Veja a homilia do Santo Padre Bento XVI no Consistório Público Ordinário para a criação de novos Cardeais, pronunciado, na Basílica Vaticana, neste sábado, 20.
Senhores Cardeais,
veneráveis Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
caros irmãos e irmãs!
O senhor me doa a alegria de cumprir, agora mais uma vez, este solene ato, mediante o qual o Colégio Cardinalício se enriquece de novos Membros, escolhidos das diversas partes do mundo: tratam-se de Pastores que governam com zelo importantes comunidades diocesanas, dos departamentos da Cúria Romana, ou que serviram com exemplar fidelidade à Igreja e à Santa Sé.
De agora em diante, eles se tornam parte do coetus peculiaris, que presta ao Sucessor de Pedro uma colaboração mais imediata e assídua, sustentando-o no serviço de seu ministério universal.
Para eles, em primeiro lugar, dirijo a minha afetuosa saudação, renovando a expressão da minha estima e do minha viva apreciação pelo testemunho que rendem à Igreja e ao mundo. Em particular, saúdo o Arcebispo Angelo Amato e o agradeço pelas gentis expressões que me direcionou.
Ofereço, então, as minhas calorosas boas-vindas para as delegações oficiais de vários países, e a todos que estão aqui reunidos para participar neste evento, no qual esses veneráveis e caros Irmãos recebem o sinal da dignidade cardinalícia, com a imposição do barrete e atribuição do título de uma igreja em Roma.
O vínculo de especial comunhão e afeto, que liga esses novos Cardeais ao Papa, os tornam únicos e preciosos colaboradores do alto mandato confiada por Cristo a Pedro, de pastorar o seu rebanho (Cf. Jo 21,15-17), para reunir os povos com a solicitude da caridade de Cristo. É próprio deste amor que nasceu a Igreja, chamada a viver e caminhar segundo o mandamento do Senhor, no qual se reassume toda a Lei e as profecias. Estar unidos a Cristo na fé e em comunhão com Ele, significa estar “arraigados e alicerçados em amor” (Ef 3:17), o tecido que une todos os membros do Corpo de Cristo.
A palavra de Deus há pouco proclamada ajuda-nos a meditar sobre este aspecto tão crucial. No Evangelho (Mc 10,32-45) coloca diante de nossos olhos o ícone de Jesus como o Messias, profetizado por Isaías (cf. Isaías 53), que não veio para ser servido, mas para servir: o seu estilo de vida se torna a base dos novos relacionamentos ao interno da comunidade cristã e de um modo de exercer a autoridade.
Jesus está no caminho para Jerusalém e anuncia pelo terceira vez, indicando aos discípulos a rota pela qual se pretende implementar o trabalho dado pelo Pai: é o caminho da humildade, dom de si para o sacrifício da vida, caminho da Paixão, caminho da Cruz.
No entanto, mesmo após este anúncio, assim como foi anunciado por seus antecessores, os discípulos revelam toda a sua fadiga em compreender, em operar o necessário “exôdo” de uma mentalidade humana à uma mentalidade de Deus.
Qual é então o caminho que deve percorrer quem quer ser discípulo? É o caminho do Mestre, é o caminho da total obediência a Deus. Por isso, Jesus pede a Tiago e João: estão dispostos a partilhar a minha escolha para fazer a vontade plena do Pai? Estão dispostos a percorrer esta estrada que passa pelo humilhação, sofrimento e morte por amor? Os dois discípulos, com suas respostas seguras, “podemos”, mostrando, mais uma vez, não terem entendido o sentido real daquilo que promete seu Mestre.
E de novo, Jesus, com paciência, os faz dar um passo além: nem mesmo podem tomar do cálice do sofrimento e do batismo da morte dá o direito aos primeiros lugares, porque este é “para aquele que está preparado”, está nas mãos do Pai Celeste; o homem não deve calcular, deve simplesmente abandonar-se em Deus, sem pretender, conformar-se a sua vontade.
A indignação dos outros discípulos se torna ocasião para estender o ensinamento a toda comunidade. Antes de tudo, Jesus “chamou a si mesmo”: é o gesto da vocação original, no qual se convida a voltar. É muito significativo este referir-se ao momento constitutivo da vocação dos Dez em “estar com Jesus", para serem enviados, porque recorda com clareza que cada ministério eclesial é sempre resposta a um chamado de Deu. Não é jamais fruto de um projeto próprio ou de uma ambição própria, mas é conformar a própria vontade àquela do Pai que está no Céu, como Cristo em Getsêmani (Cfr Lc 22,42).
Na Igreja nenhum é patrão, mas todos são chamados, todos são convidados, todos são alcançados e guiados pela graça divina. E esta é também a nossa segurança! Basta ouvir novamente a palavra de Jesus que pede “vem e segue-me”, somente recordando a vocação original é possível entender a própria presença e a própria missão na Igreja, como autênticos discípulos.
O pedido de Tiago e João e a indicação dos outros dez Apóstolos levantam uma questão central na qual querem que Jesus responda: quem é grande, quem é o primeiro para Deus?
Primeiro, olhe para o comportamento que pode ser tomado por "aqueles que são considerados os líderes das nações": "dominar e oprimir". Jesus indica aos discípulos um modo completamente diferente: “Entre vós, não é asssim”. A sua comunidade segue uma outra regra, uma outra lógica, um outro modelo: “Quem quiser ser grande entre vós será o vosso servo, e quem quiser ser o primeiro entre vós será escravo de todos”.
O critério da grandeza e primazia, segundo Deus, não é o domínio, mas o serviço. O diaconato é a lei fundamental do discípulo e da comunidade cristã, e permite-nos intuir algo da “soberania de Deus”. E Jesus indica também o ponto de referência: O Filho do homem, que veio para servir, sintetizando assim a sua missão sobre a categoria do serviço, compreendida não no sentido genérico, mas naquele concreto da Cruz, na doação total da vida como “resgaste”, como redenção para muitos, e o indica como condição para o seguir.
É a mensagem que vale aos Apóstolos, vale para toda a Igreja, vale, sobretudo, para aqueles que têm a tarefa de guiar o povo de Deus. Não é a lógica do domínio, de poder segundo os critérios humanos, mas a lógica de inclinar-se para lavar os pés, a lógica do serviço, a lógica da Cruz que é a base de cada serviço de autoridade. Em cada tempo, a Igreja se compromete a cumprir esta lógica e testemunhá-la a fim de refletir a “verdadeira soberania de Deus”, aquela do amor.
Venerados Irmãos eleitos à dignidade cardinalícia, a missão, a qual Deus vos chama hoje e que vos permite um serviço eclesial agora mais carregado de responsabilidade, requer uma vontade sempre maior de assumir o modelo do Filho de Deus, que veio em meio a nós como aquele que servir (C0fr Lc 22:25-27).
Se trata de segui-lo na sua doação de amor humilde e total à Igreja, sua esposa, sua Cruz: é sobre essa madeira que o grão de trigo, deixado cair do Pai sob o campo do mundo, morre para se tornar fruto maduro.
Por isso, requer um enraizamento ainda mais profundo e firme em Cristo. O relacionamento íntimo com Ele, que transforma sempre mais a vida de modo a poder dizer como São Paulo “não sou eu quem vive, mas Cristo em mim” (Gl 2,20); constitui a exigência primária para que o nosso serviço seja sereno e feliz e possa dar o fruto que espera Deus de nós.
Queridos irmãos e irmãs, rezem pelos novos Cardeais! Amanhã, nesta Basílica, durante a concelebração na solenidade de Cristo Rei do Universo, lhes consentirei seus anéis. Será uma nova ocasião para “louvar o Senhor , que permanece fiel para sempre” (Sl 145), como respondemos no Salmo Responsorial.
O seu Espírito sustenta os novos portadores no empenho do serviço à Igreja, segundo o Cristo da Cruz também, se necessário usque ad effusionem sanguinis, prontos sempre – como nos dizia São Pedro na leitura proclamada – a responder a qualquer um que nos pergunte a razão da esperança que está em nós (cf 1 Pd 3:15). À Maria, Mãe da Igreja, confio os novos Cardeais e seus serviços eclesiais, afim que, com ardor apostólico, possam proclamar a todos os povos o amor misericordioso de Deus. Amém.
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