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sábado, 30 de abril de 2011

Homilia de João Paulo II na Festa da Divina Misericórdia, em 2001.


HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II
NA CELEBRAÇÃO DA MISSA NO
"DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA"


Domingo, 22 de abril de 2001

"Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive; conheci a morte, mas eis-Me aqui vivo pelos séculos dos séculos" (Ap 1, 17-18).

Ouvimos na segunda leitura, tirada do livro do Apocalipse, estas palavras confortadoras. Elas convidam-nos a dirigir o olhar para Cristo, para experimentar a sua presença tranquilizadora. A cada um, seja qual for a condição em que se encontre, até a mais complexa e dramática, o Ressuscitado responde: "Não temas!"; morri na cruz, mas agora "vivo pelos séculos dos séculos"; "Eu sou o Primeiro e o Último. O que vive".

"O Primeiro", isto é, a fonte de cada ser e a primícia da nova criação: "O Último", o fim definitivo da história; "O que vive", a fonte inexaurível da Vida que derrotou a morte para sempre. No Messias crucificado e ressuscitado reconhecemos os traços do Anjo imolado no Gólgota, que implora o perdão para os seus algozes e abre para os pecadores penitentes as portas do céu; entrevemos o rosto do Rei imortal que já tem "as chaves da Morte e do Inferno" (Ap 1, 18).

2. "Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o Seu amor" (Sl 117, 1). Façamos nossa a exclamação do Salmista, que cantamos no Salmo responsorial: porque é eterno o amor do Senhor! Para compreendermos profundamente a verdade destas palavras, deixemo-nos conduzir pela liturgia ao centro do acontecimento da salvação, que une a morte e a ressurreição de Cristo à nossa existência e à história do mundo. Este prodígio de misericórdia mudou radicalmente o destino da humanidade. É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho unigénito.

Em Cristo humilhado e sofredor, crentes e não-crentes podem admirar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana para além de qualquer medida imaginável. Também depois da ressurreição do Filho de Deus, a Cruz "fala e não cessa de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem... Crer neste amor significa acreditar na misericórdia" (Dives in misericordia, 7).

Desejamos dar graças ao Senhor pelo seu amor, que é mais forte do que a morte e do que o pecado. Ele revela-se e torna-se actuante como misericórdia na nossa existência quotidiana e convida todos os homens a serem, por sua vez, "misericordiosos" como o Crucificado. Não é porventura amar a Deus e amar o próximo e até os "inimigos", seguindo o exemplo de Jesus, o programa de vida de cada baptizado e de toda a Igreja?

3. Com estes sentimentos, celebramos o segundo Domingo de Páscoa, que desde o ano passado, ano do Grande Jubileu, também é chamado "Domingo da Divina Misericórdia". É para mim uma grande alegria poder unir-me a todos vós, queridos peregrinos e devotos provenientes de várias nações para comemorar, à distância de um ano, a canonização da Irmã Faustina Kowalska, testemunha e mensageira do amor misericordioso do Senhor. A elevação às honras dos altares desta humilde Religiosa, filha da minha Terra, não significa um dom só para a Polónia, mas para a humanidade inteira. De facto, a mensagem da qual ela foi portadora constitui a resposta adequada e incisiva que Deus quis oferecer às interrogações e às expectativas dos homens deste nosso tempo, marcado por grandes tragédias. Jesus, um dia disse à Irmã Faustina: "A humanidade não encontrará paz, enquanto não tiver confiança na misericórdia divina" (Diário, pág. 132). A Misericórdia divina! Eis o dom pascal que a Igreja recebe de Cristo ressuscitado e oferece à humanidade no alvorecer do terceiro milénio.

4. O Evangelho, que há pouco foi proclamado, ajuda-nos a compreender plenamente o sentido e o valor deste dom. O evangelista João faz-nos partilhar a emoção sentida pelos Apóstolos no encontro com Cristo depois da sua ressurreição. A nossa atenção detém-se no gesto do Mestre, que transmite aos discípulos receosos e admirados a missão de serem ministros da Misericórdia divina. Ele mostra as mãos e o lado com os sinais da paixão e comunica-lhes: "Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós" (Jo 20, 21). Imediatamente a seguir, "soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoardos, àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (Jo 20, 22-23). Jesus confia-lhes o dom de "perdoar os pecados", dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade.

Revivemos este momento com grande intensidade espiritual. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão.

5. O Coração de Cristo! O seu "Sagrado Coração" deu tudo aos homens: a redenção, a salvação, a santificação. Deste Coração superabundante de ternura Santa Faustina Kowalska viu sair dois raios de luz que iluminavam o mundo. "Os dois raios segundo quanto o próprio Jesus lhe disse representam o sangue e a água" (Diário, pág. 132). O sangue recorda o sacrifício do Gólgota e o mistério da Eucaristia; a água, segundo o rico simbolismo do evangelista João, faz pensar no baptismo e no dom do Espírito Santo (cf. Jo 3, 5; 4, 14).

Através do mistério deste coração ferido, não cessa de se difundir também sobre os homens e as mulheres da nossa época o fluxo reparador do amor misericordioso de Deus. Quem aspira à felicidade autêntica e duradoura, unicamente nele pode encontrar o seu segredo.

6. "Jesus, confio em Ti". Esta oração, querida a tantos devotos, exprime muito bem a atitude com que também nós desejamos abandonar-nos confiantes nas tuas mãos, ó Senhor, nosso único Salvador.

Arde em Ti o desejo de seres amado, e quem se sintoniza com os sentimentos do teu coração aprende a ser construtor da nova civilização do amor. Um simples acto de abandono é o que basta para superar as barreiras da escuridão e da tristeza, da dúvida e do desespero. Os raios da tua divina misericórdia dão nova esperança, de maneira especial, a quem se sente esmagado pelo peso do pecado.

Maria, Mãe da Misericórdia, faz com que conservemos sempre viva esta confiança no teu Filho, nosso Redentor. Ajuda-nos também tu, Santa Faustina, que hoje recordamos com particular afecto. Juntamente contigo queremos repetir, fixando o nosso olhar frágil no rosto do divino Salvador: "Jesus, confio em Ti". Hoje e sempre. Amen.

Retirado de: Vatican.va

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