Dossiê FSSPX – Parte I
O início
Às vésperas da reunião da Congregação para a Doutrina da Fé (em alguma “feria quarta” da primeira quinzena do mês de maio), quando será decidida a regularização canônica da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, depois de recebida por parte daquela a resposta de Mons. Fellay ao Preâmbulo Doutrinal, é importante apresentar uma retrospectiva dos fatos que se seguiram desde o Concílio Vaticano II em torno, inicialmente, da pessoa do Arcebispo Marcel Lefebvre, e agora, da Fraternidade por ele fundada. À luz desta explicação, será mais fácil compreender a natureza das discussões e como este caso é caro ao Papa Bento XVI como, em último lugar numa escala de importância, prova de que existe uma solução; o que não foi possível em 1988, quando ele foi o mediador nas frustradas negociações.
1. Primeiros anos
Antes mesmo de nos determos no relato anterior às excomunhões de 1988, voltaremos alguns anos, afim de que seja conhecida mais detalhadamente a figura de Mons. Lefebvre e saber de seus motivos.
Procissão de ingresso dos Padres Conciliares
Vaticano, início da década de 60. Mons. Lefebvre é um dos mais de 2000 prelados presentes no Segundo Concílio do Vaticano – ele fora nomeado pelo Papa João XXIII para fazer parte de sua comissão preparatória. Ele tomou o seu assento, entre os milhares hierarquicamente dispostos na Basílica de São Pedro para os Padres Conciliares e peritos, como Superior-geral da Congregação do Santo Espírito, na qual professara votos 31 anos antes, depois de pedir excardinação da diocese de Lille (França) para o clero da qual tinha sido ordenado em 1929. Tinha um longo passado em terras de missão africanas. De fato, ainda sacerdote foi enviado ao Gabão, e em 1947 foi nomeado Vigário Apostólico do Dakar e lhe foi concedida uma sede episcopal titular (diocese extinta), e para tal cargo recebeu a sagração episcopal em sua terra natal em 18 de setembro do mesmo ano. No início do ano de 1948, foi-lhe acumulado o cargo de Administrador Apostólico de Saint-Louis du Sénégal. No mesmo ano foi promovido ao título de Arcebispo e nomeado Delegado Apostólico no Senegal. Pela promoção arquiepiscopal, Mons. Lefebvre foi privilegiado com o uso do pálio – embora não fosse sequer arcebispo metropolitano. Tal concessão era prevista até a sua ab-rogação por Paulo VI, de ser o uso do pálio arquiepiscopal concedido a qualquer bispo (e não somente aos arcebispos metropolitanos); contudo, como acontece a outros privilégios cancelados, o uso só continuou àqueles que já o haviam recebido. Mas, quando de sua nomeação para o arcebispado de Dakar, ele recebeu outro pálio, com o qual foi paramentado em suas exéquias em 1991.
2. Retorno da África e Vaticano II
Membros do Coetus Internationalis Patrum durante o Vaticano II
Mas, como poderia um bispo de apostolado tão numeroso em África, enviado pelo Papa Pio XII e, segundo dizem, de grande estima deste, em tão recentes 8 anos em missão africana, participar das quatro sessões do Vaticano II como Superior-geral (cargo estranho a um bispo) de sua Congregação e já tendo renunciado ao bispado de Tulle (a menor diocese francesa), após apenas 7 meses de sua nomeação? Quando Arcebispo de Dakar, Mons. Lefebvre foi veementemente contrário à instituição de uma hierarquia episcopal africana. Para ele, somente à França competia uma missão civilizadora e evangelizadora em África, e disto não poderia se abrir mão. Ciente e preocupado com isso, o então presidente senegalês Leopold Senghor, católico, pediu ao Papa João XXIII que o retirasse de África; apesar de ter conquistado o respeito de muitos senegaleses, incluindo muçulmanos. E, como foi dito anteriormente, participou do Vaticano II como Superior-geral da Congregação dos Padres do Espírito Santo, como havia sido eleito após retornar a França. E foi muito assíduo nos debates conciliares, sendo membro do Grupo Internacional de Padres, que se opôs às inovações da Aliança Europeia, animada pelo teólogo jesuíta Karl Rahner. Essa sua resistência iniciara-se nos anos de estudos na Universidade Gregoriana, com a influência vinda do então Pe. Louis Billot, seu professor, que em 1911 foi criado cardeal – título retirado pela defesa de suas ideias na Ação Católica francesa. Aprendeu a rejeitar o liberalismo como sendo “a heresia por excelência após o modernismo” e que fazia os cristãos não crerem na imutabilidade dos artigos da fé.
Assinatura de Lefebvre (a quarta de cima para baixo) no documento, entre outros, sobre a liberdade religiosa
Apesar de participar da primeira à quarta sessões e assinar todos os documentos, começa a discordar dos relativos à liberdade religiosa, ao ecumenismo e à colegialidade dos bispos, que, para ele, poderia diminuir a autoridade papal. As suas intervenções causaram tanta polêmica que os bispos seus confrades na Congregação solicitaram-lhe uma audiência e perguntaram se falava em seu nome ou em nome dos mais de 4000 padres de quem era superior-geral. Era em seu nome que falava.
3. O gérmen da FSSPX
Em 1968, não concordando com as reformas que deveria executar dentro da Congregação e devido à oposição que lhe foi feita, renunciou ao cargo de seu Superior-geral.
Um ano depois, alguns seminaristas descontentes o procuraram e o animaram a formá-los segundo a espiritualidade e a teologia que desejavam.
Em 1970, decidiu fundar um seminário destinado à formação de sacerdotes exclusivamente no espírito pré-conciliar. O então bispo de Friburgo, na Suíça, Mons. François Charrière, concede licença para a ereção do seminário de Êcone, e o mesmo Bispo erige canonicamente a Fraternidade Sacerdotal São Pio X em 1º novembro de 1970.
Continua...
Fonte: Direto da Sacristia
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