Assim, a participação dos cristãos na vida política não é simples questão de gosto pessoal, mas opção e dever de suma caridade, o responsabilizar-se pelo bem de todos os concidadãos, que são irmãos e co-herdeiros da vida divina, chamados a ser não só cidadãos desta terra, mas concidadãos no Reino de Deus.
Ilumina muito o papel dos cristãos em meio à sociedade humana um texto antigo da Igreja, chamado "Carta a Diogneto" do século II: "Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pela pátria nem pela língua nem por um gênero de vida especial. De fato, não moram em cidades próprias, nem usam linguagem peculiar, e a sua vida nada tem de extraordinário. ... Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme as circunstâncias de cada um; seguem os costumes da terra, quer no modo de vestir, quer nos alimentos que tomam, quer em outros usos; mas o seu modo de viver é admirável e passa aos olhos de todos por um prodígio. Habitam em suas pátrias, mas como de passagem; têm tudo em comum como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria. Todo país estrangeiro é sua pátria e toda pátria é para eles terra estrangeira. ... Moram na terra, mas sua cidade é no céu. Obedecem às leis estabelecidas, mas com seu gênero de vida superam as leis. Amam a todos ... Numa palavra: os cristãos são no mundo o que a alma é no corpo."
Torna-se compromisso inalienável para o discípulo de Cristo, como cidadão deste mundo, colaborar com a construção de uma sociedade justa e solidária, que seja caminho para a expressão plena da dignidade humana.
Serviço público para o cristão deve ser expressão de uma verdadeira caridade coletiva, que busca o bem comum de todos os que são chamados como humanidade a fazer família no Reino de Deus. Voto é compromisso no exercício da participação democrática, colaboração na busca do mesmo bem comum. Portanto, voto é responsabilidade para com o bem de todos e não oportunismo de proveito próprio imediato. Voto não se vende. Voto não se desperdiça. Voto produz conseqüências. A esta alta responsabilidade são chamados os que já na antiguidade cristã se reconheciam com a missão de ser “no mundo o que a alma é no corpo”.
+Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques+
Arcebispo de Fortaleza
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