Raffaella, a melhor e mais lida blogueira católica italiana, “descobriu” e publicou os “princípios editoriais” seguidos pela maioria dos profissionais no que concerne à Igreja Católica e, em especial, ao Papa Bento XVI.
Se você quer entender o processo de produção de notícias dos canais de TV a que assiste, das revistas e jornais que lê e das manchetes que vê na tela de seu computador, não deixe de ler o que vai abaixo.
OS PRINCÍPIOS EDITORIAIS SEGUIDOS POR TANTOS JORNALISTAS
1) Prepare escrupulosa e antecipadamente cada visita ou viagem apostólica de Bento XVI:
a) crie uma bela polêmica sobre os custos da viagem;
b) selecione acuradamente as possíveis temáticas (padres pedófilos, declínio de fiéis, desobediência dos bispos [exceto no Brasil, onde isto não existe!]; eventuais contrastes com Protestantes, Judeus e Muçulmanos);
c) faça de forma que a viagem seja precedida de uma crescente escalada de polêmicas. Eventualmente e no último minuto, finja estar chocado com o comportamento da mídia [se você quiser parecer “independente” e imparcial];
d) apresente a viagem como “a mais difícil do Pontificado”;
e) dê a máxima ressonância às manifestações de protesto que estão sendo organizadas. Inflacione as cifras que os organizadores lhe fornecem e insinue que os manifestantes serão mais numerosos que os fiéis;
f) avise aos seus leitores que as Missas e as Vigílias presididas pelo Papa Bento ficarão certamente desertas;
g) evidencie o fato de que o Papa Bento não conhece a realidade dos vários países que visita porque vive fechado no Vaticano (acariciando gatinhos, escrevendo livros e tocando piano);
h) entreviste sempre Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff], uma verdadeira garantia;
i) pergunte sempre ao Padre Lombardi se, durante a viagem, o Papa encontrará vítimas de padres pedófilos;
j) no dia do embarque do Papa, escreva um artigo absolutamente negativo sobre a viagem em que fique claro que ninguém está esperando o Papa e que ele será acolhido com a frieza do gelo siberiano;
k) se por acaso o Papa visita a Alemanha, não se esqueça de citar a famosa frase “Nemo propheta in patria”.
2) Quando você percebe, durante a viagem, que a realidade é bem diferente daquela que descreveu ou está descrevendo:
a) não desanime;
b) se você é um jornalista televisivo, entreviste sempre que lhe diz que preferia João Paulo II ou que está ali por curiosidade e não para ver Bento XVI. Entreviste preferivelmente padres e seminaristas;
c) mostre as imagens dos manifestantes contrários mesmo se são “quatro gatos pingados”. Particularmente: use a metade dos poucos segundos que o seu telejornal lhe dá para falar das manifestações e não daquilo que faz ou diz o Papa;
d) se você é um jornalista da mídia impressa, procure não evidenciar que nas manifestações antipapais havia “quatro gatos pingados” e entreviste o porta-voz dos manifestantes, o qual inflacionará o número se necessário;
e) jamais chame a atenção dos leitores para o fato de que nas manifestações não havia as multidões esperadas;
f) jamais evidencie o número de fiéis que, por contraste, acorrem para ouvir o Papa Bento;
g) recorde-se que cada manifestante seja contado em dobro e que cada fiel vale a metade;
h) se, durante a visita, ocorre um episódio sem qualquer importância (falso atentado, falsas ameaças...), evidencie isso e não a atividade do Papa!
i) se o Papa diz: “defendamos a família”, você escreve: “Anátema do Papa contra os casais de fato”;
j) procure simplificar ao máximo e, se possível, faça o Papa dizer aquilo que não disse e/ou aquilo que você pensa ter sido o único a perceber;
k) se o Papa encontra as vítimas dos padres pedófilos, você tem duas alternativas: faça com que o encontro se torne a única razão da viagem ou (a tendência que prevalece desde 2011) ignore o evento e prossiga;
l) não se esqueça, porém, de avisar a seus leitores que o Papa não falou explicitamente de padres pedófilos;
m) se o Papa, porém, falar disto, finja não ter ouvido;
n) entreviste sempre Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff];
o) se o Papa o surpreende, não lhe dê muita satisfação. Você sempre poderá dizer que este Pontífice tem uma linguagem complexa que não chega ao homem comum;
p) se você tem duas cifras disponíveis sobre a presença dos fiéis, indique sempre a mais baixa;
q) evidencie ao máximo que havia sim muitos fiéis mas que provavelmente estavam lá por curiosidade ou por acaso;
r) jamais escreva que estranhamente os fiéis são movidos pela curiosidade apenas quando o Papa Bento está medido no meio;
s) se puder, ignore totalmente o restante da viagem.
3) Quando a viagem foi concluída e você se dá conta de haver cometido, como sempre, uma quantidade exagerada de erros:
a) procure esquecer o mais depressa possível a viagem e não fale mais dela;
b) entreviste Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff] para que ilumine os leitores com sua palavra.
4) Lembre-se sempre de que o tema “pedofilia na Igreja” é o assunto mais popular dos últimos anos:
a) aproveite cada ocasião que se apresentar;
b) fique tranqüilo: geralmente a Santa Sé jamais intervém em defesa do Papa, sobretudo em relação a este assunto. Siga adiante seguro da impunidade;
c) quando se difundir notícias sobre novas acusações contra o Papa (por exemplo, uma denúncia à Haia), finja não saber que Ratzinger é o homem que mais fez nas últimas décadas para combater a praga dos padres pedófilos;
d) nunca cite as medidas e o exemplo do Papa Ratzinger;
e) comporte-se como se fosse a primeira vez que o Papa é acusado de algo;
f) ataque o Papa na primeira página, preferivelmente com uma foto de costas;
g) cite, de passagem, o caso do Padre X., mesmo que já tenha sido abundantemente explicado;
h) cite também o irmão do Papa mesmo que nada tenha a ver com os casos de pedofilia verificados no coro de Ratisbona;
i) É FUNDAMENTAL que você jamais destaque que os casos de pedofilia de que se trata, se deram há décadas;
j) faça de forma que os leitores pensem que o escândalo de pedofilia tenha surgido no Pontificado ratzingeriano;
k) jamais cite outros Pontificados;
l) nunca aponte para o fato de que Ratzinger é o único Papa que se encontrou ao menos seis vezes com as vítimas dos pedófilos;
m) entreviste Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff] para que diga uma das suas;
n) quando as coisas se tornam sérias para a Igreja, jogue toda a responsabilidade sobre Ratzinger, mas se você percebe que o vento muda, escreva que os méritos não são apenas de Bento XVI;
o) jamais e por nenhum razão no mundo deverá escrever ou pronunciar o nome de Maciel;
p) continue a bater na tecla da abertura dos arquivos, fingindo ignorar o bem feito nestes últimos anos;
q) entreviste o porta-voz das associações de vítimas que mais atacam o Vaticano;
r) sirva de megafone para os advogados das vítimas e não conceda jamais à outra parte o benefício da dúvida;
s) quando o Vaticano se cala (isto é, sempre) mas comentaristas e editorialistas autorizados fazem notar que é um absurdo culpar Ratzinger, o Papa que mais fez contra os pedófilos, dê marcha-ré imediatamente e não fale mais de denúncia à Haia;
t) insinue que Bento XVI poderia fazer muito mais ou então que é muito duro e pouco misericordioso com os culpados. Em suma, faça de modo que tenha sempre a culpa!
u) omita recordar que desde 1988 Ratzinger pede maior severidade na punição dos culpados;
v) sempre finja ignorar que a Congregação para a Doutrina da Fé é competente nos casos de pedofilia no clero apenas a partir de 2001;
w) lembre-se de que, em relação a este assunto, há nomes que podem ser citados e outros que, embora vivos e com saúde, jamais devem ser envolvidos.
5) Quando o Papa faz um importante discurso:
a) regra de ouro: ignore-o!
b) finja que o Papa não tenha falado, exceto para lamentar o fato de que o Papa não se expressou sobre um determinado assunto;
c) distorça o pensamento do papa quando ele diz algo que não agrada a você ou a seu editor;
d) force alguns conceitos se as frases do Papa possam ser interpretadas a favor de sua ideologia política ou da de seu editor;
e) o “sim” à vida deve tornar-se o “não à pílula do dia seguinte”, o “sim” à família deve tornar-se o “não aos casais de fato e, em particular, aos gays”;
f) se o Papa “repreende” os bispos de um certo país, tome sempre a defesa dos prelados em nome da colegialidade!
g) cite sempre o Concílio e insinue que o Papa quer anular todos os documentos conciliares;
h) entreviste Hans Küng para que recorde mais uma vez ter sido perito conciliar [neste caso o genérico, Leonardo Boff, é incompetente; ele pode, entretanto, falar do processo cruel a que foi submetido pelo Cardeal Ratzinger e de como foi defendido pelos cardeais Arns e Lorscheider];
i) lembre-se sempre de evidenciar que Bento XVI não faz nada e não diz nada que não tenha já dito ou feito o seu predecessor;
j) se o Papa diz algo que vai contra a sua fé política ou a de seu editor, vá correndo para a praça pública e grite: “Ingerência!”;
k) se o Papa, porém, disser algo contra a ideologia do partido que não agrada a você ou a seu editor, postule a advertência papal, o anátema ou a eventual excomunhão. Recorde que o Santo Padre e a Igreja não podem se calar. Cante “Hosanas” quando Bento XVI se exprime como agrada a você e a seu editor;
l) destaque que Bento XVI não é um Papa político mas, se fala de ética, faça com que as pessoas percebem que ele comete grave ingerência nos negócios políticos de um outro país;
m) a tal propósito cita o otto per mille [uma espécie de imposto italiano voluntário destinado às confissões religiosas], omitindo que ele vai para a CEI [conferência dos bispos italianos] e não para o Vaticano.
6) Quando se fala de Bento XVI na televisão:
a) evidencie sempre que é diferente de seu predecessor;
b) insinue que tem menos carisma ou que sequer tem algum;
c) entreviste pessoas que declaram preferir outros Papas;
d) se se está falando do Papa Bento, faça de modo que o discurso termine nos outros;
e) convide padres, bispos e cardeais muito hábeis em não falar do Papa Bento;
f) se é mesmo obrigado a fazer um programa sobre Ratzinger, o ponha no ar de manhã bem cedo ou à noite bem tarde;
g) faça transmissões ao vivo do Papa somente quando é necessário;
h) se possível grave os eventos e os transmita tarde da noite (JMJ de Madri docet);
i) finja maravilhar-se se o Papa faz algo de inesperado;
j) recorde aos telespectadores que quando foi eleito lhe parecia frio por ser alemão;
k) destaque que é um professor como se fosse um título de demérito;
l) procure fazer de forma que na mesma rede, na mesma semana (melhor ainda se no mesmo dia), o Papa Bento seja posto na berlinda enquanto o seu predecessor seja recordado com afeto;
m) quer, por acaso, deixar de entrevistar Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff]?
7) Se vêem à tona fatos ocorridos antes de 19 de abril de 2005:
a) faça de forma que seja questionado o Papa Ratzinger;
b) recolha apelos a fim de que o Papa intervenha em primeira pessoa, abrindo arquivos ou fazendo ele próprio apelos também sobre fatos de que não possa ter conhecimento;
c) entreviste Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff].
8) Quando se fala da relação entre Bento XVI e as outras religiões ou confissões cristãs:
a) ponha-se sempre, e em qualquer circunstância, do lado dos Protestantes;
b) quando se trata dos amigos judeus, não deixe de citar o fato de que o Papa é alemão, que revogou as excomunhões dos bispos lefebvrianos, em particular de Williamson, e que publicou a Summorum Pontificum;
c) evite como a peste recordar que a oração da Sexta-feira Santa jamais foi modificada nem por Paulo VI, nem por João Paulo II, e que Bento XVI a mudou para ir ao encontro dos judeus;
d) defenda sem reservas a tese do silêncio de Pio XII e recorde que Bento XVI declarou venerável o Papa Pacelli, mas omita observar que o processo de beatificação foi aberto em 1967;
e) quando se trata dos amigos muçulmanos, cite sempre o discurso de Ratisbona como pedra de tropeço;
f) faça sempre referência à aula de Ratisbona chamando-a “gafe”, “lapso”, “incidente”, como preferir;
g) por nada no mundo você deverá citar os progressos no diálogo entre católicos e muçulmanos ocorridos depois do discurso de Ratisbona;
h) não nomeie jamais os irmãos ortodoxos;
i) se os citar, jamais mencione a reaproximação entre católicos e ortodoxos, atribuindo o mérito ao Papa Bento XVI;
j) entreviste Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff];
9) Se há um aniversário particular que diz respeito ao Papa Bento:
a) regra de platina: ignore-o!
b) aja exatamente como se fez em 29 de junho de 2011 (60º aniversário de ordenação): finja que seja um dia qualquer para a Igreja;
c) esteja atento: comece já a pensar em 16 de abril de 2012, dia em que Bento XVI completará 85 anos;
d) de modo algum deverá se tornar uma ocasião para celebrar o Papa ou para constatar sua jovialidade mental e sua resistência física;
e) prepare-se desde já para o evento insistindo sobre a possibilidade de demissão;
f) a tal propósito não deixar de ouvir o parecer de Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff].
10) No que diz respeito às multidões que assistem aos eventos presididos por Bento XVI:
a) regra de diamante: ignore-as!
b) finja não ver os fiéis que participam do Ângelus e das audiências gerais;
c) se se apresenta um fiel a menos do que o previsto, faça disto a manchete e conte com o ábaco;
d) se porém as presenças superarem as expectativas, finja não ser nada, olhe para o outro lado e não fale mais disso;
e) insinua que os fiéis acorrem por causa da novidade, mas omita recordar que Bento é Papa há seis anos e meio;
f) para reforçar a tese conceda o devido espaço a Hans Küng [no Brasil serve o genérico, Leonardo Boff – arre, vade retro!].
Fonte: Papa Ratzinger blog
Tradução: OBLATVS
Nenhum comentário:
Postar um comentário