“A Eucaristia é um Sacramento que, pela admirável conversão de toda a substância do pão no Corpo de Jesus Cristo, e de toda a substância do vinho no seu precioso Sangue, contém verdadeira, real e substancialmente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor, debaixo das espécies de pão e de vinho, para ser nosso alimento espiritual”. (Catecismo de São Pio X)
ARTIGO 2 – A transubstanciação eucarística
Pondo-se de manifesto a presença real de Cristo na Eucaristia, vejamos agora o modo de sua realização. Ele se verifica pelo estupendo milagre da transubstanciação eucarística, cuja teologia resumimos brevemente.
1. NOÇÃO. A transubstanciação eucarística consiste na total conversão de toda a substância do pão no corpo de Cristo e de toda a substância do vinho no seu sangue, permanecendo somente as espécies ou acidentes do pão e do vinho.
2. CONDIÇÕES. Para a verdadeira transubstanciação se requerem as seguintes condições:
1) Que o termo de partida (a quo) e o de chegada (ad quem) sejam positivos. Porque, se um deles fosse negativo, não haveria transubstanciação, mas criação (se faltasse o termo a quo) ou aniquilação (se faltasse o ad quem).
2) Que o termo a quo, que é a substância do pão ou do vinho, deixe de existir; e o termo ad quem, que é o corpo ou o sangue de Cristo, comece a existir sob as espécies sacramentais. Porque de outra forma não haveria verdadeiro trânsito nem conversão.
3) Que haja um nexo intrínseco e essencial entre a desaparição do termo a quo e a aparição do termo ad quem. Ou seja, que o mesmo termo a quo (pão ou vinho) se converta no termo ad quem (corpo ou sangue de Cristo), de tal sorte que o mesmíssimo termo a quo (a substância do pão ou vinho) se diga e seja depois o termo ad quem (o corpo ou o sangue de Cristo). Não bastaria que houvesse entre os dois uma mera sucessão, mas que se requer indispensavelmente que um se converta no outro, de tal maneira que, mostrando o corpo eucarístico de Cristo, possamos dizer com verdade: “Isto que antes da consagração era a substância do pão, agora é o corpo de Cristo”. Desta maneira, o nexo entre a desaparição do pão e a aparição do corpo de Cristo é intrínseco ou essencial, e a desaparição do primeiro traz necessariamente a aparição do segundo.
4) Pode-se acrescentar uma quarta condição, a saber, que se conserve no termo ad quem algo do que havia no termo a quo. Assim ocorre de fato na Eucaristia, já que a consagração afeta unicamente a substância do pão ou do vinho, deixando intactos os acidentes, que, por isso mesmo, permanecem depois da consagração.
CONCLUSÃO. Cristo se faz realmente presente na Eucaristia pela transubstanciação, ou seja, pela conversão de toda a substância do pão e do vinho em seu próprio corpo e sangue, permanecendo unicamente os acidentes do pão e do vinho. (De fé divina, expressamente definida)
Prova-se:
1. PELA SAGRADA ESCRITURA. Depreende-se claríssimamente das palavras que pronunciou Cristo ao instituir a Eucaristia, e que repete o sacerdote ao consagrá-la: Isto é o meu corpo; este é o cálice do meu sangue, que não seriam verdadeiras se não ocorresse o prodígio da transubstanciação, ou seja, se juntamente com o corpo ou sangue de Cristo ficasse debaixo das espécies algo da substância do pão ou vinho.
2. PELO MAGISTÉRIO DA IGREJA. Definiu-o expressamente o Concílio de Trento contra os protestantes. Eis aqui o texto da definição dogmática:
“Se alguém disser que no sacrossanto sacramento da Eucaristia fica a substância do pão e do vinho juntamente com o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; e negar aquela admirável e singular conversão de toda a substância de pão no corpo, e de toda a substância do vinho no sangue, ficando apenas as espécies de pão e de vinho, que a Igreja com suma propriedade (aptissime) chama de transubstanciação — seja excomungado”. (D 884)
3. PELA RAZÃO TEOLÓGICA. Santo Tomás explica profundissimamente que “não pode dar-se nenhum outro modo pelo qual o corpo verdadeiro de Cristo comece a estar presente neste sacramento senão pela conversão da substância do pão no mesmo Cristo” (III, 75, 3). A razão é porque uma coisa não pode estar onde não estava antes se não é por mudança de lugar ou porque outra coisa se converta nela. Ora: é manifesto que Cristo não pode fazer-se presente na Eucaristia por mudança de lugar ou movimento local, porque se seguiriam incompreensíveis absurdos (p.ex.: deixaria de estar no céu, já que corpo algum pode estar localmente em dois lugares ao mesmo tempo; não poderia estar mais que em um só sacrário da terra, não nos demais; a consagração eucarística não seria instantânea, mas exigiria algum tempo – ainda que fosse rapidíssimo – para que se verificasse o movimento local de Cristo, etc., etc.). Logo, não há outro meio pelo qual Cristo possa fazer-se presente na Eucaristia a não ser pela conversão n’Ele da substância do pão e do vinho. [...]
----- FONTE: MARIN, A.R. Teologia Moral para Seglares. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1958. v.II: Los Sacramentos. p.129-131.
Nenhum comentário:
Postar um comentário