A Imaculada Conceição de Maria constitui o sinal do amor gratuito do Pai, a expressão perfeita da redenção levada a cabo pelo Filho, o ponto de partida de uma vida totalmente disponível à ação do Espírito.
"Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade..." (Lc 1, 39). As palavras deste trecho evangélico fazem-nos vislumbrar, com os olhos do coração, a jovem de Nazaré a caminho da "cidade da Judeia", onde morava a sua prima, para lhe oferecer os seus serviços. Aquilo que nos surpreende acima de tudo, em Maria, é a sua atenção repleta de ternura pela sua parente idosa. Trata-se de um amor concreto, que não se limita a palavras de compreensão, mas que se compromete pessoalmente numa verdadeira assistência. À sua prima, a Virgem não dá simplesmente algo que lhe pertence; Ela dá-se a si mesma, sem nada exigir como retribuição. Ela compreendeu de maneira perfeita que, mais do que um privilégio, o dom recebido de Deus constitui um dever, que a empenha no serviço aos outros, na gratuidade que é própria do amor.
"A minha alma proclama a grandeza do Senhor..." (Lc 1, 46). No seu encontro com Isabel, os sentimentos de Maria brotam com vigor no cântico do Magnificat. Através dos seus lábios exprimem-se a expectativa repleta de esperança dos "pobres do Senhor", e a consciência do cumprimento das promessas, porque Deus "se recordou da sua misericórdia" (cf. Lc 1, 54).
É precisamente desta consciência que brota a alegria da Virgem Maria, que transparece no conjunto do cântico: alegria de saber que Deus "olha" para Ela, apesar da sua "fragilidade" (cf. Lc 1, 48); alegria em virtude do "serviço" que lhe é possível prestar, graças às "grandes obras" que o Todo-Poderoso realizou em seu favor (cf. Lc 1, 49); alegria pela antecipação das bem-aventuranças escatológicas, reservadas aos "humildes" e aos "famintos" (cf. Lc 1, 52-53).
Depois do Magnificat chega o silêncio; nada se diz acerca dos três meses da presença de Maria ao lado da sua prima Isabel. Talvez nos seja dita a coisa mais importante: o bem não faz ruído, a força do amor expressa-se na discrição tranquila do serviço quotidiano.
Queridos Amigos, para isto sabemos que podemos contar com Aquela que, sem jamais ter cedido ao pecado, é a única criatura perfeitamente livre. É a Ela que vos confio. Caminhai com Maria, ao longo do trajecto da plena realização da vossa humanidade!
Homilia do Santo Padre João Paulo II,na festa da Assunção de Nossa Senhora em Lourdes,2004
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