Texto de Dom Aldo, um dos heróis da nossa época, Arcebispo da Paraíba
A formação democrática na alma do povo brasileiro, embora lenta, apresenta tendência participativa. Falta muito, ainda, para superar a fase da democracia (apenas) representativa. Comparada à fase da adolescência, a democracia passa por períodos específicos sem dar saltos prodigiosos. O ritmo democrático participativo depende da credibilidade dos candidatos e da consistência de projetos apresentados pelas coligações partidárias. Essas, porém, devem ser realmente representativas.
A marcha da história requer um aprendizado democrático exigente, contínuo, cuidadoso, sacrificado. Comparado ao permanente processo educativo da natureza humana, não se pretenda a qualificação de uma criança ou adolescente sem lhes oferecer garantias formativas. Não adianta adotar um comportamento imposto artificialmente. É preciso formar o caráter transparente, franco, decidido. Isso exige uma profunda reforma interior. Comportamento artificial é ilusão que se desfaz como fumaça.
Percebe-se que às vésperas das eleições há eleitores viciados à espera de ofertas para vender seu voto. O esquema da corrupção impregnou-se na mentalidade de uma faixa não desprezível da população. O que fazer então? Educar o povo no exercício da concidadania. Esse processo exige firmeza! O povo brasileiro deve aprender a se exercitar no exercício democrático participativo. Não basta votar. É preciso participar, abrir e ocupar os canais de controle social.
O processo educativo evoca a meta da “res pubblica”, ou seja, da defesa e promoção do bem comum, do bem social, do bem da coletividade. Após o confronto eleitoral, a democracia segue o caminho do pacto social. A razão e o bom senso devem prevalecer. O caminho construtivo articula a pluralidade das forças representativas daqueles que realmente se colocam à serviço do Estado e da cidadania, não à serviço dos próprios interesses.
As instituições democráticas devem passar por um processo (mais ou menos longo) de consolidação. Nossa democracia é ainda uma adolescente. Necessita ser formada permanentemente.
Seu amadurecimento não pode prescindir de princípios e valores, nem sempre levados em conta em propostas enfocadas pelas coligações e seus respectivos candidatos. Ainda existe muito candidato que representa apenas a si mesmo.
A vitória de alguns não deve representar a perda de outras forças que devem ser somadas. Democracia participativa é feita de articulação de forças que se integram e não humilhantemente escarnecidas. Sejam cobradas as propostas a serem concretizadas, que se apresentem as lideranças como forças vivas de colaboração efetiva. A alusão ao serviço voluntário é um parâmetro feliz para colaborar e não permanecer apenas nas críticas estéreis. Não há rico que não deva receber nem pobre que não deva doar. Essa maturidade doravante deve ser cobrada firmemente. Não podemos estancar a marcha da história.
As urnas revelam um valor que vai além do confronto entre vencedores e vencidos. Se a disputa pelo poder político sofre tensões inexoráveis e se as paixões político-partidárias são inevitáveis, o processo educativo que consagra a democracia participativa é a salvaguarda dos valores do Estado, da cidade e dos cidadãos.
+ Dom Aldo Pagotto
Arcebispo da Paraíba
De: Site da Arquidiocese da Paraíba
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