Páginas
Você está em:
Início
»
Entrevista
»
Liturgia
»
Padres
»
“A liturgia não admite ficção: exige sempre a verdade” (2)
quinta-feira, 7 de julho de 2011
“A liturgia não admite ficção: exige sempre a verdade” (2)
Postado por
Caio Vinícius
É impossível confundir a liturgia com um código de normas ou uma espécie de protocolo sagrado, quando é compreendida e estudada a partir de dentro. Esta é a reflexão feita nesta entrevista pelo novo diretor do Instituto Superior de Liturgia de Barcelona (http://www.cpl.es/ISLB/default.html), o único instituto superior de Liturgia que oferece suas aulas em espanhol – motivo pelo qual desperta grande interesse na América Latina.
Jaume González Padrós (Sabadell, 1960) é um sacerdote doutor em Liturgia (Pontifício Ateneu Sant'Alselmo) que afirma que, ainda que a Liturgia seja “terreno dos crentes”, também é uma magnífica oportunidade para evangelizar.
Padrós é membro do Centro de Pastoral Litúrgica de Barcelona e consultor da Comissão Episcopal de Liturgia da Conferência Episcopal Espanhola.
A primeira parte desta entrevista foi publicada ontem.
ZENIT: A liturgia parece um âmbito estritamente de interesse dos crentes. O senhor vê nela alguma dimensão de evangelização, de campo comum com os não católicos?
González Padrós: A liturgia, de fato, é um âmbito dos crentes. Ela tem a faculdade de iniciar na vida cristã, através dos sacramentos primeiros (Batismo, Confirmação, Eucaristia), e de renovar, nos já iniciados, a graça para que vivam sempre de Deus e em Deus. Então, é preciso pensar em uma tarefa de anúncio, de evangelização, que deve preceder, no tempo, a prática litúrgica. A confusão destas duas etapas se traduz em fracasso da ação pastoral e frustração na vivência litúrgica.
Não obstante, também é verdade que a liturgia possui uma grande força pedagógica e contém uma grande instrução. Quantas pessoas se sentiram interpeladas no fundo do seu coração, ao longo de uma celebração litúrgica bem realizada!
Outra coisa é o nível em que podemos participar juntos, durante as ações litúrgicas, católicos e membros de outras igrejas, comunidades ou congregações cristãs. No contexto da celebração da Palavra de Deus, sim é factível uma notável participação comum, mas infelizmente não podemos ir além. Fazer isso seria falsear a realidade, mostrando, na ação litúrgica, uma comunhão – na fé objetiva – fictícia.
E a liturgia não admite a ficção; exige sempre a verdade, no que se diz e no que se faz.
ZENIT: O que é a espiritualidade litúrgica à qual Joseph Ratzinger fazia referência antes de ser Papa?
González Padrós: O Papa Bento XVI teve sempre, como teólogo, uma grande estima pela liturgia. Ele a compreendeu a partir da fé, com profundidade doutrinal, e a conhece bem.
Precisamente por isso, por sua trajetória tão fecunda de estudo e pesquisa, pode viver espiritualmente da liturgia, fazendo dela não uma piedade particular, mas acolhendo-a como o que é, a piedade da Igreja, em seu sentido mais genuíno. É uma alegria intelectual muito grande tomar nas mãos qualquer um dos livros de Joseph Ratzinger e ler o que ele escreve sobre a liturgia e suas consequências para a espiritualidade do cristão.
Penso que suas reflexões estão na linha das páginas que lemos, com grande fruição espiritual, procedentes dos Padres da Igreja, aqueles pastores e teólogos dos primeiros séculos, do Oriente e do Ocidente, e que se caracterizam por sua referência imediata à Sagrada Escritura e pela compreensão mistérica dos ritos sacramentais.
ZENIT: Por que a liturgia se associa com severidade, formalidade, normativas?
González Padrós: Porque se tem dela um conhecimento tópico, meramente prático, periférico. Talvez também porque nunca se teve uma experiência celebrativa de qualidade. No entanto, é impossível confundir a liturgia com um código de normas ou uma espécie de protocolo sagrado, quando é compreendida e estudada a partir de dentro, no campo teológico e em sintonia com a grande tradição da Igreja, e quando é celebrada com a arte espiritual que exige.
Umas das coisas mais gratificantes para um professor de liturgia é quando, ao acabar um curso, alguns participantes lhe dizem que, durante esses dias, eles descobriram a liturgia; que até esse dia a concebiam como um conjunto de leis e ritos antiquados e que agora veem tudo de forma diferente, com sentido e perfume espiritual. Nesse dia, você vai para a cama satisfeito e dando muitas graças a Deus!
Eu sempre gostei do que li uma vez do cardeal Bevilacqua, grande amigo de Paulo VI: “A liturgia é agradecida; se você a trata bem, ela o recompensa muito”. Quanta razão ele tinha! Muitas vezes eu experimentei isso, tanto na sala de aula como na igreja!
De: Zenit
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário