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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Redescobrir a Essência da Liturgia


Por Caio Vinícius P.Nogueira

Restaurar a nossa fé vem sendo o principal ato de Sua Santidade Bento XVI basta olhar o seu apreço aos Divinos Mistérios, ao silêncio, ao recolhimento, ao belo, e principalmente à Santa Liturgia.

Ao percebermos o quão é belo o significado da Liturgia, começaremos a pensar se tudo o que fizemos, fazemos ou faremos está de acordo com o pensamento da Madre Igreja. Desde o primórdio, a Mãe Igreja ensina aos seus filhos o verdadeiro sentido do Sacrifício da Missa, da nossa Fé. Não podemos mudar estes valores, pois assim estaremos em desobediência para com a nossa Igreja.

Se tomarmos para nós o pensamento de liturgia como ação de Deus, não nossa, entenderemos que aquilo que se faz no altar, é verdadeiramente o sacrifício do Filho de Deus, entenderemos que “a liturgia, nós não a fazemos; não é nossa obra, mas de Deus. A concepção do homem “criador” conduz a uma visão secularizada de tudo, em que Deus, com frequência, não tem lugar. A paixão pela mudança e a perda da tradição ainda não foram superadas”. [1]

No início do Concílio Vaticano II, em determinada sessão do dia 16 de outubro de 1962, os padres conciliares foram informados que o tema “Liturgia” entraria em pauta. Então o primeiro passo foi a eliminação do latim de todos os breviários e missais dos sacerdotes, entrando em seu lugar o vernáculo [2]. Mas seria necessário eliminar a “língua angelical” que fazia parte da Tradição da Igreja? O beato João XXIII havia selado um documento que deveria salvaguardar o latim como língua “imutável” e “universal” da Igreja e da liturgia católica no altar da Confissão, sobre o túmulo de São Pedro, na presença de quarenta cardeais. O documento, promulgado sete meses antes da abertura do Concílio, foi rapidamente esquecido, mas os bispos reunidos em Roma decidiram levá-lo em consideração. A Constituição Sacrosanctum concilium, sobre a liturgia, diz: “Seja conservado o uso da língua latina, salvo o direito particular”. (nº 36) e “Cuide-se para que os fiéis saibam recitar e cantar juntos, inclusive em língua latina, as partes do Ordinário da missa que lhes cabem”. (nº 54). [3]

Bento XVI tem provocado, como pode, o tão almejado novo movimento litúrgico, sobretudo com seu exemplo. O modo de o Papa celebrar, a sua piedade e reverência para com os sagrados mistérios, a reivindicação por palavras e gestos da centralidade de Deus no culto, o resgate de signos litúrgicos pertencentes à rica tradição da Igreja, a colocação do crucifixo no centro do altar etc., tudo isso tem já causado uma boa impressão em bispos e padres que, interiormente robustecidos, procuram seguir os passos do Vigário de Cristo na terra em sua luta contra a secularização da liturgia.[4]

Para podermos ajudar o Santo Padre na sua Reforma da Reforma, precisamos entrar na infantaria de seu exército, estar na linha de frente, “combater o bom combate e resistir firmes na fé”. A recuperação da liturgia não se dará em um ano, mas em vários, então temos que continuar apegados à rocha de Pedro. Para resgatar a Santa Liturgia é preciso a criação de algo, este algo foi chamado de Novo Movimento Litúrgico, um movimento que não pode ser fabricado, tem que ser incentivado, posto em prática. Comecemos portanto, em nossas igrejas o exercício deste movimento litúrgico, sem criar nada (pois tudo já foi criado), para conseguirmos alcançar o fim último que é a Glória de Deus.

Neste Novo Movimento Litúrgico tem sido levantada uma questão interessante, até que ponto o Novus Ordo pode assemelhar-se com a Missa Antiga. Para tentar responder  esta questão vejamos o exemplo do nosso Pontífice atual. Durante a incensação ele recorre ao Salmo 140 que é dito na Forma Extraordinária, outro fato é a comunhão de joelhos e na boca, que foi colocada de lado na Reforma Litúrgica Pós-conciliar. Algo mais concreto é a sua intervenção no Motu Proprio Summorum Pontificum: “Não existe nenhuma contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado permanece sagrado e grande também para nós, e não pode ser de improviso totalmente proibido ou mesmo prejudicial. Faz-nos bem a todos conservar as riquezas que foram crescendo na fé e na oração da Igreja, dando-lhes o justo lugar”.[5]

Se aplicarmos esse texto à celebração da forma nova do rito Romano, além de simplesmente aplicá-lo à celebração do usus antiquior, surge um número de pontos relevantes que se opõem a uma atitude que se enraizou por quarenta anos de celebração da forma nova da Missa. Em primeiro lugar, apesar de ter havido algumas grandes simplificações introduzidas no Missal de Paulo VI, essas não podem ser vistas em contradição com os gestos mais solenes e complexos do usus antiquior. Em outras palavras, se um sacerdote genuflecte duas vezes, tanto na consagração da hóstia como na do cálice, ou se ele incensa o altar com os ditos “gestos múltiplos e complexos” enquanto silenciosamente recita os primeiros quatro versículos do Salmo 140, isto não pode ser visto como algo que desrespeita o novo rito, o Concílio Vaticano II ou a “abertura das janelas” da Igreja: “Não existe nenhuma contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum”.[6]

A liturgia não é uma invenção, é a ação de Deus, viva e eficaz. Não podemos fazer dela como um "objeto a reformar"[7], ela deve ser imútavel, esplêndida e correta. Façamos um bem para a Santa Igreja, não mudemos a liturgia, ela não precisa de reformas, quem precisa somos nós. Precisamos redescobrir o valor das coisas de Deus.

A reforma litúrgica,em sua realização concreta, se distanciou demais desta origem. O resultado não foi uma reanimação, mas uma devastação. De um lado, tem-se a liturgia que se degenerou em “show”, onde se quis mostrar uma religião atrativa com a ajuda de tolices da moda e de incitantes princípios morais, com êxitos momentâneos no grupo de criadores litúrgicos e uma atitude de reprovação tanto mais pronunciada nos que buscam na Liturgia, não tanto o “showmaster” espiritual, mas o encontro com o Deus vivo, diante do qual toda “ação” é insignificante, pois somente este encontro é capaz de nos fazer chegar à verdadeira riqueza do ser. [8]

De fato, durante os anos que se seguiram à introdução do Missal de Paulo VI, tentativas de impor uniformidade absoluta mostraram-se ilusórias. Muito propriamente, a Santa Sé interveio para condenar abusos litúrgicos que iam desde o uso de textos não bíblicos para as leituras, até a consagração de uma jarra de vinho em lugar de um cálice, passando pelo uso de matérias e formas inválidas para os sacramentos.[9]

Imaginemos portanto, a Liturgia como uma grande árvore, que ao longo dos séculos da Igreja foi crescendo, criando galhos que se estenderam, folhas grandes e verdes e frutos maravilhosos, e foi crescendo até ficar bem alta. Mas, em determinado momento parou de crescer, seus galhos que antes eram fortes, ficaram fracos, suas folhas grandes e verdes foram murchando, os seus frutos apodreceram. Porém, mais tarde esta velha árvore voltou a frutificar e chamar a atenção dos pássaros, que aos poucos foram levando as sementes dessa árvore para longe, onde hoje, brotam pequenos arbustos que alguns já querem cortar, entretanto, os arbustos resistem, porque foram originados da grande “árvore da liturgia”.

A árvore voltou a crescer, e continua a crescer, precisamos ficar debaixo de seus galhos para recebermos a sua sombra, depois precisamos sair debaixo da árvore e irmos plantar as sementes que colhemos dos frutos que dela caíram. Necessitamos ser intrépidos, altivos e ativos, precisamos fazer da “árvore da Liturgia” conhecida por toda parte, não podemos fazer com que esta árvore volte ao declínio. Lutemos, lutemos para podermos alcançar os frutos desta árvore, e podermos dizer que valeu todos os nossos esforços, em busca da construção do Novo Redescobrimento da Liturgia.

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Notas:

[1] Cardeal Cañizares Llovera. "Entrevista com Paolo Rodari".

[2] Andrea Tornielli. "Uma Babel Programada".

[3] Idem

[4] Padre Emílio de Farias. "Um Novo Movimento Litúrgico".

[5] Bento XVI. "Motu Proprio Summorum Pontificum".

[6] Padre Timothy Finigan. "As duas Formas do Rito Romano:" Enriquecimento mútuo" na teoria e na prática".

[7] Bento XVI. Congresso Romano pelos 50 anos da fundação do Pontifício Instituto Litúrgico.

[8] Bento XVI. "A intrepidez de uma verdadeira Testemunha". Livro de Klaus Gamber.

[9] Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. "Instrução a Respeito do culto do mistério Eucarístico".

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