quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Índia: retrato blasfemo de Cristo reacende conflitos religiosos

Bispos do país lançam apelo pela paz

ROMA, terça-feira, 23 de fevereiro de 2010 (ZENIT.org). – A Índia voltou a ser palco de confrontos entre diferentes grupos religiosos. O estopim da crise foi a publicação de um livro contendo uma imagem de Jesus com uma lata de cerveja numa mão e um cigarro na outra.
A imagem, de acordo com o "L'Osservatore Romano", foi divulgada por diversos veículos de comunicação por todo o país, enquanto que em Punjab foi também exposta em cartazes distribuídos pelas ruas. A tentativa de remoção de alguns destes cartazes por cristãos provocou reações violentas de alguns fundamentalistas hindus.
Os confrontos rapidamente se espalharam. Duas igrejas protestantes foram incendiadas e completamente destruídas, e uma terceira ficou gravemente danificada.
Neste contexto, os bispos indianos fizeram um apelo pela paz, endereçando uma carta oficial de protesto ao ministro nacional da educação, na qual pedem por um maior controle sobre os conteúdos dos livros didáticos.
Padre Babu Joseph, porta-voz da Conferência Episcopal indiana, disse à agência Fides que “não se pode dizer” que o material ofensivo publicado pela editora Skyline Pubblications represente a “opinião direta dos movimentos integralistas hindus”, mas que é certo que a editora é ligada a movimentos de cunho extremista.
“Os bispos condenam este ato blasfemo e renovam seu apelo pela paz em Punjab e em toda a Índia”. Os prelados pediram ainda que o governo da província de Punjab libertasse os 25 cristãos detidos após os confrontos.
“A disseminação das imagens blasfemas pela cidade foi uma operação conduzida por grupos integralistas hindus com o objetivo de criar tensões. O governo da província garantiu que perseguirá os responsáveis”. Thomas Menamparampil, arcebispo de Guwahati, disse esperar por uma “solução pacífica” para a questão.
Em Guwahati será realizada em 3 de março, pela primeira vez na história da Índia, a Assembléia da Conferência Episcopal da Índia (CBCI).
“Os cristãos protestaram pacificamente a nível político e jurídico contra as ofensas” – disse Dom Menamparampil , acrescentando que “o diálogo e a oração são as nossos meios de tratar da questão”.
Para o prelado, “e necessária sempre grande sensibilidade para tratar de símbolos religiosos”, lembrando do caso das charges sobre Maomé na Europa, segundo ele “um caso semelhante”.
“Acredito que a maioria dos fiéis hindus não apoia tais atos. A civilização hindu nutre um profundo respeito pelos símbolos religiosos próprios e de outras religiões. Muitos líderes religiosos hindus condenaram a divulgação da imagem blasfema, bem como diversos líderes muçulmanos. Acredito estes eventos não trarão consequências mais graves”.
Na assembléia do episcopado indiano em Guwahati, ainda de acordo com o "L'Osservatore Romano", será discutido, entre outros, o tema da ideologia da hindutva e suas consequências para a convivência pacífica entre as diferentes comunidades religiosas da Índia.
Em particular, os bispos pretendem analisar a ideologia do Sangh Parivar, um movimento fundamentalista hindu que rejeita a igualdade de direitos entre as diferentes religiões.
Para os prelados, é fundamental distinguir as diferenças entre os princípios do hinduísmo e as crenças do hindutva: o hinduísmo é uma religião, enquanto que o hindutva é um movimento político nacionalista que recorre à religião para legitimar suas posições.
“Esta ideologia fundamentalista se opõe fortemente à liberdade religiosa garantida pela Constituição indiana”, “negando a realidade multirreligiosa e multi-cultural do país”, acrescentam os bispos.
Diante desta realidade, os bispos propõem “promover o diálogo inter-religioso”, um empenho que segundo eles deve ser “constante para todos os cristãos”.

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