redentor de seu Filho, oferecer ao Pai a dor imensa - como uma espada afiada - que trespassava o seu Coração puro.

De novo Jesus se sente confortado com essa presença discreta e amorosa de sua Mãe. Maria não grita, não corre de um lado para outro... Stabat: está de pé, junto ao Filho. É então que Jesus olha para Ela, dirigindo depois o olhar para João. E exclama: - Mulher, aí tens o teu filho. Depois diz ao discípulo: Aí tens a tua Mãe. Em João, Cristo confia à sua Mãe todos os homens e especialmente os seus discípulos, os que haviam de acreditar n'Ele.

Felix culpa, canta a Igreja, feliz culpa, porque nos fez ter tal e tão grande Redentor! Feliz culpa, podemos acrescentar também, que nos mereceu receber por Mãe, Santa Maria! Já estamos seguros, já nada nos deve preocupar, porque Nossa Senhora, coroada Rainha dos Céus e da Terra, é a omnipotência suplicante diante de Deus. Jesus não pode negar nada a Maria, nem tão pouco a nós, filhos da sua própria Mãe.
Amigos de Deus, 288


Sexta dor: Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe
Chegada já a tarde, como era a parasceve, isto é, a véspera do sábado, José de Arimateia, responsável membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se d’Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, preguntou-lhe se já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol; tirou Jesus da cruz e envolveu-O nele. Em seguida, depositou-O num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra contra a porta do sepulcro (Mc 15, 42-46).

Situados agora no Calvário, quando Jesus já morreu e não se manifestou ainda a glória do seu triunfo, temos uma boa ocasião para examinar os nossos desejos de vida cristã, de santidade para reagir com um acto de fé perante as nossas debilidades e, confiando no poder de Deus, fazer o propósito de pôr amor nas coisas do nosso dia-a-dia. A experiência do pecado tem de nos conduzir à dor, a uma decisão mais madura e mais profunda de sermos fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverarmos, custe o que custar, nessa missão sacerdotal que Ele encomendou a todos os seus discípulos sem excepção, que nos impele a sermos sal e luz do mundo.
Cristo que passa, 96

É a hora de recorreres à tua Mãe bendita do Céu, para que te acolha nos seus braços e te consiga do seu Filho um olhar de misericórdia. E procura depois fazer propósitos concretos: corta de uma vez, ainda que custe, esse pormenor que estorva e que é bem conhecido de Deus e de ti. A soberba, a sensualidade, a falta de sentido sobrenatural aliar-se-ão para te sussurrarem: isso? Mas se se trata de uma circunstância tonta, insignificante! Tu responde, sem dialogar mais com a tentação: entregar-me-ei também nessa exigência divina! E não te faltará razão: o amor demonstra-se especialmente em coisas pequenas. Normalmente, os sacrifícios que o Senhor nos pede, os mais árduos, são minúsculos, mas tão contínuos e valiosos como o bater do coração.
Amigos de Deus, 134


Sétima dor: dão sepultura ao Corpo de Jesus
Depois disto, José de Arimateia, o que era discípulo de Jesus, mas em segredo, por medo dos judeus, pediu a Pilatos para levar o Corpo de Jesus. Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o Seu Corpo. Veio também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira de noite a Jesus, trazendo uma composição de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o Corpo de Jesus e envolveram-no em ligaduras, juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. No lugar em que Ele tinha sido crucificado, havia um horto e, no horto, um túmulo novo, no qual ninguém fora ainda sepultado. Por causa da Preparação dos judeus, como o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus (Jo 19, 38-42).

Vamos pedir agora ao Senhor, para terminar este tempo de conversa com Ele, que nos conceda poder repetir com S. Paulo que triunfamos por virtude daquele que nos amou. Pelo qual estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem o presente, nem o futuro, nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem qualquer outra criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus que está em Jesus Cristo Nosso Senhor .

Este amor também a Escritura o canta com palavras inflamadas: as águas copiosas não puderam extinguir a caridade, nem os rios afogá-la. Este amor encheu sempre o Coração de Santa Maria, ao ponto de enriquecê-la com entranhas de Mãe para toda a humanidade. Em Nossa Senhora o amor a Deus confunde-se com a solicitude por todos os seus filhos. O seu Coração dulcíssimo teve de sofrer muito, atento aos mínimos pormenores - não têm vinho - ao presenciar aquela crueldade colectiva, aquele encarniçamento dos verdugos, que foi a Paixão e Morte de Jesus. Mas Maria não fala. Como o seu Filho, ama, cala e perdoa. Essa é a força do amor.
Amigos de Deus, 237




Fonte:Site São Josemaria Escrivá

Jesus está sepultado


Então tomaram o corpo de Jesus e 
envolveram-no, com os aromas, em faixas de linho, 
como os judeus costumam sepultar. No lugar onde 
Jesus foi crucificado, havia um jardim e, no jardim, 
um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido 
sepultado.Por causa da preparação da Páscoa, 
e como o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.
(Jo 18, 40-42)


"Durante o Sábado santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e sua morte, sua descida à mansão dos mortos e esperando na oração e no jejum sua ressurreição (Circ 73).

No dia do silêncio: a comunidade cristã vela junto ao sepulcro. Calam os sinos e os instrumentos. É ensaiado o aleluia, mas em voz baixa. É o dia para aprofundar. Para contemplar. O altar está despojado. O sacrário aberto e vazio.

Fonte: ACI Digital

sexta-feira, 29 de março de 2013

SEXTA-FEIRA SANTA - PASSIO DOMINI


Consumatum est

Christus factus est pro nobis obediens.


Naquele Homem crucificado que é o Filho de Deus, mesmo a própria morte ganha novo significado e orientação, é resgatada e vencida, torna-se passagem para a nova vida: «Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, continua só um grão de trigo; mas, se morrer, então produz muito fruto» (Jo 12, 24). Confiemo-nos à Mãe de Cristo. Ela que acompanhou o seu Filho ao longo da via dolorosa, Ela que esteve aos pés da Cruz na hora da sua morte, Ela que encorajou a Igreja desde o seu nascimento a viver na presença do Senhor, conduza os nossos corações, os corações de todas as famílias, através do vasto mysterium passsionis rumo ao mysterium paschale, rumo à luz que irrompe da Ressurreição de Cristo e manifesta a vitória definitiva do amor, da alegria e da vida, sobre o mal, o sofrimento e a morte. Amém.

(Do discurso do Romano Pontífice Emérito Bento XVI durante a Via Sacra de 2012) 

quinta-feira, 28 de março de 2013

QUINTA-FEIRA SANTA - IN COENA DOMINI

HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II
 NA SOLENE COMEMORAÇÃO DA
 CEIA DO SENHOR
12 de Abril de 2001
 
 

1. "In supremae nocte Cenae /recumbens cum fratribus...
Na noite da Última Ceia / Estando à mesa com os seus... / com as suas próprias mãos / Ele mesmo deu o alimento aos Doze".

É com estas palavras que o belo hino do "Pange lingua" apresenta a Última Ceia, em que Jesus nos deixou o admirável Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. As leituras há pouco proclamadas ilustram o seu sentido profundo. Elas formam como que um tríptico:  apresentam a instituição da Eucaristia, a sua prefiguração no Cordeiro pascal, a sua tradução existencial no amor e no serviço fraterno.
 
Foi o apóstolo Paulo, na primeira Carta aos Coríntios, a recordar-nos o que Jesus fez "na noite em que foi entregue". À narração do facto histórico, Paulo juntou o seu comentário:  " sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha". (1 Cor 11, 26). A mensagem do Apóstolo é clara:  a comunidade que celebra a Ceia do Senhor actualiza a Páscoa. A Eucaristia não é simples memória de um rito passado, mas a viva representação do gesto supremo do Salvador. A comunidade cristã não pode deixar de se sentir impelida a fazer profecia do mundo novo, inaugurado na Páscoa. Contemplando, esta tarde, o mistério de amor que a Última Ceia nos recorda, permaneçamos, também  nós,  em  comovida  e  silenciosa adoração.
 
2. "Verbum caro / panem verum verbo carne efficit... O Verbo encarnado / transforma com a sua palavra / o verdadeiro pão na sua carne...". É o prodígio que nós, secerdotes, tocamos em cada dia com as nossas mãos na santa Missa. A Igreja continua a repetir as palavras de Jesus, e sabe que está comprometida a fazê-lo até ao fim do mundo. Em virtude destas palavras realiza-se uma mudança admirável:  permanecem as espécias eucarísticas, mas o pão e o vinho tornam-se, segundo a feliz expressão do Concílio de Trento, "verdadeira, real e substancialmente" o Corpo e o Sangue do Senhor.
 
O pensamento sente-se confuso frente a tão sublime mistério. Muitas interrogações se apresentam ao coração do crente, que todavia encontra paz na palavra de Cristo:  "Et si sensus deficit / ad firmandum cor sincerum sola fides sufficit Se o sentido se perde / a fé basta por si só a um coração sincero". Sustentados por esta fé, por esta luz que ilumina os nossos passos mesmo na noite da dúvida e da dificuldade, nós podemos proclamar:  "Tantum ergo Sacramentum / veneremur cernui A um Sacramento assim tão grande / prostrados, adoremos".
 
3. A instituição da Eucaristia põe-nos em relação com o rito pascal da primeira Aliança, que nos é descrito na página do Êxodo, há pouco proclamada:  Fala-se do cordeiro "sem defeito, macho, e com um ano de idade" (12, 6), por cujo sacrifício o povo seria libertado do extermínio:  "O sangue servirá de sinal nas casas em que residis:  vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor" (12, 13).
 
O hino de S. Tomás comenta:  "Et anticum documentum / novo cedat ritui ceda agora a antiga Lei / ao Sacrifício novo". Justamente, por isso, os textos bíblicos da Liturgia desta tarde orientam o nosso olhar para o novo Cordeiro, que com o sangue livremente derramado sobre a Cruz estabeleceu uma nova e eterna Aliança. Eis a Eucaristia, presença sacramental da carne imolada e do sangue derramado do novo Cordeiro. Nela são oferecidos a toda a humanidade a salvação e o amor. Como não nos deixarmos fascinar por este Mistério? Façamos nossas as palavras de S. Tomás de Aquino:  "Praestet fides suplementum sensuum defectui Que a fé supra o defeito dos sentidos". Sim, a fé conduz-nos à contemplação e à adoração!
 
4. É neste ponto que o nosso olhar se dirige para o terceiro elemento do tríptico que forma a liturgia de hoje. Devemo-lo à narração do evangelista João, que nos apresenta a imagem perturbante do lavar dos pés. Com este gesto, Jesus recorda aos discípulos de todos os tempos que a Eucaristia pede que sejamos testemunhas no serviço do amor para com os irmãos. Ouvimos as palavras do Mestre divino:  "Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 14). É um novo estilo de vida que provém do gesto de Jesus:  "Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também" (Jo 13, 15).
 
O lavar dos pés apresenta-se como um acto paradigmático, que na morte na cruz e na ressurreição de Cristo encontra a chave da sua leitura e a sua máxima explicitação. Neste acto de serviço humilde, a fé da Igreja vê o êxito natural de cada celebração eucarística. A autêntica participação na Missa não pode deixar de gerar o amor fraterno seja em cada crente, seja em toda a comunidade eclesial.
 
5. "Amou-os até ao fim" (Jo 13, 1). A Eucaristia constitui o sinal perene do amor de Deus, amor que sustenta o nosso caminho para a plena comunhão com o Pai, através do Filho, no Espírito. É um amor que ultrapassa o coração do homem. Parando esta tarde para adorar o Santíssimo Sacramento, e meditando o mistério da Última Ceia, sentimo-nos mergulhados no oceano de amor que que brota do coração de Deus. Façamos nosso, com espírito agradecido o hino de acção de graças do povo redimido: "Genitori Genitoque / laus et iubilatio... Ao Pai e ao Filho / louvor e júbilo / salvação, poder, bênção:  / Àquele que procede de ambos /seja dada igual glória e honra!" Amen!
 

Pedro na Semana Santa

 
Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse: "Senhor, tu me lavas os pés?"Respondeu Jesus: "Agora, não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás". Disse-lhe Pedro: "Tu nunca me lavarás os pés!" Mas Jesus respondeu: "Se eu não te lavar, não terás parte comigo".Simão Pedro disse: "Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça".  (Jo 13, 6-9)
 
"Jesus prediz a Pedro a sua queda e a sua conversão. De que é que Pedro teve de converter-se? No início do seu chamamento, assombrado com o poder divino do Senhor e com a sua própria miséria, Pedro dissera: «Senhor, afasta-Te de mim, que eu sou um homem pecador» (Lc 5, 8). Na luz do Senhor, reconhece a sua insuficiência. Precisamente deste modo, com a humildade de quem sabe que é pecador, é que Pedro é chamado. Ele deve reencontrar sem cessar esta humildade. Perto de Cesareia de Filipe, Pedro não quisera aceitar que Jesus tivesse de sofrer e ser crucificado: não era conciliável com a sua imagem de Deus e do Messias. No Cenáculo, não quis aceitar que Jesus lhe lavasse os pés: não se adequava à sua imagem da dignidade do Mestre. No horto das oliveiras, feriu com a espada; queria demonstrar a sua coragem. Mas, diante de uma serva, afirmou que não conhecia Jesus. Naquele momento, isto parecia-lhe uma pequena mentira, para poder permanecer perto de Jesus. O seu heroísmo ruiu num jogo mesquinho por um lugar no centro dos acontecimentos. Todos nós devemos aprender sempre de novo a aceitar Deus e Jesus Cristo como Ele é, e não como queríamos que fosse. A nós também nos custa aceitar que Ele esteja à mercê dos limites da sua Igreja e dos seus ministros. Também não queremos aceitar que Ele esteja sem poder neste mundo. Também nos escondemos por detrás de pretextos, quando a pertença a Ele se nos torna demasiado custosa e perigosa. Todos nós temos necessidade da conversão que acolhe Jesus no seu ser Deus e ser-Homem. Temos necessidade da humildade do discípulo que segue a vontade do Mestre. Nesta hora, queremos pedir-Lhe que nos fixe como fixou Pedro, no momento oportuno, com os seus olhos benévolos, e nos converta."
 
(Da homilia do Romano Pontífice Emérito Bento XVI, na missa da Ceia do Senhor de 2011). 
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