segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pio IX e João XXIII, beatificados há uma década

Ambos fizeram importantes marcos na história da Igreja

Apesar da diferença de quase um século que os separa, eles têm algo em comum: Pio IX e João XIII levaram adiante um concílio ecumênico (Vaticano I e Vaticano II), enfrentaram difíceis momentos na ordem mundial (movimento de unificação italiana e o pós-guerra da Segunda Guerra Mundial) e foram beatificados por João Paulo II há dez anos.

Pio IX, um pontificado longo e fecundo

É o pontificado mais longo registrado na história. Giovanni Maria Mastai Ferretti (nascido em Senigallia, provícia de Ancona, em 13 de maio de 1792), esteve na sede de Pedro durante quase 32 anos: entre 1846 e 1878.

Com a constituição apostólica Inefabilis Deus, proclamou em 1854 o dogma da Imaculada Conceição, logo após realizar uma consulta com todos os bispos do mundo, na qual a grande maioria (546 de 603 no total) se declarou a favor.
“Além do significado doutrinal daquela definição, este dogma tem especialmente um valor espiritual”, explica ao jornal L’Osservatore Romano em sua edição de sexta-feira Dom Walter Brandmüller, que foi até ano passado presidente do Pontifício Comitê de Ciências.

O prelado alemão garantiu que esse fato “demonstra especialmente a grande sensibilidade de Pio IX com a realidade sobrenatural da fé, com particular atenção à questão do pecado e da graça”. Um discurso que, segundo ele, tem muita relação com a atualidade: “não por casualidade, este é um dos temas que estão particularmente no coração de Bento XVI”, disse Dom Brandmüller.

Pio IX foi o Papa que convocou o Concílio Vaticano I (1869-1870), onde foi definido por meio da constituição dogmática Pastor aeternus a infalibilidade do Papa para seus pronunciamentos ex cátedra, assim como o fortalecimento do primado romano.

Neste concílio foi discutida ainda a relação entre a fé e a razão, tema que ficou assinalado na constituição Dei filius: “Nela é enfrentada diretamente questão das ideologias e dos movimentos que inquietavam o panorama intelectual e que exigiam uma resposta também no plano teológico”, afirma Dom Brandmüller.

A vida consagrada foi também um dos pilares de Pio IX: aprovou canonicamente 160 ordens religiosas, muitas delas femininas e missionárias. Várias nasceram na França, apesar da perseguição religiosa do final do século XVIII. “Isso confirma que boa parte dos frutos do pontificado de Pio IX foi recolhida depois de sua morte. E hoje também continuam”, diz Dom Brandmüller.

“Seu longo pontificado não foi fácil, e ainda sofreu muito para cumprir sua missão ao serviço do Evangelho”, recordou João Paulo II há dez anos, durante a homilia de sua beatificação. “Foi muito amado, mas também odiado e caluniado”, afirmou.

João XXIII: mais que um Papa de transição


Angelo Giuseppe Roncalli (1881 - 1963) tinha uma profunda devoção por seu antecessor Pio IX: “Penso sempre em Pio IX, de santa e gloriosa memória, e, imitando-o em seus sacrifícios, eu queria ser digno de celebrar sua canonização”, expressa em um de seus escritos, recopilados no livro Diário de uma alma.

Hoje, milhares de fiéis visitam seu corpo incorrupto, localizado na Basílica de São Pedro.

Por sua idade avançada no momento de sua eleição como sucessor de Pio XII (quase 77 anos), pensava-se inicialmente que seu pontificado seria somente de transição. Contudo, João XXIII convocou o acontecimento eclesial mais importante do século XX: o Concílio Vaticano II.

Dom Loris Francesco Capovilla, bispo emérito de Loreto (Itália), recorda o momento do anúncio do Concílio. “No carro, quando se dirigia para São Paulo Fora dos Muros, pronunciou poucas palavras”, disse o bispo de 95 anos, antigo secretário de Roncalli. “Ele presidiu a missa celebrada pelo abade e logo pronunciou a homilia. O rito se prolongou além do previsto e o Papa cruzou o umbral da aula capitular do monastério beneditino pouco depois do meio-dia: hora na qual terminava o embargo do anúncio”.

“Desta forma, a divulgação da notícia do Concílio por parte dos meios de comunicação aconteceu antes que o pontífice pudesse comunicar os cardeais”, recordou o bispo emérito de Loreto. João Paulo II defendeu João XXIII no dia de sua beatificação como “o Papa que comoveu o mundo pela afabilidade de seu trato, alguém que tinha bondade singular em seu coração.”

“Os desígnios divinos queriam que esta beatificação unisse dois Papas que viveram em épocas históricas muito diferentes”, destacou João Paulo II há 10 anos, “mas que estão unidos, além das aparências, por muitas semelhanças no plano humano e espiritual."

Fonte: Zenit

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